Siderúrgicas brasileiras pedem que Imposto de Importação aumente para 25%. Hoje, as alíquotas estão em 11%
O Comitê Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) deve analisar o pleito do setor siderúrgico para elevar, também a até 25%, as tarifas de importação de aço. Segundo interlocutores do governo, estão incluídos laminados, chapas e tubos.
Hoje, as alíquotas brasileiras estão em torno de 11%. O setor alega que há uma invasão de aço no Brasil, originário, principalmente, da China e da Rússia.
A Camex é formada por dez ministérios. Junto com o argumento de que um setor inteiro pode fechar empresas e demitir, há a preocupação com a inflação, já que um aumento de tarifa acaba tendo impacto nos preços ao consumidor.
Da parte dos grandes compradores de siderúrgicos, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso, afirma que uma alta da tarifa para 25% faria com que o preço interno subisse 15%.
— Se o problema é o aço chinês, por que não pedir uma investigação por dumping ou subsídio? Por que não podemos comprar os produtos de outros países? — perguntou Velloso.
Já o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Marcelo Leite, disse que o aço representa o maior custo dos produtos. Leite afirmou que o segmento reconhece a importância de as indústrias siderúrgicas brasileiras se fortalecerem para concorrer com os importados e sugeriu que sejam realizados estudos, junto com o governo e todos os integrantes da cadeia.
— Queremos uma cadeia do aço pujante, com bastante vigor. Mas não se trata apenas de uma análise restrita à tarifa, e sim de encontrar formas de aumentar a competitividade — enfatizou Leite.
Em fevereiro deste ano, cinco produtos de aço que tiveram as tarifas de importação reduzidas em 2022 voltarão a pagar as alíquotas originais para entrar no país. O Gecex aprovou a medida, atendendo parcialmente a pedidos dos produtores nacionais, que alegavam concorrência desleal.
Há dois anos, o governo rebaixou unilateralmente em 10% o Imposto de Importação de uma série de insumos industriais. Segundo o Gecex, a decisão representava uma recomposição e o órgão continua a analisar pedidos para restaurar a alíquota de outros produtos abrangidos pela redução das tarifas.
Nos EUA, medida mais política que econômica
Nos Estados Unidos, Joe Biden, que disputa a reeleição, pediu ao Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR, sigla em inglês) para triplicar as tarifas atuais, de 7,5% em média, impostas a uma parte do aço e do alumínio chineses importados pelos Estados Unidos.
— As siderúrgicas chinesas não precisam se preocupar em lucrar, porque o governo chinês as subsidia. Não competem, trapaceiam — afirmou o presidente americano em Pittsburgh, na sede do sindicato United Steelworkers, que reúne os trabalhadores do setor. — Eu não quero um confronto com a China, mas sim uma concorrência justa.
Analistas, porém, consideram a medida mais política que econômica. Colin Hamilton, diretor-gerente de Commodities da gestora BMO Capital Markets, disse à Bloomberg que apenas 2% do aço e 4% do alumínio usados nos EUA ano passado vieram da China.
Pequim, no entanto, denuncia o que chama de “falsas acusações” de Washington. Em nota, o Ministério do Comércio chinês afirma que a investigação do USTR “interpreta de forma equivocada as atividades normais de comércio e investimentos como prejudiciais para a segurança nacional e os interesses das empresas americanas.” E acrescentou que os EUA “impõem os seus próprios problemas industriais à China.”
Os anúncios da Casa Branca são feitos em um contexto de forte rivalidade com a China, apesar do diálogo renovado entre as duas maiores economias mundiais.
O governo Biden mencionou “a preocupação crescente com o fato de as práticas comerciais desleais da China, como inundar o mercado com aço vendido abaixo do custo de mercado, estejam distorcendo o mercado global da construção naval e corroendo a concorrência.”
UE e América Latina
Além disso, a União Europeia acusa de Pequim de distorcer o mercado local, ao inundá-lo com produtos de baixo preço.
Na América Latina, a indústria siderúrgica, que gera 1,4 milhão de empregos, também pede maiores tarifas de importação. A principal siderúrgica chilena, Huachipato, anunciou recentemente a suspensão paulatina de suas operações se não receber uma proteção tarifária, pressionada pela avalanche de aço chinês comercializado até 40% mais barato do que o produzido no Chile. Cerca de três mil postos de trabalho estão em risco, afirma a empresa.
(Com agências internacionais)
Fonte: O GLOBO
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