Relatório apresentado pelo ministro interino da pasta, Ricardo Cappeli, propõe ainda a criação de uma estrutura dedicada à proteção contra crimes cibernéticos

Horas antes da posse do novo ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Marcos Antonio Amaro dos Santos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu um diagnóstico sobre a situação do ministério. 

A conclusão do levantamento, apresentado a Lula pelo ministro interino Ricardo Cappelli, sugere uma estrutura única de comando para agências de inteligência do governo e um comando centralizado para a segurança presidencial, além da criação de uma agência de segurança cibernética que se reporte diretamente a Presidência da República.

A conversa, no Palácio do Planalto, foi a primeira reunião de trabalho do futuro chefe do GSI, general Amaro, convidado para o cargo nesta quarta-feira. A reunião também teve a presença ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.

Após as invasões de 8 de janeiro, Lula chegou a dizer que a inteligência do governo "não existiu" naquela data. O levantamento de Cappelli aponta que o governo tem uma série de agências de inteligência dispersas, no Exército, na Marinha, na Força Aérea, na Polícia Federal, além da própria Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sem que haja comando único de inteligência do país. 

O relatório alerta que essa fragmentação impede que o presidente da República tenha uma unidade de acesso a informações estratégicas. Atualmente, a Abin não tem atribuição de comando para articular informações sensíveis de outras agências de inteligência do governo.

O relatório mostra também que a segurança Lula e de Geraldo Alckmin está fragmentada, sem uma unidade única de comando, e classifica que a proteção presidencial vem sendo feita em camadas. A segurança aproximada cabe a uma secretaria que se reporta ao gabinete do presidente da República e é comandada pelo delegado Alexsander Oliveira, enquanto a segurança do entorno do presidente, de eventos e do Palácio do Planalto é atribuição do GSI. 

A consideração feita pelo diagnóstico é de que é preciso unificar as duas áreas. De acordo com presentes na reunião, Lula concordou com a sugestão.

No início do governo, devido a desconfiança de Lula com militares, a segurança de Lula e Alckmin ficou subordinada à Secretaria Extraordinária de Segurança Aproximada da Presidência, sob comando da Polícia Federal. Agora, Lula discutirá com general Amaro qual será o novo formato da sua segurança pessoal. 

O diagnóstico aponta ainda que a maior parte dos países desenvolvidos possuem agências de segurança cibernética específicas ligadas diretamente à Presidência da República, o que não ocorre no Brasil. Dentro do seu escopo, o GSI possui a Secretaria de Segurança da Informação e Cibernética.

— Não dei opinião sobre quem deve fazer o que. Passei informações sobre modelos mais adequados. A decisão é do presidente — disse Cappelli ao GLOBO.

No período em que esteve à frente do GSI, Cappelli liderou uma "oxigenação" do órgão, com a exoneração de 87 servidores, a maioria deles militares, tirando todos os nomes que estavam em postos de comando no ministério, alguns deles ainda indicados pelo ex-ministro General Heleno, um dos mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Todas as demissões de militares do Exército foram previamente comunicadas ao comandante da Força, general Tomás Paiva, com o objetivo de que as movimentações ocorressem o mínimo de ruído possível junto as Forças Armadas. 

Nas duas semanas em que esteve à frente do GSI, Cappelli não fez nenhuma nomeação. As escolhas dos substitutos caberão ao general Amaro, que tomará posse do cargo na manhã desta quinta-feira, quando Cappelli retorna à Secretaria-Executiva do Ministério da Justiça.


Fonte: O GLOBO