Ilê Sartuzi está exibindo as filmagens de seu ato como parte de sua exposição de Mestrado em Belas Artes da Goldsmiths, na Universidade de Londres

Um brasileiro substituiu secretamente uma moeda de prata cunhada na Guerra Civil Inglesa por uma réplica no Museu Britânico, em Londres. Em seguida, ele depositou o item original na caixa de doações da instituição. O ato ocorreu durante uma demonstração na Sala 68 do museu, onde Ilê Sartuzi trocou a moeda cunhada em 1645 em Newark, Inglaterra, pela cópia. O artista brasileiro argumentou que o gesto tinha como objetivo "abrir uma discussão" sobre o "roubo e pilhagem" de peças artísticas ao longo da história.

Ilê Sartuzi, artista plástico formado pela Universidade de São Paulo (USP), está atualmente realizando uma pesquisa no programa de Mestrado em Belas Artes da Goldsmiths, Universidade de Londres, focada em promover a autorreflexão entre artistas emergentes. Como parte de seu projeto de tese de mestrado, Ilê filmou o furto e a devolução da moeda histórica. Ele vai incluir a filmagem, com duração de sete minutos, na exposição da tese, intitulada "Sleight of Hand" (Prestidigitação), em exibição até 16 de julho.

O incidente foi planejado por mais de um ano e foi registrado por três amigos de Sartuzi com uma câmera portátil. Inicialmente, Sartuzi foi notado por um guia voluntário. Para evitar ser reconhecido no dia seguinte, ele raspou a barba e conseguiu trocar a moeda com sucesso usando um movimento rápido.

A moeda histórica não está catalogada no banco de dados do museu e pertence à coleção de manuseio da instituição, que permite aos visitantes tocar em objetos supervisionados desde janeiro de 2000. Além disso, o item fazia parte de um conjunto de objetos reservados para fins educacionais, incluindo sessões práticas com visitantes.

O porta-voz do Museu Britânico descreveu a ação de Ilê Sartuzi como "um ato decepcionante e derivativo que abusa de um serviço liderado por voluntários destinado a dar aos visitantes a oportunidade de manusear itens reais e se envolver com a história". O museu anunciou que alertará a polícia sobre o incidente.

O jovem disse ao site britânico Hyperallergic que sua interação com a moeda, ocorrida no contexto de uma "mesa de manuseio de objetos", não violou leis ou políticas do museu. Segundo ele, a obra "abre uma discussão sobre roubo e pilhagem tanto em um contexto histórico quanto de uma perspectiva neocolonial dentro das instituições culturais contemporâneas".

Ele ainda ressalta que o roubo da Mona Lisa em 1911 aumentou exponencialmente a fama da pintura, sugerindo um paralelo com sua própria ação. Além de ter destacado que tanto o teatro quanto a mágica dependem da "suspensão momentânea da descrença".


Fonte: O GLOBO