Medida tem o potencial de afetar as relações entre os dois Estados, e implicações podem incluir questões diplomáticas, políticas e econômicas

O embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, foi chamado de volta ao Brasil pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta segunda-feira. A medida foi tomada após autoridades israelenses terem convocado Meyer para uma reunião no Museu do Holocausto. No local, ele foi repreendido pela declaração do petista, que comparou os ataques israelenses em Gaza ao Holocausto.

No rito diplomático, a medida tem o potencial de afetar significativamente as relações entre os dois países envolvidos, com implicações que vão desde questões diplomáticas a políticas e econômicas. Em primeiro lugar, chamar de volta o embaixador de um país pode levar a uma redução no nível de comunicação e cooperação diplomática. Isso pode incluir a suspensão de diálogos bilaterais, reuniões de alto nível e negociações diplomáticas.

Em casos mais sérios, a medida pode ser seguida pela expulsão de diplomatas do país anfitrião (ou seja, o que recebe o embaixador). Esta medida pode acontecer como forma de retaliação ou para enviar um sinal de descontentamento mais forte. Em resposta a ações consideradas inaceitáveis pelo país de origem, a chamada de volta de um embaixador também pode ser seguida pela imposição de sanções econômicas, comerciais ou políticas.

É possível que haja restrições comerciais, congelamento de ativos ou proibições de viagens para indivíduos específicos. Em casos mais extremos, a decisão ainda pode levar a uma escalada das tensões entre os dois países, aumentando o risco de conflito ou hostilidades. Isso pode acontecer se uma série de medidas retaliatórias forem tomadas em resposta à chamada de volta do embaixador.

Entenda a crise diplomática

No último domingo, Lula comparou as mortes no enclave palestino ao Holocausto. As declarações do presidente, que também classificou como “genocídio” a guerra em Gaza, foram feitas em entrevista a jornalistas na Etiópia. No sábado, Lula discursou na sessão de abertura da cúpula da União Africana, e teve reuniões bilaterais com líderes do continente, além do primeiro-ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh. No encontro, ele criticou Israel e o Hamas.

O presidente comparou Gaza com o Holocausto no momento em que criticava países ricos que suspenderam o financiamento à agência da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, na sigla em inglês), após a denúncia do governo israelense de que funcionários do órgão haviam participado do ataque terrorista do Hamas a Israel em outubro do ano passado.

— Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para a questão humanitária aos palestinos, fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio — disse Lula. — Não é uma guerra entre soldados. É uma guerra entre um Exército altamente preparado e mulheres e crianças.

Lula afirmou que, “se houve algum erro nessa instituição, apura-se quem errou, mas não suspenda a ajuda humanitária para um povo que está há décadas tentando construir o seu Estado”. Ele anunciou que o Brasil fará um “novo aporte de recursos” para a UNRWA, mas não detalhou valores “porque não é o presidente quem decide”. Após a série de declarações, o governo israelense anunciou que iria repreender o embaixador brasileiro no país, e o petista foi declarado persona non grata em Israel.


Fonte: O GLOBO