Esperança de mais espetáculo e menos polêmicas se esvai já na abertura do Brasileiro

A cada início de Brasileiro, renova-se a esperança de que teremos mais espetáculo e menos polêmicas. Mas basta a bola rolar para a realidade se impôr. A vitória do Flamengo sobre o Atlético-GO (2 a 1), neste domingo, foi uma reunião de alguns dos maiores problemas do esporte no país. Sob um gramado de dar vergonha, o jogo foi tumultuado pela arbitragem confusa e de critérios pouco compreensíveis.

Tantos destaques negativos roubaram os holofotes do que realmente deveria importar. Como o golaço de falta de De La Cruz, que abriu o placar no fim do primeiro tempo. A bola encaixada no ângulo, apenas observada pelo goleiro Ronaldo, lembrou as cobranças de Zico nos anos 1980. Foi o primeiro do uruguaio no Flamengo.

Em vez disso, fica o debate — repetitivo, mas nunca superado — de quando o futebol brasileiro irá se valorizar enquanto produto. Imagine como são recebidas no país e no exterior as imagens do funcionário do Serra Dourada dando “marteladas” numa parte estufada do gramado formada por problema de irrigação?

Não precisa ir tão longe. Os próprios jogadores e a comissão técnica do Flamengo ficaram indignados. “Isso não tem condição”, reclamou Gerson, do banco de reservas, de acordo com a reportagem do Premiere.

O Atlético-GO não costuma mandar jogos no Serra Dourada. Mas decidiu levar o duelo com o Flamengo para lá pela capacidade maior (e cogita fazer o mesmo contra o São Paulo, no domingo que vem). Pensou na receita, fechou os olhos para as condições de trabalho dos atletas. Além das partes estufadas, foram muitos tufos de grama voando e areia subindo de acordo com o vai e vem dos jogadores.

Antes fossem estes os únicos problemas. Quem conseguiu atrapalhar ainda mais a disputa em campo foi a arbitragem liderada por André Luiz Skettino. A começar pela expulsão de Jair Ventura, com apenas 13 minutos de bola rolando. Foi a primeira reclamação do treinador do Atlético-GO. Naquele momento, o excesso de rigor indignou até mesmo Tite, que saiu em defesa de seu companheiro de profissão. Porém, após a partida, o técnico do rubro-negro carioca recuou.

— Eu falei que o árbitro tem que ter um pouco mais de sensibilidade para administrar algumas situações. Porém, também tenho que falar a verdade, que o árbitro falou que foi ofendido. E aí é justificado.

Ainda no fim do primeiro tempo, nova polêmica. Aos 47, o zagueiro Alix Vinicius tentou cortar a bola conduzida por Pedro. Mas furou e acertou o atacante. Levou vermelho. Se a cor do cartão é discutível, a falta não. E foi aí que De La Cruz pôs o Flamengo à frente no placar.

Na etapa final, a arbitragem seguiu como protagonista da partida. Aos 37, o VAR apontou um impedimento muito questionado e anulou o que seria o segundo gol do Atlético-GO (Luiz Fernando empatara aos 18).

Para completar, nos acréscimos, Skettino levou cerca de quatro minutos analisando no monitor a cotovelada de Maguinho em Bruno Henrique. O corte na boca do atacante deixou clara a infração, e o tempo de demora acirrou ainda mais os ânimos. Ao fim, o pênalti foi marcado, e o lateral foi expulso. Pedro não perdoou e converteu, já aos 57.

Foram tantos momentos de discussão e de indecisão da arbitragem para tomar decisões que o segundo tempo durou 63 minutos. Ao todo, o jogo somou 119. Praticamente duas horas.

— Creio que a gente fez uma grande partida. Quem estragou foi o árbitro. Ele só fez m..., cagou o jogo todo. Para mim, veio já mal-intencionado — desabafou Luiz Fernando, do Atlético-GO. — Botaram o cara aqui para roubar na nossa casa. A CBF tem que tomar uma atitude.

Ainda que tenha sido ofuscada pelas polêmicas e pelo placar, a atuação do Flamengo também foi um capítulo da história do jogo. Mesmo com um a mais desde o fim do primeiro tempo e 68% de posse de bola, o rubro-negro sofreu. Desfalcado, o Atlético conseguiu finalizar duas vezes na direção do gol, acertou a trave e obrigou Rossi a trabalhar na etapa final. A virada esteve muito perto para o time da casa ao menos duas vezes: no pênalti (cometido de forma amadora por Leo Pereira) desperdiçado por Shaylon, aos 25; e no gol anulado.

— O Atlético vem de 15 vitórias, é o atual campeão estadual, jogando dentro da sua casa — argumentou o auxiliar Cleber Xavier. — Foi o jogo onde a gente menos criou. Num jogo duro como foi, fomos duros e conseguimos a vitória. Não vai ser sempre que vamos ser infinitamente superiores ao adversário. Algumas vezes teremos dificuldades.

A vitória dá ao Fla a chance de aprender com as lições deixadas sem desgastes. Na quarta-feira, o time recebe o São Paulo, no Maracanã.


Fonte: O GLOBO