A seca extrema, que já vem causando milhares de focos de calor, vai se agravar entre agosto e setembro; Marina Silva, Simone Tebet e Waldes Góes irão ao estado nesta sexta

O secretário de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul, Jaime Verruck, afirmou que todas as condições para a possibilidade de incêndio florestal no Pantanal hoje são mais severas do que em 2020, quando um terço do bioma foi consumido pelo fogo. 

Ele explicou que a atual seca extrema é um processo raro, só observado em 1941, e que a região ainda não vive o pior cenário possível, pois os meses de agosto e setembro tendem a ser os piores da história. Por outro lado, o governo do estado defendeu que agora possui maior estrutura de combate do que quatro anos atrás.

As informações foram dadas em uma coletiva de imprensa na manhã desta quinta (27), com participação ainda do Corpo de Bombeiros e do governador Eduardo Riedel (PSDB). Como O GLOBO mostrou, os focos de calor registrados no Pantanal nesse primeiro semestre do ano já superam a quantidade de 2020, na comparação do mesmo período. 

Até aqui, 530 mil hectares de área já foram queimados somente no território pantaneiro do Mato Grosso do Sul, antes mesmo da temporada mais seca, informou o Corpo de Bombeiros.

Em 2020, o fogo consumiu entre 3,5 milhões e 4,5 milhões de hectares do Pantanal (somando Mato Grosso e Mato Grosso do Sul), segundo, respectivamente, medições do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da UFRJ (Lasa/UFRJ) e do MapBiomas. As projeções do Lasa/UFRJ apontam que, somente entre julho e setembro desse ano, 2 milhões de hectares devem ser queimados.

Em abril, o governo publicou um primeiro decreto de emergência, proibindo qualquer tipo de queimada no Pantanal, mesmo as controladas. Portanto, hoje qualquer queimada é ilegal. Segundo Jaime Verruck, essa decisão foi tomada em função das condições climáticas sinalizadas na época. Ele também disse que o governo recuou do programa de queimas prescritas - que serve para diminuir o volume de biomassa, de forma controlada, antes da temporada de seca - iniciado nesse ano, pela dificuldade técnica de controlar o fogo.

— A condição é mais severa do que em 2020. O Inpe destaca como rara, porque é um processo que aconteceu praticamente só em 1941. Todas as condições presentes no Pantanal são piores que em 2020. O nível de biomassa (matéria orgânica disponível no solo, muito inflamável) é maior, a seca é mais prolongada, e o volume de chuva está abaixo da média dos últimos 10 anos. Então todas as condições, do ponto de vista de possibilidade de incêndio floresta, são extremamente adversas — explicou Verruck.

O secretário argumentou, por outro lado, que a estrutura de resposta hoje é melhor do que em 2020. Ele explicou que as ações estão coordenadas entre brigadistas, Ibama e setor privado, e que foi solicitada a liberação de recursos federais para apoio nas ações de combate. Nesta sexta (28), os ministros Waldes Góes, do Desenvolvimento Regional, Marina Silva, do Meio Ambiente, e Simone Tebet, do Planejamento, estarão em Corumbá (MS), para acompanhar os trabalhos locais.

— É importante que todas as ações estejam coordenadas. Ainda não chegamos no período mais crítico das mudanças climáticas, que será em agosto e setembro. Tendem a ser mais severos do que qualquer agosto e setembro de períodos anteriores — disse o secretário, que destacou que o governo acabou de ampliar as permissões para aceiros no Pantanal, a pedido dos Bombeiros, a fim de aumentar as linhas de "corta fogo" entre propriedades rurais.

A coronel Tatiane Inoue, diretora de Proteção Ambiental dos Bombeiros, disse que a Operação Pantanal foi iniciada há 87 dias, o que permitiu ações de combate que evitaram agravamento dos incêndios. Com a operação, foram montadas 13 bases avançadas no bioma. Ela citou como exemplo uma ação de abril, na divida com o Mato Grosso.

— Esse fogo só queimou 9 hectares na nossa área. Se não tivesse a base avançada em Corumbá, poderia queimar 200 hectares. Reignição (quando um foco de incêndio já combatido retorna) é uma realidade, mas com resposta rápida conseguimos minimizar os danos — explicou Inoue. — As condições para 2024 são extremas.

Governador afirma que sabia do fogo e estava preparado

O governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), disse que as condições adversas serão minimizadas com a coordenação de trabalhos. Ele negou que o governo esteja despreparado para enfrentar o problema.

— Tinha como saber que ia pegar fogo. A gente sabia e estava preparado — afirmou o governador.


Fonte: O GLOBO