Em nota, o colégio Sigma reforçou seu compromisso com a educação antirracista e informou que tem prestado atendimento e acolhimento às famílias e aos alunos envolvidos
Um adolescente de 14 anos foi alvo de racismo em uma escola particular no bairro Asa Sul, em Brasília. O incidente ocorreu durante uma partida de futebol em março deste ano, mas só veio à tona na manhã desta segunda-feira após os pais, Sabryna Melo, de 46 anos, e Luiz Cláudio Oliveira, de 51 anos, denunciarem o caso. Por meio de nota, a escola informou que tem prestado atendimento às famílias e aos alunos envolvidos no incidente.
— Acionamos nossos advogados que estão acompanhando o caso tanto civil como criminalmente para que essa questão não morra como se fosse um problema banal entre adolescentes —, disse a mãe ao GLOBO.
Segundo o boletim de ocorrência, registrado na Polícia Civil do Distrito Federal, o jovem chegou em casa mais calado e quieto no dia 18 de março de 2024, comportamento que continuou no dia seguinte. Durante o trajeto para a escola em 19 de março, o pai do adolescente notou a introspecção do filho, que não conversou como de costume.
Por volta das 13h, a coordenadora da escola enviou uma mensagem informando que o estudante havia sido vítima de racismo. O adolescente relatou que, no recreio do dia anterior, um colega o chamou de "macaco" e disse para ele voltar "para sua terra ou para a senzala". A mesma ofensa foi repetida no dia seguinte, próximo às salas de aula. Preocupados com a gravidade da situação, os pais foram pessoalmente ao colégio e se reuniram com o diretor pedagógico e coordenadores, que confirmaram os fatos.
Sabryna Melo, mãe do jovem, relatou ao GLOBO a frustração e a dor de ver seu filho sofrer racismo dentro do ambiente escolar.
— O que nos levou a encaminhar o caso para a Justiça é essa ideia de impunidade. Meu filho é um menino preto e sempre será visto assim, onde quer que ele vá —, afirmou.
A mãe ainda disse ainda que transferir o filho para outra escola não resolveria o problema, pois ele continuaria sendo um "menino preto" em qualquer lugar. Ela enfatizou que tirar o filho da escola seria uma solução fácil para o agressor e não mudaria a realidade enfrentada pelo adolescente.
— Punir meu filho por ser vítima seria injusto. Se o agressor está incomodado com meu filho, ele é quem deve se retirar —, disse Sabryna.
Os pais esperam que o caso traga mudanças significativas no ambiente escolar e na postura da instituição frente ao racismo.
— Queremos que nosso filho se sinta à vontade para transitar por todos os lugares e que ele possa ser o que quiser sem ser diminuído por conta da cor —, afirmou a mãe.
Ela também ressaltou a necessidade de maior representatividade de professores negros na escola, criticando a atual minoria existente.
— Não vamos recuar. Queremos garantir que essa dor que sentimos não seja refletida em mais nenhuma família.
Os advogados da família, Bruno Christy A. Freitas e Ailton Rodrigues de Oliveira, afirmaram que a expulsão do aluno agressor é "o mínimo que podemos esperar". As infrações denunciadas são ato infracional, injúria racial e discriminação racial, conforme previsto na Lei 7.716/1989.
Em nota, o colégio Sigma reforçou seu compromisso com a educação antirracista e informou que tem prestado atendimento e acolhimento às famílias e aos alunos envolvidos. A instituição afirmou que o estudante que proferiu as ofensas recebeu sanção disciplinar conforme o regulamento da escola, e que o caso foi encaminhado ao Conselho Tutelar.
Questionado sobre quais seriam as sanções disciplinares o aluno que cometeu as ofensas racistas recebeu, o colégio respondeu: "As sanções foram a suspensão do aluno das atividades regulares combinada à realização de trabalhos pedagógicos durante esse período. Além do imediato diálogo com os responsáveis que assinam um termo de ajuste de conduta".
* Estagiário sob supervisão de Daniel Biasetto
Fonte: O GLOBO
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