Policiais penais agora fazem revistas diárias nos aposentos da dupla

Após 51 dias de fuga, os dois fugitivos do presídio federal de Mossoró (RN) — recapturados na última quinta-feira — encontraram uma penitenciária diferente da que escaparam em 14 de fevereiro. Presos em Marabá (PA), a mais de 1.600 quilômetros da cidade potiguar, Deibson Nascimento e Rogério Mendonça foram levados de volta à unidade de segurança máxima.

Eles estão hoje encarcerados em duas vivências (como são chamados os pavilhões) separadas e têm uma rotina distinta da que levavam antes da fuga. Nesta terça-feira, eles saíram das celas para tomar o primeiro banho de sol de 2 horas — cada um em um horário diferente, para não terem nenhum contato entre si.

Diferente do que ocorreu em fevereiro, os policiais penais agora estão fazendo revistas diárias nos aposentos da dupla. Para substituir a falta das muralhas, que devem começar a ser construídas até julho, os servidores passaram a fazer escoltas no entorno da unidade. As 124 câmeras, que estavam inoperantes no dia da fuga, também já começaram a ser trocadas.

Na terça-feira, os dois presos foram analisados em um exame de corpo delito por determinação do juiz-corregedor Walter Nunes. A decisão foi tomada para apurar supostas denúncias de agressão sofridas por Rogério Mendonça. A defesa dele alegou que ele foi “espancado” e “torturado” depois que retornou ao presídio.

"O defendente relatou que vem sofrendo violência física por parte de policiais penais na penitenciária federal e que tais agressões deixaram vestígios", escreveu a defesa de Mendonça representada pelas advogadas Flavia Froes e Aline Fernandes.

O resultado do exame ainda não foi divulgado, mas o juiz já definiu três dias para a direção do presídio prestar informações e fornecer as “imagens e os sons captados pelas câmeras de vigilância no corredor onde está localizada a cela do referido interno", conforme o despacho. Diferente do companheiro, Nascimento não relatou nenhuma agressão.

Antes da fuga, Mendonça e Nascimento estavam em celas contíguas do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), a 01 e a 02, que possuíam um “solarium” — uma pequena área anexa que recebia raios de sol. Desta maneira, eles não saíam para o banho de sol. A dupla estava na ala mais rígida como uma espécie de punição por terem participado de um motim em um presídio do Acre, que terminou com a morte de cinco detentos.

Segundo as investigações, os dois planejaram a fuga juntos se comunicando por entre as paredes, as quais eles escavaram atrás dos vergalhões. Esses objetos foram utilizados para arrancar a luminária e, deste modo, abriram uma passagem para fora da cela. Depois, acessaram um vão onde ficam as tubulações de água, eletricidade e ventilação. Isso lhes permitiu sair do prédio para a área externa.

Enquanto os dois estavam foragidos, o presídio passou por reformas estruturais — os vãos, ou "shafts", foram gradeados e as paredes reforçadas.

A dupla contou com uma falha grave nos procedimentos de segurança do presídio de Mossoró para conseguir fugir. As celas onde eles estavam abrigados ficaram pelo menos 30 dias sem ser revistadas. Assim, eles passaram despercebidos ao escavar as paredes. Investigação interna da corregedoria da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) não encontrou indícios de corrupção, mas a PF abriu um inquérito para apurar se houve facilitação na fuga.

Além das mudanças na estrutura, o presídio está sob nova direção. Assumiu Carlos Luis Vieira Pires, que era diretor da penitenciária federal de Catanduvas (PR). O presídio também está mais esvaziado. Em março, Fernandinho Beira-mar, um dos líderes do Comando Vermelho, e mais 22 presos, foram transferidos de lá para outras unidades federais. Com isso, hoje há mais policiais penais supervisionando a dupla, que antes da fuga não tinha tanto status no mundo do crime organizado.

Áudios obtidos pela Polícia Federal, e divulgados pelo Fantástico, mostram que os fugitivos chegaram a comemorar os momentos de liberdade durante a fuga.

— Eu tô livre, curtindo a vida. Eu to bem, graças a Deus, cheio de saúde, força, liberdade, pegando um ventozão aqui — disse Mendonça, em uma conversa grampeada.

A defesa de Mendonça agora pede à Justiça que ele receba atendimento de um psiquiatra, pois ele está tendo “pensamentos de autoextermínio”. As advogadas dos recapturados afirmam que eles decidiram fugir da cadeia porque estavam há meses como “enterrados vivos”, sem direito ao banho de sol.


Fonte: O GLOBO