Alta dos investimentos, do consumo das famílias e um salto na agropecuária impulsionam a atividade econômica. Setor de serviços cresce com força

A economia brasileira voltou a acelerar nos primeiros três meses do ano, após dois trimestres seguidos no campo da estabilidade. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,8% no primeiro trimestre, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta terça-feira.

A alta dos investimentos e do consumo das famílias puxaram a alta pelo lado da demanda. Pelo lado da oferta, o crescimento do setor de serviços - que responde por cerca de 70% do PIB - e o salto na agropecuária impulsionaram a atividade econômica nos três primeiros meses de 2023.

Estimativas apontavam para aumento de 0,7%, segundo mediana das projeções compiladas pela Bloomberg.

A combinação de queda dos juros, mercado de trabalho pujante, pagamentos de precatórios e reajuste de benefícios vinculados ao salário mínimo ajudou a impulsionar a renda e, consequentemente, o consumo das famílias.

A alta foi de 1,5% no primeiro trimestre, ante os últimos três meses de 2023. Ante o primeiro trimestre do ano passado, o crescimento foi de 4,4%.

Construção puxa investimentos — Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

Construção puxa investimentos


Já os investimentos cresceram 4,1% em relação aos três últimos meses de 2023, com o aumento na importação de bens de capital (máquinas e equipamentos), o desenvolvimento de software e a construção.

Foi a maior alta nessa base de comparação desde o primeiro trimestre de 2021, de acordo com o IBGE. Naquela ocasião, quando a economia ainda estava em plena retomada após o fundo do poço da crise causada pela Covid-19, o componente subiu 6,4% em relação ao último trimestre de 2020.

Segundo o IBGE, foi um movimento de recuperação. Na comparação com o primeiro trimestre de 2023, os investimentos cresceram 2,7%, primeira alta após três trimestres de queda.

A taxa de investimento, porém, foi de 16,9% do PIB, abaixo dos 17,1% registrados no primeiro trimestre de 2023. Já a taxa de poupança foi de 16,2%, ante 17,5% no mesmo trimestre de 2023.

Rebeca Palis, coordenadora de contas trimestrais do IBGE, ponderou que “taxa de investimentos ficou praticamente no mesmo patamar do ano passado, porque tanto os investimentos quanto o PIB cresceram” no primeiro trimestre.

Já a taxa de poupança teve uma queda importante porque o consumo das famílias cresceu bem acima do PIB.

Agricultura tem salto de 11,3%

Pelo lado da oferta, o bom desempenho da agricultura no primeiro trimestre, a despeito de uma alta menos intensa do que a observada no mesmo período do ano passado, puxou o resultado do PIB para cima.

O crescimento foi de 11,3% ante o último trimestre de 2023. Na comparação com o primeiro trimestre de 2023, no entanto, houve queda de 3%. O recuo é explicado pela base de comparação elevada, já que o agro registrou a maior safra da História no ano passado.

Serviços cresceram 1,4%, principalmente devido às contribuições do comércio (3,0%).

A Indústria foi o único setor que ficou no vermelho, com uma leve queda de 0,1%.

Impacto das enchentes no RS no PIB

Economistas estão atentos, contudo, aos impactos das enchentes no Rio Grande do Sul sobre a atividade econômica. Já são esperados efeitos negativos no segundo trimestre, embora a perspectiva seja de um "rebote" parcial no terceiro trimestre, com a reconstrução da região até o final do ano.

De forma imediata, as enchentes impedem as pessoas de consumir, interrompem a produção de fábricas e a prestação de serviços, provocam a perda de maquinário e estoques e inviabilizam a produção agrícola.

Numa segunda onda de efeitos, afeta a produção de empresas de outros estados, que dependem de insumos fabricados no Rio Grande do Sul. É o caso do setor automotivo, com destaque para peças e componentes, da indústria moveleira e das confecções. R

Relatório do Bradesco lembra que o PIB gaúcho pesa 6,5% no total nacional, mas, na indústria de transformação, a participação é maior, de 8,3%.

Juros elevados por mais tempo

Outro ponto no radar dos analistas é a perspectiva de uma política monetária mais restritiva por mais tempo do que o previsto, o que deve restringir parte do consumo nos trimestres seguintes.

Para Luís Otávio Leal, economista-chefe da gestora G5 Partners, embora as estimativas iniciais apontem um impacto negativo de poucos décimos de pontos percentuais das enchentes no Rio Grande do Sul no crescimento econômico de 2024, a tragédia climática contribuiu para uma mudança nas perspectivas para a economia este ano.

Nos primeiros meses, após sucessivas revisões para cima nas projeções de crescimento ao longo do ano passado, o cenário de boa parte dos economistas era de uma atividade econômica em ascensão, que poderia crescer até em torno de 2,5%, puxado pelo consumo das famílias.

Segundo Leal, parte desse cenário incluía a perspectiva de que, no segundo semestre deste ano, juros menores impulsionaram o crédito para o consumo e investimentos. Nas últimas semanas, porém, essa visão sobre o impulso vindo de juros menores mudou.

– Até março, a perspectiva era de Selic (a taxa básica de juros, definida pelo Banco Central, hoje em 10,5% ao ano) a 9% no fim do ano. Agora, (a projeção) está em 10,25%. Haverá menos impulso para a demanda via crédito – afirmou Leal.

Economistas vêm explicando que a mudança sobre o que esperam da política monetária passa tanto por uma alteração nos próximos passos do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), que vem indicando que adiará uma queda nos juros por lá, quanto por novos sinais de desequilíbrio nas contas do governo. Os dois fatores atuam na mesma direção, de impedir uma queda maior nos juros por aqui, disse Leal.


Fonte: O GLOBO