Em entrevista em Minas Gerais, presidente também criticou a postura do governador Romeu Zema na renegociação da dívida pública e rebateu o vice, Mateus Simões: 'Conversei com ele'

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), voltou a criticar nesta sexta-feira o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Sem citá-lo nominalmente, o chefe do Executivo disse que a gestão anterior se baseava em fake news e ataques. A declaração foi dada em em entrevista ao programa 'Café com Política', da 'FM O Tempo'.

— O que nós fizemos em um ano em Minas Gerais de recuperação de estradas estragadas foi quatro vezes mais que no governo passado porque no governo passado era só lero lero, só xingamento, fake news, desaforo, ofensa. Ofendia mulher xingamento, Supremo Corte, a mulher do (Emmanuel) Macron (presidente da França).

Além do ex-presidente, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também foi alvo de críticas. O mandatário afirmou que não considera o trabalho de Campos Neto "correto" e que sua indicação foi feita pelo governo o anterior, portanto não corresponde ao seus interesses.

A dívida pública de Minas Gerais com a União Federal, hoje avaliada em R$ 170 bilhões, foi um dos principais tópicos da entrevista do presidente. Segundo Lula, o pagamento do montante tornou o mandato do ex-governador do PT, Fernando Pimentel (2015-2019) um "fracasso". Ele aproveitou para alfinetar o atual governador, Romeu Zema (Novo), que, de acordo com o chefe do Executivo, usufrui de uma liminar concedida a Pimentel para não pagar o montante devido à União Federal.

— A dívida Minas Gerais levou o Pimentel a ser um governante que teve um fracasso muito grande porque ele teve que pagar uma dívida e quando ganhou o processo no final do mandato, o Zema que tirou proveito disso porque o Pimentel passou quatro anos sem pagar funcionário público, fornecedores, porque tinha que pagar o governo federal. Quando a ministra Rosa Weber deu a liminar, o Pimentel não usufrui disso, quem usufrui o Zema que faz seis anos que não paga a dívida, que chega a R$ 170 bilhões de reais.

A liminar mencionada pelo presidente expira no próximo dia 13, após duas prorrogações conseguidas pelo governo de Minas apenas neste ano e que será solicitada novamente por mais 120 dias.

Lula também rebateu uma fala do vice-governador, Mateus Simões (Novo), que disse em vídeo nas redes sociais que não teve a chance de conversar com o presidente. Simões representou Zema na agenda em Contagem nesta quinta-feira.

— Eu conversei com o vice, ele sentou na mesma fila de cadeiras que cheguei. Conversei com ele na chegada e na saída e ainda procurei ele para dizer para o governador que estamos cuidando da dívida. Obviamente que gostaria que os governadores estivessem presentes. Eu nunca deixei de convidar o governador. Eu respeito ir ou não ir. Mas porque é importante estar presente? É uma demonstração para a sociedade que essa gente está tentando resolver os problemas desse país.

A entrevista ocorre em meio à passagem de Lula por Minas Gerais. O presidente chegou ao estado nesta quinta-feira, quando foi recebido pelo prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD) e teve agenda em Contagem.

Nesta sexta-feira, fará anúncios para saúde e educação em Belo Horizonte e, na parte da tarde, estará em Juiz de Fora. Os eventos ocorrem sem a presença do governador, Romeu Zema (Novo), que recusou o convite do governo federal por estar no Norte do estado.

Eleições em 2026

Nesta sexta-feira, Lula voltou a elogiar Rodrigo Pacheco (PSD) e indicar que apoiaria uma possível candidatura do presidente do Senado ao governo de Minas Gerais.

— Eu tenho uma grata surpresa com o crescimento político do Pacheco. Ele é um jovem, advogado bem sucedido e acho que hoje ele é a figura pública mais importante de Minas Gerais. Obviamente que as coisas só vão acontecer se ele quiser, mas acho que ele tem todas as condições de fazer uma disputa eleitoral e ganhar as eleições, mas não posso decidir por Minas Gerais. Acho que os partidos vão se reunir e discutir.

Tensão em BH

Lula está em Minas Gerais em meio a um desconforto na corrida eleitoral, na qual o prefeito Fuad é pré-candidato à reeleição e disputa o apoio do presidente com nomes da esquerda — os deputados federais Rogerio Correia (PT) e Duda Salabert (PDT).

Entre os três, apenas Rogerio Correia acompanha Lula em suas agendas. Apesar de ter recebido o presidente no aeroporto, Fuad decidiu não comparecer hoje pelo evento não ter conexão com a prefeitura. Articuladores apontam que ele não queria "ficar de figuração".

Em meio ao racha, o presidente vem sendo pressionado pelos partidos a não entrar na campanha de Rogério Correia. Inicialmente, a agenda de Lula não envolvia uma ida à Belo Horizonte, o que havia agradado o PSD. Nesta sexta-feira, o presidente reiterou Rogerio como candidato:

— O Rogério é o candidato do PT. Ele é um quadro do PT muito respeitado e continua sendo o candidato do PT, o meu candidato à prefeito de Belo Horizonte — disse à FM O Tempo.

Nos bastidores, especula-se sobre uma aliança que envolva Rogério Correia e Fuad Noman. Ao GLOBO, o presidente do PSD no estado, o deputado Cassio Soares, garante que é uma possibilidade, mas critica o parlamentar petista:

— Quem determina o caminho é o presidente Lula, que já demonstrou vontade de apoiar a candidatura do prefeito, mas há uma ressalva à postura do Rogério de agressão a um político que apoiou Lula.

Mesmo sendo alvo de críticas, Fuad levantou bandeira branca para o deputado nesta semana. Em agenda no antigo terreno do Aeroporto Carlos Prates, o prefeito compartilhou o mérito da concessão à União Federal com ele.

— Estivemos várias vezes com a União, eu e o deputado. Muito obrigado, deputado, pelo trabalho — disse.


Fonte: O GLOBO