Ministro do STF Alexandre de Moraes quebrou sigilo de vídeos do circuito interno do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro

A divulgação da íntegra dos vídeos gravados pelo sistema de câmeras do Palácio do Planalto no 8 de janeiro — determinada na sexta-feira pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal —, livrará o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Marco Edson Gonçalves Dias de qualquer suspeita. A afirmação é do ministro interino GSI, Ricardo Cappelli. Após divulgação das imagens editadas na quarta-feira pela CNN Brasil, o general Gonçalves Dias pediu demissão.

— O general Gonçalves Dias é um servidor com décadas de serviços prestados ao Estado brasileiro. Agora é muito importante que as pessoas vejam as imagens sem os cortes, sem a edição, porque foram feitos cortes com claro intuito de atingir o governo e o general. 

Com a liberação das imagens vai ficar demonstrado que não há qualquer possibilidade de ilação com relação à conduta do general, que, inclusive, de forma muito honrosa, fez questão de se afastar das suas funções para que não houvesse dúvida sobre a lisura da conduta dele – afirmou.

Segundo o ministro interino, o GSI vinha tratando as imagens como sigilosas porque elas integram o inquérito sob sigilo do STF que investiga as responsabilidades pelos atos golpistas. Cappelli informou que a decisão de Moraes foi em resposta a uma consulta feita por ele sobre a possibilidade de divulgar as imagens na íntegra, para atender a requerimentos feitos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Na decisão, Moraes afirmou que "inexiste sigilo das imagens" e que a situação atual não configura uma exceção aos princípios de publicidade e transparência. E ordenou que "todo material existente" do circuito de câmeras do Planalto no dia dos atos seja enviado ao STF em até 48 horas.

O ex-ministro Gonçalves Dias prestou depoimento ontem à Polícia Federal por cerca de cinco horas. À PF, ele negou omissão e disse que estava retirando extremistas de um setor do Palácio do Planalto, mas não efetuou prisões, porque estava fazendo "gerenciamento de crise".

"Que indagado porque, no 3° e 4° pisos, conduziu as pessoas e não efetuou pessoalmente a prisão, respondeu que estava fazendo um gerenciamento de crise e essas pessoas seriam presas pelos agentes de segurança no 2° piso tão logo descessem, pois esse era o protocolo", registrou a PF durante o depoimento de Dias, que durou cerca de cinco horas.

O ex-ministro explicou também que, sozinho, não teria conseguido prender os extremistas.

"Que o declarante não tinha condições materiais de, sozinho, efetuar prisão das 3 pessoas ou mais que encontrou no 3° e 4° andares, sendo que um dos invasores encontrava-se altamente exaltado", relatou o general à PF.

As imagens da invasão do Palácio do Planalto mostram também agentes do GSI conversando com os golpistas. Um deles, o major José Eduardo Natale, oferece água aos extremistas. No depoimento, o ex-ministro afirmou ainda que, se tivesse visto a cena, teria prendido o militar.

"Que indagado a respeito de o major José Eduardo Natale de Paula Pereira haver entregue uma garrafa de água a um dos invasores; que deve ser analisado pelas circunstâncias do momento os motivos do major, mas que, se tivesse presenciado, o teria prendido", disse.


Fonte: O GLOBO