Bluesky ganhou impulso no Brasil após proibição do X e viu o português passar da 4ª para a 2ª língua mais usada — Foto: Mauro Pimentel/AFP
Um dos refúgios para os brasileiros desde a suspensão do X, no fim de agosto, o Bluesky escolheu na semana passada um representante para operar no país. O anúncio oficial da firma que irá responder pela plataforma deve ser feito nos próximos dias, enquanto a rede social tenta consolidar sua presença no Brasil.
A falta de um responsável legal foi o que levou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a ordenar o bloqueio do X. O movimento foi um catalisador para o Bluesky, que chegou a receber 2 milhões de usuários em poucos dias e ficou entre os aplicativos mais baixados no país
Até ontem, a plataforma que pretende ser uma versão “menos tóxica” do X contabilizava 10,3 milhões de usuários, número que a equipe planejava atingir somente ao fim deste ano. Os brasileiros representam cerca de um terço desse total, segundo Rose Wang, diretora de Operações do Bluesky.
Na semana passada, a rede social de Elon Musk indicou a advogada Rachel de Oliveira Villa Nova para responder pela empresa, o que poderá ser um caminho para sua liberação no Brasil.
Rose Wang, porém, avalia que a liberação do X não vai esvaziar a presença brasileira no Bluesky. A executiva aposta que o diferencial da rede, de buscar ser um ambiente mais saudável, continuará um atrativo. Ela avalia que o ambiente das redes sociais mudou, com pessoas e marcas mais distribuídas entre múltiplas plataformas.
— Marcas e criadores estão encontrando diferentes públicos em diferentes lugares. Isso está acontecendo em todo o mundo, com as pessoas interagindo de forma múltipla nas diferentes plataformas. Não é mais um mundo de única rede, e esperamos que esse comportamento continue, mesmo que o X seja “desbanido” — diz Wang. — Ainda veremos as principais marcas e usuários postando tanto no Bluesky quanto no X e no Threads.
Rose Wang, diretora de Operações da rede social Bluesky — Foto: Divulgação
‘Trending topics’ na mira
Criado em 2019 por Jack Dorsey, um dos fundadores do Twitter, o Bluesky nasceu como um projeto interno da rede social hoje controlada por Elon Musk. Em 2021, tornou-se uma plataforma independente. O objetivo é oferecer uma rede social descentralizada, na qual o usuário tivesse mais controle sobre o conteúdo que recebe. Wang diz que espera tornar a internet mais comunitária:
— Acho que há uma natureza social dos brasileiros que combina muito bem com o Bluesky — diz a executiva. — As pessoas vêm ao Bluesky para amizade, para conexão. Em vez de buscar polêmicas, procuram entretenimento. E esse é um tipo completamente diferente de plataforma que estamos tentando construir, muito mais voltada para a comunidade.
Nas últimas semanas, o Bluesky buscou se adaptar mais ao gosto local. A primeira onda de usuários brasileiros, em abril, levou à inclusão de GIFs. A leva mais recente fez a plataforma atender outra demanda dos brasileiros: vídeos. A próxima função a ser lançada deve ser o trending topics, que mostra os termos e assuntos mais comentados do momento.
— Sabemos o quanto os brasileiros amam isso. Mas às vezes não conseguimos avançar tão rápido, porque estamos garantindo que nosso serviço não caia com a chegada de milhões de usuários — diz Wang.
Ela explica que, apesar de o Bluesky ainda não ter um sistema de trending topics integrado ao app, um desenvolvedor brasileiro já criou uma extensão de navegador para essa função. Ela destaca que isso só foi possível graças à arquitetura aberta da plataforma, que permite que desenvolvedores externos criem novos recursos.
A proposta descentralizada segue a aposta do Bluesky (literalmente, “céu azul”) de manter um ambiente com baixa carga de toxicidade.
Em vez de depender de um único algoritmo que recomenda o que está mais em alta ou aquilo que tem mais potencial de engajamento, os usuários do Bluesky podem selecionar ou criar feeds temáticos, baseados em seus interesses, como arte, natureza ou comunidades específicas. Também é possível configurar uma moderação de conteúdo personalizada, com rótulos que restrinjam determinados assuntos ou perfis. Outros usuários podem aderir aos filtros.
— O Bluesky não tem um único algoritmo que impomos aos usuários, ao contrário de muitas outras plataformas. Sugerimos um algoritmo, mas também temos um feed de só quem você segue e os feeds personalizáveis. Isso permite uma internet mais personalizada, com comunidades menores e nichos, em vez de expor todos ao mesmo conteúdo — diz Aaron Rodericks, que lidera a área de segurança do Bluesky.
Vaga aberta: algum brasileiro se candidata?
Rodericks, que integrou a equipe de segurança do X, diz que o modelo híbrido de moderação, que combina rotulação de conteúdo por usuários e moderação centralizada pela plataforma, tem se provado eficiente. E conta que a chegada dos brasileiros —que fez o português passar da quarta para a segunda língua mais falada no app, só atrás do inglês — tem feito a rede incluir mais moderadores do país.
Ele admite, porém, que a escala atual do Bluesky (o Threads, por exemplo, tem 200 milhões de usuários) permite maior experimentação e teste de novas abordagens de moderação.
A empresa não pretende fazer no curto prazo grandes contratações, segundo Wang. Mas tem pelo menos uma vaga aberta: para um engenheiro que trabalhe com TypeScript (uma linguagem de programação).
— Tenho postado sobre isso em português. Toda a nossa equipe é global, então adoraríamos contratar um desenvolvedor brasileiro. Se você quiser escrever sobre isso, nós adoraríamos — brinca a executiva.
Criadores de conteúdo
Até o fim do ano, a empresa planeja lançar um modelo de assinatura com recursos premium, como vídeos mais longos. Anúncios também estão nos planos, mas a empresa quer evitar o modelo tradicional usado por outras redes sociais, afirma Wang. Segundo ela, a ideia é ter uma publicidade mais direcionada e baseada nas interações.
Ela explica que a rede também lançará opções de monetização para os criadores. Diante das discussões globais sobre remuneração por conteúdo, a executiva diz que, ao contrário de outras plataformas, o Bluesky não suprime links de notícias e entende que é possível desenvolver um formato em que veículos da imprensa sejam remunerados com base em métricas, como o tráfego gerado para publicações.
Perguntada se um modelo de rede social não tóxico e justo pode ser lucrativo, Wang dá risada:
— Não estaríamos aqui se não acreditássemos que sim.
Fonte: O GLOBO
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