Peruano dissolveu Congresso e decretou toque de recolher nesta quarta; imprensa do país andino relata que dirigente foi preso

Acusado de promover um golpe de Estado após dissolver o Congresso do Peru e decretar um “governo de exceção” nesta quarta-feira (7), o líder peruano Pedro Castillo relatou no mês passado ter sido convidado diretamente por Lula para a posse do presidente eleito, em Brasília.

A dissolução do Parlamento foi denunciada como golpe pelo presidente do Tribunal Constitucional, equivalente ao STF no Brasil, pelo ex-presidente esquerdista Ollanta Humala e pela atual vice-presidente Dina Boluarte. Segundo a imprensa peruana, Castillo foi preso após a manobra golpista.

O presidente peruano, que também é sindicalista, conversou por telefone com Lula há um mês, quando relatou no Twitter ter parabenizado o petista por sua vitória no segundo turno e pelo seu “propósito de fortalecer a democracia”. Foi quando revelou ter sido convidado para a posse em Brasília.

Os convites formais são feitos pelo Itamaraty, que os encaminha às Embaixadas de todos os países com relações diplomáticas com o Brasil, em nome de seus respectivos chefes de Estado.

Na coletiva de imprensa convocada pelo gabinete de transição para tratar da posse presidencial, o chefe do cerimonial, embaixador Fernando Igreja, não listou o Peru entre os países que já confirmaram a presença de seus chefes de Estado ou de governo.

Pelo relato de Castillo, Lula aproveitou o telefonema para convidá-lo de maneira informal, em um aceno diplomático. A eleição do sindicalista no Peru em 2021 pelo partido esquerdista Perú Libre foi celebrada pelo PT em uma nota oficial.

Nós questionamos a assessoria de imprensa do gabinete de transição se o convite ao peruano seria desfeito diante das acusações de golpismo, mas não tivemos retorno até o momento.

Caso comparecesse à posse, seria a segunda ocasião de Castillo no país - na primeira, em fevereiro, foi recebido amistosamente por Jair Bolsonaro, que posou sorridente ao seu lado.

O controverso peruano, que se notabilizou nas eleições do país andino em 2021 por posições de extrema-esquerda atreladas a teses ultraconservadoras no campo dos costumes, anunciou a dissolução do Parlamento em um pronunciamento nacional e decretou toque de recolher.

Castillo se fez valer de um artigo constitucional, o mesmo que pavimentou o autogolpe do ditador Alberto Fujimori (1990-2000). Contudo, logo após seu pronunciamento ao país, quase dez ministros de seu gabinete renunciaram aos seus cargos em repúdio à medida.

Os desdobramentos ainda são imprevisíveis, mas há chances de Castillo sequer estar à frente do Peru no próximo dia 1º. Isso porque o Congresso vota neste momento uma moção de destituição, em movimento similar ao de Martín Vizcarra, que dissolveu o Congresso em 2020, mas não teve a decisão acatada e acabou removido do cargo.

Nos últimos quatro anos, o país andino, abalado pelos escândalos de corrupção envolvendo a empreiteira Odebrecht desdobrados a partir da Operação Lava-Jato, teve cinco presidentes.


Fonte: O GLOBO