Pesquisa da SOS Mata Atlântica mostra qualidade regular na maioria deles e Rio Pinheiros, em São Paulo, tem três pontos com índice 'péssimo'

Pesquisa realizada pela ONG SOS Mata Atlântica mostra que apenas 11 pontos de coleta em 120 rios e corpos d'água do bioma têm água de boa qualidade. Isso equivale a 6,9% dos 160 pontos de coleta em 16 estados. 

A imensa maioria, 120 (74%) pontos, apresenta qualidade regular; em 26 (16,2%) está ruim e em três, a situação é péssima. Nenhum ponto registrou água de ótima qualidade durante a pesquisa, feita entre janeiro a dezembro de 2022 por grupos voluntários.

Os três pontos com qualidade péssima estão no Rio Pinheiros, em São Paulo. Em setembro do ano passado, a Cetesb, agência ambiental do governo estadual, informou que o rio atingiu recorde de melhoria da qualidade de água, desde 1970, no trecho da Usina Elevatória de Pedreira, já na beira da Represa Billings, um dos mais importantes reservatórios de abastecimento da capital paulista. 

O ex-governador Joao Doria, que iniciou um trabalho de saneamento básico para impedir que o esgoto chegue ao rio, incluindo retirada permanente de lixo e manutenção, havia prometido entregar o Pinheiros despoluído no fim de 2022. Mas embora o mau cheiro tenha diminuído e peixes avistados em alguns locais, os 25 km do rio ainda não alcançaram a meta anunciada.

-- Há uma diferença enorme entre o rio estar melhorando e estar bom. Antes não se podia nem chegar perto do rio, pois, além do mau cheiro, o gás sulfídrico exalado irritava o olho, a garganta e causava dor de cabeça. É um rio que não se movimenta, não tem oxigenação natural -- afirma Gustavo Veronesi, da Fundação SOS Mata Atlântica.

A dificuldade em se despoluir o Pinheiros serve como alerta para outros rios da Mata Atlântica que têm trechos com água ruim ou regular. Um deles é o Paraíba do Sul. Em dois pontos de medição, ainda em São Paulo, na altura de Aparecida e Guaratinguetá, a qualidade é regular. No trecho de Itaocara, no entanto, no noroeste fluminense, é ruim. 

Não há outros trechos de aferição da água pelo projeto da SOS Mata Atlântica mais próximos da transposição para o sistema Guandu, de onde as águas do Paraíba do Sul seguem para abastecer a cidade do Rio de Janeiro.

Para Veronesi, a pesquisa chama atenção para a necessidade de governos e da sociedade civil se organizarem para cuidar das águas do bioma, o que significa, além de ampliar o tratamento de esgoto, aumentar a vegetação à beira de córregos e nascentes. Com períodos mais longos de seca, previstos por conta da crise climática, a tendência é piorar não só a quantidade, mas também a qualidade das águas.

Em Itaocara, por exemplo, ele acredita que a qualidade da água tenha piorado devido ao período de estiagem. Com pouca chuva, a tendência é a concentração de esgoto e a poluição aumentarem.

-- O projeto de despoluir um rio não é de um mandato. A natureza leva muito mais tempo do que isso e precisamos de ações permanentes, com manutenção inclusive nas áreas onde melhoras forem alcançadas -- diz ele.

São Paulo também apresenta trechos com qualidade de água ruim nos rios Tietê e Ipiranga. Em São Sebastião, no Litoral Norte, dois rios receberam a classificação ruim -- Maresias e Boiçucanga. Outros seis pontos no estado estão em rios menores ou córregos.

No Rio Grande do Sul, as piores situações, com classificação ruim, são as dos arroios Portão, Nhoque e Feitoria. No Espírito Santo, no Rio Aribiri e na Lagoa do Aviso. No Paraná, no Rio Cambuí. No Ceará, na Lagoa Parangaba. Na Bahia, no Rio Catu.

Apesar da importância da Mata Atlântica, bioma que concentra 72% da população brasileira, restam apenas 8,5% de remanescentes florestais originais acima de 100 hectares. Se forem somados fragmentos e áreas de regeneração, com florestas jovens, o percentual pode alcançar 24%, segundo dados do MapBiomas.

Veronesi afirma ainda ser essencial a visibilidade dos rios. Ele cita como exemplo o Rio Carioca, que nomeia a população do Rio, inclusive. Ele tem menos de 5 Km, nasce na Floresta da Tijuca e deságua na Baía de Guanabara, no Flamengo, mas só é visível na nascente, na foz e num pequeno trecho no Cosme Velho. No restante de seu trajeto ele corre subterrâneo.


Fonte: O GLOBO