Saída mais provável para o conflito é um cessar-fogo, seguido de armistício, como ocorreu com as duas Coreias, em 1950

O presidente Lula erra ao dizer que a Ucrânia, uma nação invadida, tem culpa pela guerra assim como a Rússia, a nação invasora. O responsável pelo conflito no território ucraniano é o regime de Vladimir Putin ao decidir invadir um país vizinho. 

Chega a ser a ofensiva a declaração do chefe de Estado do Brasil fazendo uma falsa equivalência entre os dois lados. Todos os países do planeta têm o direito de defender a sua integridade territorial. A Ucrânia não é diferente. Tampouco o líder brasileiro precisa ficar insistindo em críticas aos Estados Unidos e, em menor escala, aos europeus. Não há benefício nenhum em adotar esse discurso.

O Brasil não precisa impor sanções à Rússia e tampouco armar a Ucrânia. Seria um posicionamento normal e similar ao de todos os países da América Latina, Caribe, África, Oriente Médio e de quase todo o restante da Ásia. Cada país deve defender seus próprios interesses e o histórico de política externa brasileira realmente é o de não envolvimento em conflitos. O Brasil não se envolve na Guerra da Ucrânia assim como não se envolve no conflito entre a Armênia e Azerbaijão.

A insistência em pedir paz já irrita outras nações porque dá a entender que elas preferem guerra. Além disso, como tenho escrito aqui continuamente, não haverá paz entre Rússia e Ucrânia. Está completamente descartada esta possibilidade. Se fosse simples negociar acordos de paz, não haveria mais conflito entre israelenses e palestinos. 

A resolução da guerra, no longo prazo, entre Rússia e Ucrânia será através de um cessar-fogo, seguido de um armistício da mesma forma que ocorreu nas Coreias nos anos 1950, no Chipre e nas Colinas do Golã há cerca de cinco décadas. Os confrontos armados cessarão. Mas em nenhum desses casos houve um acordo de paz posteriormente, ainda que cipriotas tenham chegado perto algumas vezes.

Para ficar claro, essa resolução do conflito entre russos e ucranianos não será justa. Afinal a Rússia seguirá ocupando ilegalmente território da Ucrânia. Mas o mundo é repleto de injustiças. Mais uma vez, basta citar o Chipre, onde a Turquia, integrante da OTAN, ocupa dois terços do território, ou como o mundo se cala para os ataques do Azerbaijão à Armênia.

Lula deveria se concentrar em temas onde o mundo quer sua liderança, como questões ambientais ou geopolíticas ligadas ao hemisfério ocidental, como as crises na Venezuela, Nicarágua, El Salvador e Haiti. No caso da Ucrânia, o presidente brasileiro tem seguido uma linha equivocada.


Fonte: O GLOBO