Segundo José Luis Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do banco, demanda ultrapassa o orçamento deste ano para o programa

Eentrada da sede do BNDES, no Centro do Rio — Foto: Leo Martins/Agência O Globo

Os pedidos de financiamento da BNDES Mais Inovação, linha de crédito para investimentos em modernização tecnológica com juros reduzidos lançada ano passado, já superaram os R$ 10 bilhões, segundo José Luis Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do banco.

O valor supera o orçamento do programa para este ano, mesmo após o governo autorizar, em junho, o BNDES a remanejar R$ 2,5 bilhões do ano passado para este, elevando o total disponível até dezembro para R$ 8,4 bilhões.

— A demanda hoje já é maior — afirmou Gordon ao GLOBO, ressaltando que todos os dias entram projetos. — Com certeza já ultrapassou R$ 10 bilhões em demanda.

Gordon, diretor do BNDES: demanda por crédito para a inovação já supera o orçamento disponível — Foto: Gabriel de Paiva/ Agência O Globo

A BNDES Mais Inovação foi lançada em setembro do ano passado. O BNDES pediu o remanejamento orçamentário porque, com poucos meses de operação ainda em 2023, os R$ 3,5 bilhões aprovados até dezembro ficaram aquém do orçamento anual — o orçamento era de R$ 5,5 bilhões para o ano passado.

Segundo Gordon, a demanda elevada por esses financiamentos tem ajudado o BNDES a retomar o crédito para a indústria. No primeiro semestre, as aprovações de novos financiamentos para o setor somaram R$ 13,7 bilhões, alta de 63,3% ante a primeira metade de 2023, já descontada a inflação.

— Batemos recorde no apoio aos setores de fármacos e biofármacos, e esse recorde veio com investimentos em inovação. Conseguimos ter uma indústria de fármacos e biofármacos que está inovando. Começou fazendo genéricos e hoje é uma indústria inovadora — afirmou o diretor do BNDES ao GLOBO.

Destravando investimentos

Segundo Gordon, desde o lançamento, a linha tem destravado investimentos das empresas, seja antecipando projetos que seriam implantados nos próximos anos, seja trazendo para o Brasil projetos de multinacionais que poderiam ser executados em centros de desenvolvimento em outros países.

— Nas multinacionais, tem a matriz e as subsidiárias, e existe uma disputa sobre onde será feito o desenvolvimento. A matriz vai mandar para onde tem recursos baratos. Nesses empresas, como no setor automotivo, temos sido procurados para fazer desenvolvimentos no Brasil — completou Gordon, citando a montadora alemã Volkswagen como um desses casos.

A linha BNDES Mais Inovação marcou a volta dos empréstimos a juros subsidiados para grandes empresas, ainda que em menor escala. Em 2018, o governo Michel Temer mudou a taxa de referência do banco de fomento, com a introdução da TLP, que segue os juros de mercado. Isso afastou do BNDES as grandes companhias industriais, que têm acesso a financiamentos nas melhores condições possíveis de mercado.

Com as condições melhores, já tomaram empréstimos da nova linha, além da Volkswagen, gigantes como a fabricante de motores elétricos Weg, a fabricante de papel e celulose Suzano e a fabricante de medicamentos e produtos de higiene pessoal Hypera Pharma (a antiga Hipermarcas), dona de marcas como Engov, Estomazil e Benegripe.

Diretor descarta mais ampliações

Apesar da demanda superior ao orçamento disponível, Gordon voltou a descartar a possibilidade de o BNDES pedir uma ampliação de recursos para a nova linha, para além da média de R$ 5 bilhões ao ano.

Uma ampliação mais significativa poderia renovar as críticas à atuação do banco de fomento na economia. O crédito com juros subsidiados é, frequentemente, criticado por economistas que apontam para desequilíbrios que eles provocam.


Fonte: O GLOBO