Oposição fez campanha pela abstenção, diante da impossibilidade de concorrer com os candidatos favoráveis ao governo e ao Partido Comunista

Pouco mais de 5,7 milhões de cubanos foram às urnas no domingo para votar nas eleições municipais, o que corresponde a uma participação de 68,58%, o percentual mais baixo desde 1976, quando o sistema eleitoral entrou em vigor. Nas eleições municipais de 2017, as últimas realizadas, a participação foi de 89,02%.

Os números definitivos só devem ser anunciados na terça-feira. No total, 11.502 delegados, o equivalente a vereadores, foram eleitos no domingo. Outros 925 cargos, totalizando 12.427 delegados, irão para um segundo turno no próximo domingo, já que nenhum dos candidatos obteve mais de 50% dos votos.

Em entrevista coletiva transmitida pela TV, a presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Alina Belseiro, afirmou, com base em números preliminares, que "os resultados mostram o apoio do nosso povo aos seus representantes populares e a confiança em sua revolução".

A oposição fez campanha pela abstenção diante da impossibilidade de concorrer contra os candidatos favoráveis ao governo e ao Partido Comunista de Cuba (PCC). Apesar de não concorrer diretamente no pleito, o PCC supervisiona as eleições.

Os eleitores mostraram-se relutantes em participar apesar do adiamento de uma hora no encerramento das urnas, inicialmente previsto para as 18h, "a pedido dos conselhos eleitorais de vários territórios e dos próprios eleitores", de acordo com o CNE.

O número de abstenção também ultrapassa os 26% registados no referendo sobre o Código das Famílias, que legalizou o casamento gay, em setembro. À época, o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, disse que a baixa participação era um “voto de punição” pelas consequências econômicas da pandemia.

— Esse exercício é da responsabilidade do cidadão porque estamos elegendo os nossos representantes nos órgãos municipais, a principal estrutura governamental do país — disse Díaz-Canel, após votar domingo em Havana. — Está em linha com o trabalho dos últimos anos para aperfeiçoar a democracia socialista.

Analistas apontam os números de comparecimento ao cansaço de uma certa parte da população após dois anos de grave crise econômica e energética, à falta de informação sobre o pleito — graças à ausência de uma campanha eleitoral — e aos apelos da oposição, dentro e fora da ilha, a não votar.

No total, foram 89,11% de votos válidos, 5,22% em branco e 5,07% anulados. As cédulas em branco, ou com palavras de ordem contra o governo, que são anuladas, são outra tática usada pela oposição.

As eleições iniciam um processo eleitoral que continuará com a renovação do Parlamento e culminará nas eleições presidenciais de 2023. Os vereadores formarão os governos municipais e proporão, em 2023, 50% dos candidatos ao Parlamento nacional. A outra metade será proposta por uma comissão composta por organizações sociais próximas ao governo.

O Parlamento vai propor, por sua vez, as candidaturas para integrar o Conselho de Estado e para a Presidência. Em Cuba, o mandato é de cinco anos, com possibilidade de uma reeleição.


Fonte: O GLOBO