Deputados estaduais do partido passaram a votar alinhados à governadora tucana, adversária do atual prefeito da capital

Após o prefeito do Recife, João Campos (PSB), indicar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que não terá um vice petista em sua chapa para a disputa à reeleição, o PT de Pernambuco tem se aproximado da governadora do estado, Raquel Lyra (PSDB), adversária de Campos. Parte da oposição à gestão da tucana na Assembleia Legislativa (Alepe), a bancada petista, formada por três deputados estaduais, passou a se posicionar alinhada ao Palácio das Princesas.

O caso mais emblemático ocorreu, no mês passado, com a aprovação do projeto que extingue as faixas salariais de bombeiros e policiais militares, de forma escalonada, até 2026, com objetivo de evitar pagamentos diferenciados para militares estaduais de mesma patente. Na ocasião, os deputados do PSB defendiam a antecipação da medida para 2025, mas não receberam o aval dos petistas, que alegaram inconstitucionalidade na proposta. A divergência gerou rusgas na oposição.

Críticas recentes do deputado estadual João Paulo (PT) ao atual prefeito foram outra sinalização de alinhamento com a governadora. O petista mirou o tratamento dado por João Campos à sua legenda nas eleições municipais e o acusou de querer ganhar “duas eleições em uma”. A declaração gerou reação do presidente do diretório municipal do PT, Cirilo Mota, que emitiu nota afirmando que o correligionário serve a “forças conservadoras” na assembleia e que João Paulo cumpre o “papel humilhante de enviar recados da governadora”.

O deputado estadual rebateu e disse que o PSB é quem tenta se aliar aos conservadores. “É válido criticar as aproximações de alguns membros do PSB com a extrema-direita, baseadas não somente em ações isoladas, mas numa estratégia que compromete nossos valores fundamentais”, escreveu.

João Paulo é defensor do diálogo com a governadora tucana e vem se aproximando do governo na Alepe. Ao GLOBO, o deputado faz elogios Raquel Lyra ao explicar seu alinhamento em votações:

— As votações do PT têm sido republicanas, de compromisso com o estado. Agora, acho que Raquel tem feito um esforço para melhorar a articulação política e as entregas. Está tendo mais estabilidade.

Apesar da resistência do diretório municipal do Recife, a aproximação entre Raquel Lyra e o partido tem sido costurada por nomes da direção nacional. O deputado federal Carlos Veras já admitiu a possibilidade de uma aliança ao afirmar que a sigla vai debater o assunto, caso receba convite formal para integrar a base da governadora. O parlamentar disse ao GLOBO que o PT busca contribuir:

— Não deve ser fácil ser a primeira mulher a governar o estado de Pernambuco. Nós, do PT no Congresso Nacional e do governo do presidente Lula, temos feito tudo o que está ao nosso alcance para contribuir.

Atração com emendas

Além do PT, a governadora faz acenos ao PL, partido que em maio deste ano sofreu exonerações por infidelidades na assembleia do estado. Na semana passada, o governo liberou 80% das “emendas pix” para municípios em que os parlamentares têm suas bases eleitorais. A medida agradou os deputados, que voltaram a acenar ao Palácio das Princesas.

O movimento ocorre em meio ao rompimento de Raquel Lyra com o presidente da Alepe, Álvaro Porto (PSDB). A relação entre os dois azedou durante a tramitação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

O principal impasse ocorreu após a governadora atuar para manter, na Justiça, o excedente da arrecadação limitado ao Executivo, após veto da Casa ao ponto. Em maio, a tucana conseguiu uma vitória no Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu suspender trechos da lei aprovada pelos deputados relacionados ao tema. A Corte entendeu que os parlamentares se intrometeram na atividade do Executivo.

A crise com o presidente da Assembleia já havia escalonado em fevereiro, quando o áudio do microfone de Álvaro Porto vazou enquanto o deputado criticava um discurso de Raquel Lyra na Casa. Com o desgaste, o correligionário da governadora autorizou a migração de seu grupo político para o Republicanos, partido da bancada independente na Alepe e que integra a base de João Campos. A expectativa é que Porto mude de sigla na janela partidária de 2026 ou que pleiteie o desembarque da legenda na Justiça.


Fonte: O GLOBO