Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, era gerida à época por Washington Reis, irmão de deputado que foi alvo de busca e apreensão da PF

Segundo a Polícia Federal (PF), o responsável por inserir dados falsos relativos à vacinação contra a Covid-19 nos nomes do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de sua filha Laura, de seu então ajudante de ordens Mauro Cid e de familiares de Cid foi o secretário municipal de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha. 

Além disso, de acordo com a investigação, o deputado federal Gutemberg Reis — irmão do ex-prefeito da cidade na Baixada Fluminense, Washington Reis, e também alvo da operação desta quarta-feira (03) — teria sido um dos beneficiados pelo esquema criminoso.

Desde o início da pandemia, sob a gestão de Washington Reis, o município lidou de forma negacionista com o combate à Covid-19, quase precisando de uma intervenção estadual na Saúde. Mesmo assim, o então prefeito chegou a emplacar o próprio nome como candidato a vice na chapa do governador Cláudio Castro, mas teve a aspiração barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Relembre polêmicas em Caxias durante a pandemia

  • Decreto restringindo funcionamento do comércio e de ações e eventos públicos tardio

Com mais de 900 mil habitantes, Duque de Caxias registrou a primeira morte por Covid-19 em 31 de março de 2020. E foi apenas naquele dia que o então prefeito Washington Reis (MDB) assinou um decreto restringindo o funcionamento do comércio e de ações e eventos públicos. Com isso, Caxias foi a última cidade da Baixada a tomar medidas contra a proliferação da doença.

Na época, o prefeito enfrentou críticas nas redes sociais pela sua postura de postergar o fechamento do comércio e causou polêmica ao afirmar em um vídeo que as igrejas da cidade permaneceriam abertas: "A cura virá de lá", disse. Em novembro de 2020, Caxias chegou a ser a segunda cidade do estado com mais mortes causadas pela Covid.

  • Fim da obrigatoriedade do uso de máscaras

Em outubro de 2021, a Justiça precisou intervir e suspendeu um decreto assinado pelo prefeito que desobrigava o uso de máscaras faciais no município. Pela decisão, foram anulados os efeitos do decreto assinado por Reis até que o município apresentasse um relatório técnico embasado em evidências científicas e em análises sobre as informações da cobertura vacinal, principalmente entre os grupos prioritários.

A 3ª Vara Cível do município determinou ainda que fossem apresentadas "estratégias em saúde, vigilância sanitária, mobilidade urbana, segurança pública e assistência social". Como argumento para flexibilizar a utilização do equipamento, a prefeitura afirmou que já havia atingido todas as faixas etárias da vacinação e que os indicadores de contaminação da doença estavam em queda.

  • Abertura do comércio impedida

Aquela não foi a primeira vez em que a Justiça acabou bloqueando decisões da Prefeitura de Duque de Caxias. No fim de junho de 2020, o Tribunal de Justiça do Rio determinou a suspensão de um decreto municipal que permitia a reabertura do comércio. 

O município havia autorizado o funcionamento desse tipo de estabelecimento no dia 8 de junho, seguindo decreto estadual. A prefeitura da cidade já havia tentado reabrir o comércio em maio daquele ano o comércio, mas também foi impedida pela Justiça na ocasião.

Na primeira tentativa, o então prefeito disse que determinou o retorno "com base no dia a dia". Mas, de acordo com dados da Secretaria estadual do Rio (SES) à época, Caxias era a segunda cidade com mais mortes no estado, atrás apenas da capital. Em relação ao número de casos, o município ocupava a quarta colocação no Rio.

  • Vacinação no isopor

Em fevereiro de 2021, ainda no início do processo de vacinação, o então secretário de Saúde da cidade, José Carlos de Oliveira, foi filmado aplicando doses na rua, ao lado de um homem com um isopor e, segundo o autor do vídeo, sem qualquer controle de imunizados ou respeito a protocolos sanitários. Duas semanas depois, o médico deixou a pasta e, em carta aberta, alegou estar na hora de "buscar novos desafios".

Além disso, ao anunciar o início das vacinações, Washington Reis recebeu como recomendação do Ministério Público que desse prioridade às idades mais elevadas e disse em pronunciamento: "Quem é ela para dizer o que tenho que fazer com a cidade?", referindo-se à promotora que elaborou a orientação.

  • Filas quilométricas

No início de março de 2021, Caxias tinha apenas nove postos de vacinação e, mesmo assim, estendeu a faixa etária para qualquer pessoa com 60 anos ou mais (o Rio de Janeiro, por exemplo, ainda vacinava idosos de 78 anos) e não exigia comprovante de residência. 

Logo, imensas filas se formaram no entorno dos centros de vacinação. Para o drive-thru, a espera era de sete quilômetros e ultrapassava os limites do município. Caxias tinha à época uma população estimada de 86 mil habitantes acima de 60 anos, segundo o IBGE, mas a prefeitura só havia disponibilizado 6.100 doses, o suficiente para 7% do grupo.

  • Bens bloqueados

Em de maio de 2021, a Justiça do RJ chegou a bloquear R$ 2,45 milhões de bens do prefeito por suspeita de irregularidades na campanha de vacinação. A ação foi movida devido ao fato de que o prefeito se recusava a obedecer ao Plano Nacional de Vacinação (PNI) e às decisões judiciais que determinaram o respeito aos grupos prioritários, como os idosos.


Fonte: O GLOBO