Cidade no extremo sul de Gaza recebeu cerca de 1,5 milhão de deslocados pelo conflito, que não tem para onde ir; militares israelenses criaram zona humanitária a 10 km da região
“As FDI incentivam os residentes do leste de Rafah a avançar em direção a uma área humanitária expandida”, disseram os militares em um comunicado, afirmando que a operação teria escopo limitado. “As FDI expandiram a área humanitária em al-Mawasi para acomodar o aumento dos níveis de ajuda que flui para Gaza. Esta área humanitária expandida inclui hospitais de campanha, tendas e maiores quantidades de alimentos, água, medicamentos e suprimentos adicionais”.
A evacuação civil demandada por Israel exigiria a retirada de 100 mil pessoas da área leste de Rafah. Um morador da cidade disse à AFP que algumas pessoas receberam mensagens de voz nos seus telefones com pedidos para que deixassem a área e mensagens de texto com um mapa indicando para onde seguir. Segundo o comunicado dos militares israelenses, a zona humanitária fica a cerca de dez quilômetros da cidade.
O anúncio foi emitido após um ataque com foguetes lançado pelo Hamas, no domingo, matar quatro militares israelenses no posto de fronteira de Kerem Shalom. A passagem entre Israel e Gaza foi fechada, limitando a entrada de ajuda humanitária no enclave. Em Rafah, moradores descreveram a noite como "aterrorizante", em meio a bombardeios israelenses. Autoridades locais confirmaram a morte de 16 pessoas.
A troca de hostilidades e a escalada israelense em direção à invasão por terra de Rafah ocorre em um momento em que o foco estava nas negociações de cessar-fogo mediadas por Catar, Egito e Estados Unidos. No sábado, uma delegação política do Hamas desembarcou no Cairo, criando expectativa de que um acordo seria assinado em questão de horas. No entanto, o impasse sobre o cessar-fogo, se temporário ou definitivo, foi decisivo para que não houvesse acordo entre as duas partes.
Uma fonte de alto nível dos serviços de inteligência do Egito, citada pela rede al-Qahera News, afirmou que o ataque de domingo, que matou quatro soldados israelenses, "fez com que as negociações de trégua paralisassem".
Mesmo com as negociações em curso, Israel reafirmou a intenção de lançar uma operação militar por terra contra Rafah incessantemente. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou no domingo que aceitar as "exigências" do Hamas para acabar com a guerra em Gaza seria uma "derrota terrível para o Estado de Israel" e o equivalente a uma "rendição".
Em uma conversa com tropas, no domingo, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou que o "Hamas não pretende chegar a um acordo sobre reféns e um cessar-fogo" e que "uma ação intensa em Rafah" era esperada "em um futuro próximo".
Crianças palestinas entre escombros de casa destruída por bombardeio israelense em Rafah, no sul da Faixa de Gaza — Foto: AFP
A operação é contestada por aliados israelenses, dos EUA à Europa, por se tratar de um ataque contra uma região para onde cerca de 1,5 milhão de pessoas de outras partes do território se deslocaram com a guerra. Israel justifica que batalhões do Hamas se escondem na cidade, em meio aos civis. Washington já havia comunicado a Israel que não apoiaria uma ação contra a cidade. Autoridades europeias reforçaram o contragosto à medida após a movimentação desta segunda.
"As ordens de evacuação de Israel para os civis em Rafah pressagiam o pior: mais guerra e fome. É inaceitável. Israel deve renunciar a uma ofensiva terrestre e implementar a Resolução 2728 do CSNU. A UE, juntamente com a comunidade internacional, pode e deve agir para evitar tal cenário", escreveu o chanceler da União Europeia, Josep Borrell, em uma publicação na rede social X (antigo Twitter).
Em um comunicado separado, o Ministério das Relações Exteriores da França declarou "forte oposição" à ofensiva israelense contra Rafah. "O deslocamento forçado de uma população civil constitui um crime de guerra", disse a chancelaria francesa. (Com AFP)
Gonte: O GLOBO
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