Defesa de Amarildo da Costa Oliveira, Oseney Costa de Oliveira e Jeferson da Silva Lima, que estão em presídios federais, afirmou que vai recorrer da decisão

A Justiça Federal decidiu levar três a júri popular os três acusados pelos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, ocorridos em junho do ano passado. As defesas de Amarildo da Costa Oliveira, Oseney Costa de Oliveira e Jeferson da Silva Lima, que estão em presídios federais de Catanduvas (PR) e de Campo Grande, afirmaram que vão recorrer da decisão. 

A ordem foi publicada nesta segunda-feira e é assinada pelo juiz federal Weldeson Pereira, da Comarca de Tabatinga, que manteve a prisão dos três, destacando que “não há motivo para colocação dos réus em liberdade [...] justamente quando são pronunciados, afigura-se ainda mais necessária a manutenção da custódia cautelar”.

Apontado como mandante do crime pela Polícia Federal, Ruben Dario da Silva Villar, o Colômbia, será julgado em processo separado. Ele também teria ordenado o assassinato de um colaborador da Funai, Maxciel Pereira dos Santos, em 2019.

O indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram mortos em junho do ano passado, nas proximidades da Terra Indígena do Vale do Javari, no Amazonas.

Ao GLOBO, Eliésio Marubo, procurador jurídico da Univaja, afirmou que a decisão "reforça, mais uma vez, que a decisão já era esperada, tendo em vista a condução do processo".

"Confiamos na Justiça e nas instituições do Brasil que estão envolvidas na resolução do caso. Aguardamos a continuidade das investigações e pedimos que a justiça seja feita", disse Marubo.

Relembre o caso

Bruno e Dom foram assassinados a tiros quando voltavam de uma viagem pelo rio Itacoaí, no dia 5 de junho, após uma emboscada. Colômbia estava preso por conta de outro mandado de prisão, este por associação armada ligada a crimes ambientais, onde se investiga a sua relação com o crime brutal e a liderança de uma organização criminosa que usa a pesca ilegal na região para lavar dinheiro do narcotráfico na tríplice fronteira do Brasil com a Colômbia e o Peru.

O desaparecimento da dupla foi revelado pelo GLOBO e confirmado pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), região com a maior concentração de povos indígenas isolados do mundo, no dia 6 de junho. Bruno, que acompanhava o jornalista britânico, era alvo constante de ameaças pelo trabalho que vinha fazendo junto aos indígenas contra invasores na região, pescadores, garimpeiros e madeireiros.

A PF também investiga se um esquema de lavagem de dinheiro para o narcotráfico por meio da venda de peixes e animais pode estar relacionado ao desaparecimento da dupla.

O GLOBO apurou que apreensões de peixes que seriam usados no esquema foram feitas recentemente por Bruno Pereira, que acompanhava indígenas da Equipe de Vigilância da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). As embarcações levavam toneladas de pirarucus, peixe mais valioso no mercado local e exportado para vários países, e de tracajás, espécie de tartaruga considerada uma especiaria e oferecida em restaurante sofisticados dentro e fora do país.

A ação de Bruno e da EVU contrariou o interesse de "Colômbia", que tem dupla nacionalidade brasileira e peruana. De acordo com a denúncia feita pelos indígenas, ele usa a venda dos animais para lavar o dinheiro do narcotráfico que atua no Peru e na Colômbia, que fazem fronteira com a região do Vale do Javari.


Fonte: O GLOBO