Bahia e Pernambuco, onde a informalidade é grande, têm as maiores taxas. Renda média só avança no Nordeste

O desemprego voltou a crescer no primeiro trimestre de 2023 e agora atinge 8,8% da população brasileira, um aumento de 0,9 ponto percentual em comparação ao último trimestre do ano passado. O dado consta na última atualização da PNAD Contínua Trimestral, divulgada nesta quinta pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O crescimento da taxa de desocupação foi puxado pelo Distrito Federal e mais quinze estados. Bahia e Pernambuco, onde a informalidade é alta, apresentam as taxas mais elevadas, com cerca de 14% da força de trabalho desempregada.

O IBGE explica que esse aumento no desemprego concentrado no início do ano é esperado, por conta do desligamento dos trabalhadores temporários, contratados para preencher vagas no final de 2022.

Além disso, na avaliação da professora de Economia do Insper, Juliana Inhasz a queda na taxa de desemprego também acontece porque o Brasil não tem uma economia produtiva, com investimento em tecnologia para impulsionar o crescimento.

— A gente não está investindo no que faria a economia se tornar mais produtiva, mas aumentando o trabalho para levar ao aumento no produto. O desemprego de longo prazo tem caído e isso é um pouco natural quando vemos que não tem acontecido investimento.

Desemprego de longo prazo despenca

Houve ainda uma redução significativa no contingente de brasileiros que procuram trabalho há dois anos ou mais. Agora são apenas 2,2 milhões de desempregados de longo prazo, uma queda de 35,5% em relação aos 3,5 milhões no final de 2022. Celso Grassi, professor FIA Business School, afirma que esse número, no entanto, ainda é muito alto.

— O quantitativo de pessoas em busca de trabalho há tanto tempo é um reflexo da oferta de empregos reduzida e muito seletiva, atendendo apenas a quem é mais qualificado.

No comparativo com o mesmo período do ano passado, o que garante mais confiabilidade nos dados por extinguir efeitos sazonais, houve queda no contingente de desempregados entre todas as faixas de tempo de procura por trabalho. Inhasz, do Insper, diz que dois fatores explicam essa queda acentuada do desemprego no período de um ano, de forma tão generalizada.

Primeiro porque, entre o primeiro trimestre de 2022 e o primeiro trimestre de 2023, a economia voltou a ter o dinamismo que tinha antes da pandemia. No início do ano passado, ainda havia setores atuando em capacidade produtiva inferior à sua potencialidade.

— Em 2022, ainda trazíamos marcas e efeitos da pandemia, o que fazia com que parte do setor de serviços não fosse reativada. Uma parte da redução do desemprego tem a ver com essa volta da economia, que vem se solidificando desde o ano passado — explicou.

Mas há também o aumento do desalento, a parcela da população que começa a deixar o mercado de trabalho. O percentual de desalentados (frente à população na força de trabalho ou desalentada) no primeiro trimestre de 2023 foi de 3,5%.

Rendimento alto no Nordeste

O rendimento médio mensal do brasileiro se manteve estável no período, na casa de R$ 2.880,00. Mas, em relação ao 4º trimestre de 2022, o Nordeste foi a única região com alta significativa na renda — chegando a R$ 1.979,00 — enquanto as demais permaneceram no mesmo patamar.

Embora a média do rendimento tenha aumentado no Nordeste, comparada à média nacional, ela continua mais baixa. Muito provavelmente o que acontece, segundo Inhasz, é efeito da saída de trabalhadores temporários do mercado de trabalho. No geral, eles têm renda mais baixa.

— Isso sobe a média. Essa taxa de desocupação mais alta no Nordeste faz com que os salários no Nordeste sejam mais baixos. Por isso, as pessoas aceitam salários mais baixos no final de ano para ter algum rendimento.

Informalidade

O total de trabalhadores com carteira assinada no setor privado se manteve em estabilidade, ou seja, o aumento registrado no desemprego está concentrado entre os informais. A taxa de informalidade chega a 39% da população ocupada em março ou cerca de 38 milhões de pessoas.

Houve aumento no indicador em relação ao trimestre anterior, quando o total chegava a 38,8%. Já no comparativo com o mesmo período do ano anterior, foi registrada queda, já que o indicador estava em 40,1%.

Além disso, cresceu também o contingente de pessoas fora da força de trabalho, ou seja, quem está desempregado e não busca recolocação profissional. São 67 milhões de pessoas no primeiro trimestre de 2023, um incremento de 1,1 milhão de brasileiros em relação ao final do ano passado. Olhando para o mesmo período do ano passado, o crescimento está na casa de 1,5 milhão.

A taxa de subutilização também subiu, mas pouco: 0,4% em relação ao último trimestre de 2020. Na comparação anual, no entanto, houve aumento de 4,3%.

Rendimento das mulheres cresceu

Considerando a taxa de desemprego por gênero, as mulheres continuam em desvantagem: enquanto 7,2% dos homens se encontram desocupados, esse percentual chega a 10,8% no caso das mulheres.

No entanto, as mulheres viram sua renda aumentar um pouco no período, enquanto os homens perderam salário. Agora, o rendimento das mulheres representa 79,5% do rendimento dos homens, ante uma proporção de 77,7% no trimestre anterior.

Outra diferença significativa quanto ao desemprego aparece ao comparar as taxas de ocupação entre negros e brancos. O desemprego está em 11,3% entre pessoas negras, 10,1% entre pardos e 6,8% entre brancos.


Fonte: O GLOBO