A economia brasileira cresceu 2,9% no primeiro ano do governo Lula 3, segundo dados do Produto Interno Bruto (PIB), divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira. O desempenho é superior ao observado no início do mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2019, e também ao longo do primeiro ano de governo de Michel Temer e de Dilma Rousseff 2.

Com o resultado divulgado nesta sexta-feira, a economia brasileira voltou ao grupo das dez maiores economias globais. E, apesar da estabilidade nos dois últimos trimestres, analistas trabalham com cenário positivo para 2024.

Veja a seguir como foi o desempenho dos primeiros anos de mandatos de outros presidentes:

— Foto: Arte O Globo

Pela ótica da oferta, o ano de 2023 foi impulsionado principalmente pela alta do agronegócio. O setor teve a melhor safra de grãos da História do país no ano passado. O bom desempenho dos serviços também contribuiu para o resultado positivo da economia ao longo do ano.

O crescimento em 2023 só perde para três outros períodos da história recente, nesta comparação: o primeiro ano do governo Dilma 1 (4%), o primeiro ano do segundo mandato de Lula 1 (6,1%) e o primeiro ano do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (FHC), com 4,4%.

O primeiro ano de mandato é crucial para dar o tom da gestão de um presidente, explica Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Primeiro ano é crucial, diz analista

Isso porque, no ano pós eleição, o governo tem mais espaço - tanto de tempo quanto de capital político-econômico - para emplacar suas reformas e fazer os ajustes que julga necessário em prol do crescimento econômico.

— É o momento em que o governo tem que mandar o Orçamento para o Congresso e tem uma abertura maior para fazer política econômica de acordo com o que o Executivo pensa. No segundo ano de governo já tem eleição municipal, que é um elemento que atrapalha o andamento de reformas.

Veja, abaixo, os principais fatos econômicos nos mandatos presidenciais desde o Plano Real, que estabilizou a economia dando fim à hiperinflação:

Fernando Henrique Cardoso 1 (1995): 4,2%

O primeiro ano do mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso registrou alta de 4,4% no PIB, surfando no bom momento da economia iniciado com o Plano Real, criado na gestão de FHC à frente do Ministério da Fazenda e implantado em julho de 1994, dando fim a décadas de hiperinflação no país.

FHC 2 (1999): 0,5%

O país passou por uma maxidesvalorização em janeiro de 1999, quando acabou o regime cambial adotado nos primeiros anos do Plano Real para ajudar no controle da inflação. Isso aumentou o déficit nas contas externas do país, elevou a dívida pública e quase levou o país a recessão. Na economia internacional, vários países emergentes como o Brasil viveram crises cambiais nesse período.

Lula 1 (2003): 1,1% mm

Foto oficial de Lula como presidente, em 2003 — Foto: Ricardo Stuckert

Depois de uma eleição difícil, em que o câmbio brasileiro disparou, o primeiro ano de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcou uma mudança de orientação na política econômica. “Lula pagou um pouco o preço dos ajustes que tiveram que ser feitos por conta da sua eleição", avalia Vale.

O boom das commodities, com o avanço da China e a recuperação da economia global, ajudou nas exportações brasileiras. O governo fez uma Reforma da Previdência que endureceu as regras de aposentadoria dos servidores públicos.

Lula 2 (2007): 6,1%

O aumento de renda da população, graças à geração de emprego e a programas sociais como o Bolsa Família, estimularam o consumo. Além disso, a inflação sob controle e saldos comerciais expressivos criaram um ambiente mais favorável para investimentos. O cenário internacional também era favorável, com taxas de juros muito baixas. Foi também neste ano que o Brasil se tornou credor do FMI (Fundo Monetário Internacional) após saldar sua dívida com a instituição em 2005.

Dilma Rousseff 1 (2011): 4%

Dilma Rousseff durante a posse em janeiro de 2011 — Foto: Agência Senado

O primeiro ano do primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff capturou efeitos do forte crescimento econômico observado em 2010, último do governo Lula e ano das eleições presidenciais, quando um aumento dos gastos públicos iniciado pós crise global de 2008 se acelerou e ajudou na alta do PIB.

Dilma 2 (2015): -3,6%

Já o primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff foi marcado pela queda de mais de 3,% do PIB brasileiro. Para Vale, a retração da economia foi o pagamento dos sucessivos erros econômicos do governo. Naquele ano, a crise política interna e as políticas de ajuste fiscal afetaram o desempenho da atividade econômica. A queda nos preços das commodities também foi um vento contrário.

Michel Temer (2017): 1,3%

O ex-presidente Michel Temer assumiu o poder após o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016 — Foto: Jorge William / Agência O Globo

O PIB brasileiro mostrou sinais de recuperação ao longo do primeiro ano do mandato de Michel Temer, que assumiu interinamente em maio de 2016 após o início do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Temer tornou-se presidente de forma definitiva após o afastamento de Dilma, em 31 de agosto daquele ano.

O ano de 2017, portanto, é o primeiro ano do seu mandato em que ficou no cargo do início ao fim.

A recuperação das economias globais aumentou a demanda por commodities. E o Banco Central reduziu as taxas de juros, de 13,75% no início do ano para 7,5% no fim do ano, estimulando o consumo das famílias e os investimentos.

O mercado de trabalho começou a se recuperar após a crise econômica de 2015 e 2016. Além disso, a adoção do programa de recuperação fiscal e a aprovação da Reforma Trabalhista buscavam tornar mais favorável o ambiente de negócios no país.

Jair Bolsonaro (2019): 1,2%

O presidente eleito Jair Bolsonaro durante cerimônia de posse no Congresso, em 2019 — Foto: NELSON ALMEIDA / AFP

No primeiro ano do governo Bolsonaro, a agenda de reformas e corte de gastos deu o tom da política econômica. A taxa básica de juros Selic seguiu em patamar baixo (6,5%) e ficou estável ao longo de quase todo ano. A Reforma da Previdência foi aprovada em novembro.

— Foi um período reformista (durante os primeiros anos de Temer e Bolsonaro), mas o crescimento não conseguiu engatar — afirma Vale.

O economista lembra da aprovação da Reforma da Previdência no primeiro ano do governo Bolsonaro como um dos principais feitos, na direção de melhorar a sustentabilidade fiscal e atrair investimentos. Mas faltou, tanto no governo de Temer quanto no de Bolsonaro, um impulso das commodities nos anos iniciais, como o observado no primeiro ano do Lula 3:

— Tudo o que não tivemos no primeiro ano de Bolsonaro e de Temer, a gente teve ao longo de 2021, 2022 e 2023. Foram três anos de expansão forte de preço, de câmbio e de volume. Tivemos uma super safra em 2023 e uma distância muito forte de preço, de câmbio, em 2021 e 2022. E, para as commodities, isso foi excepcional. Não tinha isso (esse cenário positivo da agropecuária) na época do Bolsonaro e do Temer.

Lula 3 (2023): 2,9%

A supersafra do setor agrícola, no primeiro semestre, manteve a economia aquecida. Uma recuperação do mercado de trabalho e do setor de serviços, a manutenção de gastos sociais e o maior espaço fiscal aberto pela PEC da Transição (aprovada após as eleições de 2022) proporcionaram um crescimento maior do PIB.

— Para 2024, a economia não vai ter mais esse peso todo das commodities como foi ano passado. O crescimento econômico vai ser ditado de acordo com os juros. O crescimento será mais fraco, em torno de 2% — conclui Vale.


Fonte: O GLOBO