Cotação da moeda americana está no maior patamar desde 2022. O que vale mais a pena para quem vai viajar? Conta global, cartão pré-pago ou pagar no crédito? Leia neste guia

Com o dólar nas alturas — a cotação comercial da moeda americana chegou a R$ 5,46 na manhã desta quarta-feira e, no câmbio turismo, já supera R$ 5,65 —, qual é a melhor opção para quem vai viajar para o exterior nas férias de julho?

Levar a moeda em espécie, para evitar o risco da flutuação no cartão de crédito? Optar pelos cartões pré-pagos? Ou recorrer às contas globais, como Wise e Nomad?

O GLOBO ouviu especialistas e preparou um guia explicando as vantagens e desvantagens de cada modalidade. Confira abaixo:

Conta global

As contas globais têm se tornado as novas queridinhas dos turistas brasileiros. Mais conhecidas pelos cartões Wise e Nomad, a modalidade é oferecida também por diferentes bancos e corretoras.

É, na verdade, na prática, uma conta corrente aberta no exterior. Mas o cadastro pode ser feito de forma simples, pelo celular, na maioria das vezes sem taxa de manutenção.

A compra de dólares - ou euros, libras, pesos, etc., já que muitos desses cartões oferecem opção de conversão para diferentes divisas - é feita através de Pix e o cliente pode acompanhar seu saldo pelo celular. Os pagamentos podem ser feitos por cartão físico ou virtual.

Esses contas globais contam ainda com uma vantagem tributária. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é de só 1,1% - mesma taxa cobrada de quem compra dólar em espécie. Para se ter uma ideia, no cartão de crédito, o IOF é de 4,38%.

E a cotação do câmbio, que normalmente é a comercial, é outro diferencial. Na compra de dólar em espécie ou cartões pré-pagos, a cotação é do câmbio turismo. Para se ter uma ideia, na manhã desta quarta-feira, o dólar comercial estava em R$ 5,45 e o dólar turismo era cotado, em média, a R$ 5,65.

Taxas adicionais, como de abertura de conta e de remessa de valor, são cobradas de acordo com a instituição financeira.

— É igual uma conta corrente: você manda para sua conta e usa. Além de receber o cartão em casa, com crédito também como opção, você também pode ter o cartão nas wallets (carteiras digitais dos smartphones) — diz Paula Zogbi, gerente de research na Nomad

Na Nomad, as taxas cobradas variam entre 1 a 2% da remessa enviada e não há taxa para abertura de conta.

Outra vantagem é que nessas contas globais o cliente pode enviar seu dinheiro - ou comprar dólar, euro, etc. - aos poucos, aproveitando momentos de baixas na cotação.

E a tecnologia também é aliada para aproveitar melhores preços. Os clientes da Wise, por exemplo, podem optar por um "piloto automático" de cotação, como explica a gerente de marketing de produto da fintech, Helene Romanzini:

— O cliente pode criar alertas no app para ser notificado quando a taxa de câmbio atingir o valor desejado. Isso é uma forma de fazer uma poupança em dólar e estar mais preparado no momento da viagem — afirma.

A Wise oferece uma conta global que permite manter saldo em mais de 40 moedas, sem tarifa de conversão.

Diversas instituições têm disponibilizado essa modalidade aos clientes, inclusive bancos comerciais. A corretora Avenue também oferece conta internacional.

Para quem está com viagem programada para o exterior tem sentido a conversão pesar no bolso. Só em 2024, a moeda já apresenta valorização de mais de 11%.

Dinheiro em espécie

A compra de dólares, euros ou outras divisas em espécie tem uma cobrança menor de IOF, de 1,1%. No cartão de crédito, é 4,38%. Mas as cotações nem sempre são as mais vantajosas. Por isso, especialistas recomendam levar apenas uma pequena quantia, para compras imediatas ao chegar no país de origem ou para situações de emergência:

— O custo para comprar (a divisa em espécie) é alto, com o spread (diferencial entre a cotação turismo e o valor realmente cobrado) dependendo da casa de câmbio. A vantagem é tê-lo na mão para situações emergenciais e facilitar em situações de curtíssimo prazo — diz Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank.

