Venezuela argumenta que advogada fez parte de uma conspiração militar e praticou ações terroristas; defensora dos direitos humanos, ela é a principal presa política do país

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, justificou nesta segunda-feira as ações judiciais tomadas contra a advogada Rocío San Miguel, a principal presa política do país e diretora da ONG Controle Cidadão. Saab acusou San Miguel de realizar atividades de espionagem, usar informações estratégicas do Estado venezuelano e fazer parte de uma conspiração militar descoberta pelas autoridades.

A detenção e subsequente judicialização de San Miguel e sua família — sua filha, dois de seus irmãos, seu parceiro e um associado — têm causado estupor, medo e indignação em muitos venezuelanos. Nesta terça-feira está marcada uma manifestação na área de La Castellana, a leste de Caracas, perto da Embaixada da Espanha, para exigir sua libertação. San Miguel é uma venezuelana com ascendência espanhola.

— É delicado ter uma ONG como fachada para aqueles que praticam ações terroristas — disse Saab, aparentemente em resposta às críticas. — O que aconteceria nos Estados Unidos, na Espanha, se uma situação desse tipo fosse descoberta? — acrescentou.

Saab ainda afirmou que seu escritório tem “elementos de convicção suficientes” para afirmar que San Miguel tinha pleno conhecimento de um movimento militar que planejava tomar quartéis nas áreas andinas do estado de Táchira e assassinar Freddy Bernal, conhecido militante chavista e atual governador do território. Ele disse que a advogada “agia como espiã (...) para planejar ações contra o Estado venezuelano”.

Controle Cidadão, a ONG dirigida por San Miguel, tem sido há anos um instrumento para interpretar a situação interna das Forças Armadas, suas operações e suas prioridades. Suas análises, amplamente utilizadas no debate nacional, têm contado com o respeito da maioria do país. O trabalho da advogada, assim como o de muitos jornalistas, tornou-se ao longo dos anos uma atividade cada vez mais arriscada.

O procurador acrescentou que com San Miguel foram apreendidos mapas de instalações militares no país, com suas respectivas zonas de segurança, e afirmou que todo o material fazia parte de informações “que são reservadas ao Estado venezuelano”. Ele também afirmou que a ativista tinha perfis dos comandantes militares atuais do país, e que entregou essas informações “a um embaixador europeu” em Caracas.

Saab criticou as vozes que denunciaram a existência de um desaparecimento forçado no caso de sua detenção — acusação que ele qualificou como “uma ofensa e zombaria” —, e acrescentou que neste fim de semana os familiares da advogada foram visitá-la. Advogado de defesa de San Miguel, Joel García confirmou a visita, mas ressaltou que ela permaneceu “vários dias incomunicável”.

— A filha [de San Miguel] pôde constatar que a mãe, apesar da injusta privação de sua liberdade, está fortalecida e muito confiante em sua inocência, segura de que não há nada que a comprometa nos crimes dos quais é acusada — disse García.


Fonte: O GLOBO