CEO ficará no cargo até dezembro e, no ano seguinte, atuará como consultor. Novo presidente será escolhido por empresa de recrutamento

A Vale anunciou na noite de sexta-feira que seu Conselho de Administração estendeu o mandato do CEO Eduardo Bartolomeo até 31 de dezembro enquanto busca um sucessor para o cargo. Para Igor Guedes, analista do setor de Metais e Mineração da Genial Investimentos, a decisão abre brecha para que a companhia continue a ser pressionada pelo governo.

— Como estenderam o mandato até o fim de 2024, daqui a poucos meses, a discussão (em torno da sucessão) volta de novo. E nesse meio tempo o governo pode continuar pressionando — argumenta ele, entendendo haver uma divergência clara no Conselho da companhia sobre a gestão.

Ele teme que os ruídos atrapalhem a companhia:

— Existem ruídos atrapalhando o papel da Vale a ganhar tração, atrapalhando a companhia a surfar a onda de desempenho operacional favorável. Esses ruídos são a lentidão na decisão sobre o CEO, a atuação do (presidente) Lula e as negociações em torno do pacote de indenizações (do desastre da Samarco) em Mariana.

Guedes continua:

— Para o investidor, o maior risco é de ingerência política.

A escolha do novo presidente da Vale será feita a partir de uma lista de indicados elaborada por uma empresa de recrutamento de executivos. Bartolomeo atuará como consultor da compahia até 2025.

Eduardo Bartolomeo, presidente da Vale — Foto: Divulgação/Vale

A decisão da diretoria não foi unânime. Dois diretores se opuseram a essa solução, segundo fontes da Bloomberg.

Bartolomeo, que assumiu o comando da Vale há cinco anos, declarou publicamente no início de dezembro seu desejo de permanecer como CEO após o término de seu mandato atual em 26 de maio.

Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionava pela saída do executivo. Inicialmente, a ideia era colocar o ex-ministro Guido Mantega no cargo de CEO da Vale, mas o estratégia teve má repercussão.

Lula, então, elevou o tom das críticas à Vale, especialmente em relação aos desastres em minas da companhia em Brumadinho — que deixou mais de 270 mortos — e em Mariana — onde a mineradora opera a Samarco em parceria com a BHP.

Ele chegou a dizer que a mineradora “precisa prestar contas ao Brasil”.

Na quinta-feira, Lula voltou a falar sobre a Vale em discurso público, afirmando que o governo vai fechar um acordo com a companhia para indenização de pessoas que foram vítimas de desastres ambientais.

Em nota, o presidente do Conselho de Administração da Vale, Daniel Stieler, agradeceu o "empenho e dedicação" de Bartolomeo. "Seguiremos conduzindo o processo sucessório de forma diligente e cumprindo com rigor as políticas internas da companhia”, afirmou.

Já Bartolomeo afirmou em comunicado que vai "garantir uma transição bem-sucedida para a nova liderança".


Fonte: O GLOBO