Compra de eletrodomésticos: a dona de casa Sônia Maria da Silva e o açougueiro Jairo da Silva começam a buscar uma nova geladeira de inox, depois que a antiga ficou pequena para as necessidades do dia a dia — Foto: Leo Martins / Agência O GLOBO
Com a melhora no emprego e políticas como o Desenrola, que tirou do sufoco famílias endividadas, a indústria de eletrodomésticos e aparelhos eletroportáteis está renovando o otimismo para esse fim de ano, com a aproximação da Black Friday e do Natal.
O movimento vem após vendas históricas entre janeiro e agosto deste ano, quando foram comercializadas 71 milhões de unidades, uma alta de 31,5% em relação a 2023, de acordo com dados da Eletros, a associação dos fabricantes.
De olho no pagamento do 13º salário dos trabalhadores formais, a expectativa da indústria é encerrar 2024 com avanço das vendas em torno de 15%. Para isso, diversos fabricantes, como Samsung, LG, Philips Walita, Whirlpool e Semp TCL, estão aumentando os estoques em até 50% em relação ao segundo semestre de 2023 e reforçando os investimentos em logística.
A estratégia também envolve uma ampliação das condições de parcelamento aos consumidores em parceria com as redes varejistas.
— É uma recuperação de perdas. O setor tem crescido nos últimos anos em torno de 3%, mas chegou a fechar negativo — afirma Jorge Nascimento, presidente executivo da Eletros.
Os percentuais de crescimento expressivo deste ano também são consequência da comparação com um período ruim das redes varejistas. Muitas delas passaram por crises severas nos últimos anos, como Americanas e Casas Bahia, e precisaram renegociar dívidas.
Ar-condicionado na liderança
Para Fernando Bueno, CEO da Philips Walita na América Latina, o setor está em uma crescente de vendas.
— Aumentamos nosso estoque em 50% este ano e investimos em melhorias na distribuição — revela.
Com as constantes ondas de calor, o ar-condicionado lidera com folga a alta nas vendas, com avanço de 69% entre janeiro e agosto, em relação ao mesmo período do ano passado. Em seguida, aparecem os eletroportáteis (35%), com destaque para ventiladores (123%) e purificadores de água (120%).
Na linha branca, as geladeiras avançaram 20% e os fogões, 15%. Mas as apostas dos fabricantes vão além, com novas máquinas de café, TVs conectadas de tela grande e fritadeiras elétricas maiores.
Nascimento, da Eletros, destaca o efeito do cenário macroeconômico:
— Com mais controle do orçamento pelas famílias, inflação mais baixa, distribuição de renda e políticas públicas para limpar o nome, você cria um ambiente favorável ao consumo. Mas a elevação dos juros complica, porque a maioria dos nossos produtos é vendida a prazo.
Porém, há desafios. Além de o Banco Central (BC) ter elevado a taxa básica de juros, a seca no país levou as principais empresas a anteciparem estratégias.
— Fizemos um movimento de antecipar a produção para o varejo receber os produtos antes. E foi uma estratégia acertada. Só a Black Friday responde por 35% das vendas do último trimestre. Apostando em modelos maiores de televisão e em ofertas casadas com outros produtos. Estamos prevendo tanto uma Black Friday quanto um Natal muito fortes — diz Erico Traldi, da Samsung Brasil.
Substituição de produtos
A LG também antecipou o abastecimento, informa Rodrygo Silveira, gerente de produtos da empresa.
— Esperamos uma alta de 50% no segundo semestre em relação aos primeiros seis meses — antecipa Silveira.
Casas Bahia e Ponto Frio também se preparam para melhorar as condições de pagamento já na Black Friday.
—Consumidores buscam a data para dar um upgrade nos equipamentos. É uma operação que organizamos há alguns meses. Vamos oferecer uma condição especial no crediário, para facilitar o pagamento, onde a primeira parcela vem só em janeiro — diz a gerente executiva de Marketing, Amanda Assis.
A dona de casa Sônia Maria da Silva, de 61 anos, e o açougueiro Jairo da Silva, de 49, começaram a buscar uma nova geladeira depois que a antiga ficou pequena para as necessidades do dia a dia. O casal deseja um modelo duplex de inox, que custa em torno de R$ 5 mil.
— Agora está mais tranquilo para comprar. Na pandemia, eu estava em outro emprego, ganhando menos. Agora, meu salário aumentou. Também trocamos recentemente a TV da sala e a máquina de lavar por um modelo lava e seca, mais moderno — conta Jairo.
Fabio Bentes, economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio (CNC), destaca que a concessão de crédito para o consumo de bens subiu 36% no segundo trimestre. Além disso, a inflação da indústria, ou seja, o preço que as fábricas cobram das lojas, apresentou variações negativas no acumulado de 12 meses até abril, chegando a -4,5% em fevereiro.
O gerente-geral da Whirlpool no Brasil, Gustavo Ambar, afirma que a empresa, dona de marcas como Brastemp e Consul, teve, nos primeiros seis meses de 2024, o melhor faturamento para o período nos últimos dez anos. A expectativa da companhia é encerrar o ano com alta de 10%:
— Diferentemente de outros países, os brasileiros não compram linha branca de maneira tão planejada, mas porque o produto envelheceu ou parou de funcionar. E, nesse período, o número de lares também cresceu. A soma disso tudo representa uma oportunidade de anos de mercado à frente para a indústria atender à demanda.
Este também será o primeiro fim de ano em que a TCL Semp comercializará itens da linha branca, como geladeiras. Por isso, Camila Nagamine, gerente de marketing e comunicação da empresa, afirma que a expectativa é grande. A aposta está em modelos de geladeiras com quatro a seis compartimentos e sistemas de refrigeração distintos.
Há ainda opções de ar-condicionado com a função de renovação do ar, que melhora a qualidade ao captar, tratar e filtrar o ar externo.
Eficiência com IA
A Electrolux aposta em modelos focados na eficiência energética, utilizando recursos de inteligência artificial. Segundo Ana Peretti, vice-presidente de Marketing para a América Latina, a previsão é de alta demanda por ar-condicionado durante a Black Friday e o Natal. Ela também menciona a aposta em air fryers, panelas de pressão elétricas, arrozeiras, aspiradores robôs e purificadores de ar.
Com o salto nas vendas de ventiladores, air fryers e liquidificadores, a Mondial tem investido na contratação de mais profissionais e na expansão de suas fábricas.
— Previmos no início do ano que isso aconteceria, e fizemos os investimentos. Compramos mais máquinas e já contratamos mais de 1,4 mil funcionários fixos para atender ao aumento de produção — afirma Giovanni M. Cardoso, cofundador do Grupo MK, que também é dono da AIWA.
Queridinha dos últimos anos, a air fryer deve continuar entre os produtos mais vendidos nos próximos meses. A tendência agora são as novidades que aprimoram o aparelho.
Na Whirlpool, a tecnologia de circulação de ar quente das air fryers foi incorporada a fornos e micro-ondas.
Na Mondial, a aposta para a Black Friday e o Natal é o “air oven”, que combina air fryer com forno.
Ambar, de Consul e Brastemp, afirma que a empresa apresentou 41 inovações ao mercado este ano, com foco principalmente em economia de energia, espaço, água e insumos, como no caso das lavadoras de roupas.
Fonte: O GLOBO
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