Com fuselagem concluída, jato receberá softwares e camuflagem para testes funcionais. Visita à fábrica da Embraer revela cada etapa da produção
A previsão é da Saab, que desenvolveu a aeronave e está transferindo a tecnologia ao país como prevê o contrato firmado com o governo brasileiro há quase uma década para a compra de um lote inicial de 36 unidades por U$ 5,4 bilhões.
A linha de montagem brasileira, a primeira da Saab fora da Suécia, foi inaugurada há um ano, e nesta quarta-feira, o primeiro caça fabricado no Brasil entrou em fase final de montagem.
— O jato já teve concluída a montagem estrutural, uma segunda unidade já entrou na fase estrutural e uma terceira começa a ser montada em julho —explicou Hans Sjöblom, gerente geral da Saab em Gavião Peixoto, lembrando que do total desse lote 15 unidades serão montadas no Brasil.
A entrega das 36 aeronaves para a Força Aérea Brasileira (FAB) está prevista para 2027.
Nesta primeira fase, as quatro principais estruturas da aeronave são juntadas: a fuselagem dianteira, central e traseira e a unidade de armamento. Os 12 tanques de combustível foram selados e receberam testes de pressão. Agora, começam a ser instalados 35 quilômetros de cabos e 300 metros de canos, além de toda a parte eletrônica do avião. Em seguida, é colocado o motor, trem de pouso e o software da aeronave.
Linha de montagem do caça Gripen no Brasil na fábrica da Embraer em Gavião Peixoto, interior de São Paulo — Foto: Divulgação/Saab
Na próxima etapa são feitos testes funcionais e o caça recebe a camuflagem para operar. A última etapa é a preparação para o voo, com a calibragem de sistema de navegação, combustível e controle de voo. Depois, o motor é acionado pela primeira vez e são feitos ensaios de voo e só depois o caça Made in Brazil será entregue à Força Aérea Brasileira (FAB), que estuda a compra de um novo lote desses caças.
A etapa final de montagem do primeiro caça montado em solo brasileiro deve consumir pelo menos mais 8 mil a 9 mil horas de trabalho. O GLOBO visitou a linha de montagem neste início de fase final de montagem.
Linha de montagem do caça Gripen no Brasil na fábrica da Embraer em Gavião Peixoto, interior de São Paulo — Foto: Divulgação/Saab
Pelo menos 350 funcionários da Embraer receberam treinamento na Suécia no programa de transferência de tecnologia. Da equipe que participa da montagem dos caças em Gavião Peixoto, 90% são brasileiros e os demais são profissionais suecos que supervisionam a fabricação. Os brasileiros participaram de pelo menos 60 projetos das etapas que envolvem a construção do Gripen.
Na unidade de Gavião Peixoto da Embraer, também foram instalados o Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen e o Centro de Ensaios em Voo que ajudam a desenvolver, produzir e testar o caça no Brasil. No centro de ensaios, por exemplo, são simuladas condições de voo em tempestade, além de falhas nos sistemas hidráulico ou eletrônico.
— O desenvolvimento do Gripen no Brasil ocorre ao mesmo tempo do treinamento dos profissionais. Os mesmos métodos e projetos utilizados na Suécia são usados no Brasil — diz Luiz Hernandez, diretor de cooperação industrial na Saab Brasil, lembrando que os profissionais brasileiros treinados pela Saab podem dar suporte à FAB no ciclo de vida dos Gripen, que gira entre 30 e 40 anos, além de utilizar essa tecnologia para novos projetos.
Montagem do caça Gripen na fábrica da Embraer em Gavião Peixoto está em fase final — Foto: Divulgação/Saab
Segundo os executivos da Saab e da Embraer, os próximos caças brasileiros deverão ser montados em menor tempo, cerca de 18 meses, em vez dos dois anos e meio que a primeira unidade levará para ser concluída. Além de estarem absorvendo a nova tecnologia, o que consome mais tempo na montagem deste primeiro avião, a pandemia de Covid-19 afetou a cadeia de fornecedores de peças.
Parte das peças do Gripen vem da Suécia, mas a Saab também tem no Brasil a única fábrica das aeroestruturas do Gripen fora da Suécia, localizada na cidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. A ideia é que o Brasil seja um 'hub' para atender futuras encomendas de caças Gripen feitas por países latino-americanos.
A Saab tem conversas, por exemplo, com o goveno da Colômbia para a venda desses caças. Por enquanto, a linha de montagem brasileira funciona em apenas um turno.
Já foram entregues à FAB sete Gripens fabricados na Suécia, além de uma unidade que está realizando testes. No mês passado, essa unidade fez testes na Amazônia em condições de temperatura elevada e chuva intensa. Os caças já entregues foram incorporados ao 1º Grupo de Defesa Aérea na Base Aérea de Anápolis, em Goiás.
O Gripen começa a substituir os F-5M, caças americanos que estão em operação no Brasil desde 1975, tendo sido modernizados pela Embraer nos últimos anos. Os Gripen têm capacidade de voar a 16 mil metros de altura e atingem velocidade máxima de 2.400 km/h, sendo capazes de percorrer a distância entre Rio e São Paulo em apenas 12 minutos.
*O jornalista viajou a convite da Saab
Fonte: O GLOBO
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