Esse achado corresponde ao último avanço do mar no delta do rio Paraná durante o período Holoceno; segundo explicaram os paleontólogos, o fragmento foi preservado em perfeito estado.

San Pedro voltou a ser notícia esta semana depois que dois homens pescaram por engano o crânio de um golfinho de 5000 anos na fronteira do município, na província de Buenos Aires. A descoberta foi imediatamente divulgada devido à surpresa pelo estado intacto do osso. Segundo o Museu Paleontológico de San Pedro, na Argentina, sua presença no riacho Baradero se deve ao último avanço do mar no delta do Paraná, no período Holoceno.

Essa cidade bonaerense costuma atrair a atenção de cientistas e diferentes especialistas paleontológicos por ser um importante local de descoberta de objetos milenares que ainda estão preservados em seu solo. Desde um tatu até tigres-dentes-de-sabre e outros restos fósseis, os elementos que podem ser descobertos se alguém investigar profundamente o terreno não conhecem limites. Foi o que aconteceu com os pescadores Damián Crispien e Pablo Silva, que nunca imaginaram que, em vez de pegar um peixe da água, retirariam uma relíquia histórica.

O crânio do golfinho tem 60 centímetros de comprimento por 35 centímetros de largura. De acordo com detalhes do museu, esta espécie pertencia aos "nariz-de-garrafa" (Tursiops truncatus) devido à sua forma de bulbo. Além disso, esse tipo de exemplar é famoso no mundo por ter características de raciocínio semelhantes às dos seres humanos.

O material ósseo foi encontrado na área conhecida como Bajo del Tala, dentro do município de San Pedro e a 400 quilômetros para o interior do litoral marítimo atual, tornando este evento de grande importância para o campo científico.

Durante o período Holoceno - que remonta a entre 7000 e 3500 anos - o mar avançou no Rio da Prata e ocupou o leito do rio Paraná. Lentamente, ele inundou as bacias e chegou a Rosario. Por isso, no passado, foram descobertos diferentes fragmentos de baleias e outras espécies marinhas que nada tinham a ver com o ambiente natural daquela região.

O golfinho nariz-de-garrafa é famoso por ter padrões de comportamento semelhantes aos dos seres humanos — Foto: Museo Paleontológico de San Pedro

O Dr. Sergio Bogan, da Divisão de Ictiologia do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia (MACN-CONICET) e o Dr. Sergio Lucero, da Divisão de Mastozoologia, da mesma instituição, participaram da pesquisa e afirmaram que esse tipo de golfinho seria classificado dentro do gênero Tursiops, que habita diferentes partes do mundo, em regiões tranquilas e estuários marinhos.

Enquanto isso, o diretor do Museu Paleontológico de San Pedro, José Luis Aguilar, destacou: "Esta descoberta é o primeiro registro de golfinhos para o norte da província de Buenos Aires e sul de Entre Ríos, relacionado ao último avanço do mar no continente. Em outras ocasiões, recuperamos restos desse avanço em nossa região: conchas, ostras e até vestígios de uma antiga praia marinha. Em certas ocasiões, foram encontrados restos fragmentados de baleias. Mas nunca o crânio completo de um golfinho".

E acrescentou: "É um exemplar extremamente bem preservado e proporcionará uma excelente oportunidade para estudar outra das espécies marinhas que se adentraram no continente naquele evento global. Anteriormente, foram datadas amostras de vertebrados marinhos em localidades vizinhas, como Baradero e Ramallo, que apresentaram antiguidades variando de 5000 a 6000 anos. O estado da peça recuperada e suas características de conservação nos permitem inferir que este material é do mesmo intervalo temporal".


Fonte: O GLOBO