Articulação da base do governo Lula, após pressão de Arthur Lira, levou à aprovação da taxação nesta quarta-feira. Cotado como vice-prefeito da capital alagoana, senador entrou em rota de colisão com presidente da Câmara
O imbróglio sobre a taxação de compras internacionais de até US$ 50, aprovada nesta quarta-feira pelo Senado, foi o capítulo mais recente de uma queda de braço envolvendo a eleição municipal de Maceió deste ano. O enredo colocou em rota de colisão o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o prefeito da capital alagoana, João Henrique Caldas (PL), conhecido como JHC. Os desdobramentos da disputa também respingam no grupo político do senador Renan Calheiros (MDB-AL), adversário tanto de Lira, quanto de JHC.
Na aliança costurada por Lira e JHC desde o ano passado, o presidente da Câmara esperava indicar um nome de sua confiança como candidato a vice-prefeito. Os planos começaram a mudar, contudo, por conta do desejo de JHC de emplacar o senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL), seu aliado de longa data, como colega de chapa.
Além de mitigar a influência de Lira na prefeitura, a parceria entre JHC e Cunha pode beneficiar a mãe do prefeito de Maceió, Eudócia Caldas (PL). Ela é suplente de Cunha, e herdaria o mandato no Senado caso o aliado se eleja em Maceió junto com seu filho.
Nesta quarta, Lira e o governo federal reagiram a uma movimentação de Cunha, que pretendia derrubar a taxação de compras internacionais online, apelidada de “taxa das blusinhas”. Cunha foi o relator no Senado do projeto que cria o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), no qual a taxação havia sido incluída em um acordo do Planalto com o Congresso. O senador aliado de JHC, porém, anunciou na terça que retiraria a taxa do seu relatório final, medida que expôs Lira, fiador do acordo na Câmara.
Lira expôs sua insatisfação ao Planalto, que articulou junto com sua base no Senado a reinclusão da taxa. O pedido, que acabou aprovado em votação simbólica, foi assinado pelos líderes do MDB, PSD, PT e do governo.
Um dos aliados do governo Lula no Senado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) também pode ser afetado pelo impasse entre Lira e JHC, que tem reflexos nas eleições de 2026. O prefeito de Maceió, que inicialmente concorreria ao governo estadual em aliança com Lira, passou a ventilar a hipótese de se lançar ao Senado, mesmo cargo que Lira pretende disputar daqui a dois anos. Renan deve tentar um novo mandato como senador na mesma corrida, na qual abrem duas vagas no Senado.
Em Alagoas, o grupo ligado aos Calheiros se divide entre adversários ferrenhos de Lira e aqueles que preferem isolar o prefeito de Maceió, hoje aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Um dos principais opositores de JHC é o deputado federal Rafael Brito (MDB-AL), escolhido por Renan para disputar a prefeitura de Maceió em uma candidatura de oposição. Lira, por outro lado, desperta contrariedade no entorno do governador Paulo Dantas (MDB), com quem protagonizou embates duros nas eleições de 2022.
Dantas, que não pode disputar a reeleição em 2026, tende a apoiar como sucessor no Executivo estadual o atual ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), que o antecedeu na cadeira de governador. Para interlocutores dos Calheiros, um dos cálculos de JHC ao avaliar uma candidatura ao Senado é justamente a viabilidade de um embate direto com o ministro emedebista.
Lira e JHC, por sua vez, buscaram apaziguar publicamente os sinais de ruptura nesta quarta-feira. O prefeito de Maceió fez um elogio ao presidente da Câmara nas suas redes sociais e destacou o desejo de manter a aliança. Lira tem aliados em posições estratégicas da prefeitura, o que é visto por interlocutores de JHC como um fator relevante para manter a aliança, também de olho na campanha de 2026.
Um dos homens de confiança de Lira, porém, o ex-deputado Davi Davino Filho (PP) pediu exoneração da prefeitura de Maceió na semana passada e ficou apto a concorrer às eleições deste ano, em uma eventual chapa pura do PP.
Entenda quem é quem na disputa de Alagoas
- Arthur Lira (PP-AL): De olho em uma candidatura ao Senado em 2026, o presidente da Câmara pretendia indicar um nome de confiança como vice de JHC, para amarrar o apoio do atual prefeito de Maceió daqui a dois anos.
- João Henrique Caldas (PL): Conhecido como JHC, o prefeito de Maceió recuou de acordo com Lira e pretende indicar Rodrigo Cunha como vice. Hoje mais próximo ao ex-presidente Jair Bolsonaro, ele também avalia disputar o Senado em 2026.
- Rodrigo Cunha (Podemos-AL): Aliado de JHC, tentou retirar de um projeto no Senado, do qual é relator, a taxação de compras internacionais online de até US$ 50. O movimento marcou um conflito com Lira, que havia acordado a inclusão da taxa na Câmara.
- Eudócia Caldas (PL): Mãe de JHC e suplente de Rodrigo Cunha, herdaria o mandato no Congresso caso o senador do Podemos se eleja vice-prefeito de Maceió.
- Davi Davino (PP): Homem de confiança de Lira, pediu exoneração da secretaria de Relações Federativas da prefeitura de Maceió, em meio ao imbróglio com JHC. Ainda é cotado como vice do atual prefeito, ou pode encabeçar chapa pura do PP.
- Jó Pereira (PP): Prima de Lira e atual secretária municipal de Educação, está à frente de uma das principais pastas da prefeitura de Maceió. O presidente da Câmara também emplacou aliados na pasta da Saúde.
- Renan Calheiros (MDB) : Desafeto de Lira e rival também de JHC, deve disputar um novo mandato no Senado em 2026.
- Renan Filho (MDB): Atual ministro dos Transportes, é cotado pelo MDB como candidato ao governo de Alagoas em 2026, cargo que já ocupou anteriormente.
- Rafael Brito (MDB): Pré-candidato do MDB à prefeitura de Maceió, apoiado por Renan, encabeça a oposição local a JHC.
Fonte: O GLOBO
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