As desvantagens, pontua a especialista, ficam dos riscos de segurança ao se andar com papel-moeda, como possibilidade maior de perdas e furtos. É preciso também pesquisar se no destino da viagem há facilidade para pagamentos em cartões e outros meios eletrônicos para decidir o quanto de dinheiro levar em espécie.

E é importante lembrar que, desde o ano passado, o limite para embarque com dinheiro em espécie sem necessidade de declaração à Receita Federal é de US$ 10 mil (cerca de R$ 54 mil).

Em quantias maiores, o turista é obrigado à preencher Declaração Eletrônica de Bens do Viajante da Receita, o e-BDV. Nele, deve informar a quantia que pretende levar ao exterior, pagar os impostos devidos e, ao embarcar, ter o recibo.

Cartão de crédito

A modalidade mais prática - bastando liberar as compras internacionais com o banco - pode ser também a mais custosa. Isso porque uma das principais cobranças, o IOF, é de 4,38% neste ano. O imposto será reduzido progressivamente até 2028, quando será zerado.

— O cartão de crédito é para ser usado em último caso, porque, além das taxas mais altas, o câmbio depende do banco da conta — diz Paula Zogbi, gerente de research na Nomad, frisando que a moeda pode variar para cima até o dia do pagamento da fatura, gerando surpresas na hora de quitar as dívidas.

Além disso, o turista deve estar atento se a instituição financeira cobra a cotação do dólar comercial ou turismo, este último mais caro.

Apesar das taxas maiores, as compras com cartão de crédito podem gerar algum retorno:

— A vantagem da modalidade é acumular pontos no cartão, podendo trocar por outros produtos e serviços nos programas de milhagem — diz Paula.

‘Travel money’, o cartão pré-pago

Nos cartões pré-pagos, conhecidos como ‘travel money’, o pagamento realizado na hora da compra da divisa, com a cotação do momento. O IOF é, assim como o do cartão de crédito, de 4,38%:

— O limite pré-estabelecido ajuda a controlar despesas e é menos arriscado que carregar grandes quantias de papel-moeda. O travamento da taxa de câmbio no momento da carga evita surpresas com a oscilação cambial — afirma Gabriel Lago, planejador financeiro da The Hill Capital.

O custo de IOF e a cotação em câmbio turismo tornam a opção similar ao uso do cartão de crédito, sendo que neste último é possível acumular pontos em programas de fidelidade.

Caso o cliente não gaste tudo que depositou em moeda estrangeira nesses cartões pré-pagos, eles oferecem a opção de resgatar a sobra, mas muitos cobram taxas para isso.

Com mais tempo, comprar aos poucos

Para quem não vai curtir férias internacionais em julho e ainda vai levar tempo para viajar, comprar dólar gradualmente pode ser uma saída para evitar um preço mais alto no futuro:

— Fazendo as compras da moeda aos poucos, você faz o chamado “preço médio”. Quanto maior a antecipação, mais você consegue aproveitar as oscilações e pode minimizar o risco de ter que comprar tudo de uma vez, pagando uma cotação mais alta — afirma Larissa.

Mas comprar a moeda e deixar o dinheiro parado pode fazer ele perder valor com o tempo. Nesse momento de alta, investimentos no exterior através de contas específicas podem ajudar ainda mais quem quer aproveitar para gastar lá fora em viagens no futuro. Isso porque o envio de remessas para esse tipo de conta tem IOF de 0,38% e a cotação é a do dólar comercial:

— Você pode investir o dinheiro e aí, depois de alguns meses rendendo, você pode enviar para a conta corrente — diz Paula.

Na Nomad, não há cobrança de taxas operacionais de investimento e corretagem em algumas modalidades, como títulos do tesouro americano.

A cobrança de Imposto de Renda é feita na declaração do ano seguinte, de 15% sobre os lucros.

Quem opta por investir no exterior deve ficar atento à liquidez dessas aplicações. A data de vencimento deve ser próxima à data da viagem, a fim de evitar custos com multas e perdas de rendimento por conta da retirada antecipada de prazos mais longos.

E é sempre importante estar atento quanto à abertura de contas no exterior. É importante ler o contrato, analisar todos os custos e cobranças - taxas de manutenção, tarifa de entrega do cartão, valor do dólar cobrado e se há taxa na conversão e saque - para evitar surpresas desagradáveis durante e depois da viagem.


Fonte: O GLOBO