Seleção brasileira finalizou 19 vezes contra duas do adversário, acertou a trave e permitiu pouco ao rival, mas não conseguiu sair do SoFi Stadium, em Los Angeles, com a vitória

É natural que, no futebol de elite, equipes enfrentem adversários incômodos. O raro é ter adversidades tão insólitas quanto o tamanho do campo, algo básico no jogo, mas que a Conmebol aceitou como efeito colateral da decisão de levar a Copa América para os Estados Unidos. O torneio é jogado em estádios suntuosos, que esbanjam luxo e números descomunais de capacidade e custo de construção. Mas falta o básico: um campo com as medidas no padrão de uma Copa do Mundo.

E quando um time se dedica a defender, como fez a Costa Rica na estreia do Brasil, encontrar espaços numa área reduzida se torna mais desafiador. Então, foi apenas por isso que a seleção não saiu de um desapontador 0 a 0 em Los Angeles? É um pouco mais complexo.

Há duas formas de olhar para este jogo. Uma, analisar apenas o balanço de forças entre as duas equipes. E aí, será obrigatório constatar que o time de Dorival Júnior teve aspectos positivos e fez o suficiente para vencer: finalizou 19 vezes contra duas do adversário, acertou a trave e permitiu pouco ao rival, já que recuperava rapidamente a bola. Mas, ainda assim, este era um enredo esperado entre brasileiros e costarriquenhos.

A outra abordagem possível é imaginar encontros com rivais mais desafiadores. E aí surgem algumas preocupações, em especial porque o desenho de time, até aqui, não parece tirar a melhor versão de jogadores talentosos.

Primeiro, é bom ressalvar que o desgoverno da CBF fez o Brasil chegar aos Estados Unidos com um trabalho embrionário: este foi o primeiro jogo oficial de Dorival no cargo, após quatro amistosos. Ainda há uma rigidez na ocupação de posições, sem criar movimentos que gerem vantagens. O time parte de algo próximo de um 4-2-4, com um quadrado no centro do campo formado pelos volantes Bruno Guimarães e João Gomes, além dos atacantes Rodrygo e Paquetá. Enquanto isso, Raphinha e Vinícius Júnior ocupam as pontas.

Por vezes, há trocas de posição, mas é nítida a preocupação de manter o desenho, as mesmas zonas ocupadas. Não haveria nada de errado, o caso é a pouca ocupação da área e poucos mecanismos para gerar ataques em profundidade. Raphinha e Vinícius, quase sempre, recebiam a bola isolados contra um ou dois marcadores, numa aposta em suas individualidades. No centro do ataque, Rodrygo e Paquetá gostam de recuar para buscar a bola, no lugar de atacar as costas dos defensores.

Há outras questões. Vinícius jogou 70 minutos e, até sair, era o homem ofensivo do Brasil com o menor número de toques na bola. É um pecado para quem vive um momento tão brilhante na elite do futebol mundial. Além disso, houve raras trocas de passes entre ele e Rodrygo, desperdiçando o entendimento que têm no Real Madrid.

A opção por Arana, um lateral de ultrapassagem, também teve pouco efeito com o corredor sempre ocupado por Vinícius. Já Paquetá, recebendo bolas quase como um segundo atacante, também parece fora de sua melhor utilização.

Quem tem rompido com este jogo menos fluido é Rodrygo, e seu movimento tem gerado aproximações entre os homens de frente.

Rodrygo foi um dos melhores do Brasil no jogo contra a Costa Rica — Foto: Patrick T. Fallon / AFP

Dorival interveio no segundo tempo. Tentou aproximar Vinícius Júnior do centro do ataque, com Rodrygo vindo de trás. Mas foi a entrada de Savinho na direita que deu nova vida ao ataque do Brasil: o atacante do Girona foi mais feliz nas jogadas individuais.

Em circunstâncias normais, tal desempenho bastaria para bater a Costa Rica. O Brasil não ganhou por detalhes em finalizações. No entanto, quando o nível de exigência subir, o nível de jogo precisará crescer também.


Fonte: O GLOBO