Os depoimentos dos ex-comandantes da Aeronáutica e do Exército trouxeram detalhes sobre os bastidores da trama golpista que ajudaram a complicar a situação de Jair Bolsonaro, mas, para a Polícia Federal, o alvo que mais interessa agora não é o ex-presidente.
A mira da PF está voltada mesmo contra o general e candidato à chapa da reeleição Walter Braga Neto.
Isso porque os investigadores consideram que a atuação de Bolsonaro no caso está esclarecida, mas há indícios de que Braga Neto teve atuação decisiva na coordenação, mobilização e na captação de recursos para os ataques que resultaram na invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro, depois que a trama golpista arquitetada para impedir a posse de Lula fracassou.
O roteiro do 8 de janeiro – como foi planejado, quem comandou, quem atuou e quem financiou – não vai ser elucidado no inquérito que apura a trama golpista, em que foram tomados os depoimentos dos ex-comandantes das Forças Armadas.
Mas vários dos elementos colhidos nesse inquérito serão remetidos a outro, o das milícias digitais, que também está no Supremo sob o comando do ministro Alexandre de Moraes, e que tem entre seus objetivos chegar aos responsáveis pelo 8 de janeiro.
Entre eles está uma troca de mensagens de 27 de dezembro de 2022 em que Braga Neto é questionado por um assessor de Bolsonaro, Sérgio Rocha Cordeiro, para quem poderia enviar o currículo de uma mulher para trabalhar no governo.
Faltavam três dias para a posse de Lula, que já tinha sido inclusive diplomado pelo Tribunal Superior Eleitoral, mas Braga Netto respondeu: "“se continuarmos, poderia enviar para a Sec. Geral. Fora isso vai ser foda".
Para a PF, a mensagem é um sinal de que " o investigados ainda estavam empreendendo esforços para tentar um Golpe de Estado e acreditavam na consumação do ato, impedindo a posse do governo legitimamente eleito".
O fato de que Braga Netto também ordenava que se fizessem ataques nas redes bolsonaristas a militares que se recusavam a aderir à tentativa de golpe também indica que ele tinha acesso e comando sobre as milícias digitais que atuaram na mobilização de apoiadores do ex-presidente para a "Festa da Selma" – código usado entre eles para se referir ao 8 de janeiro.
Para a PF, depois que perderam seus gabinetes na Esplanada dos Ministrios e passaram a se articular a partir dos acampamentos nas portas de quartéis Brasil afora, os chefes golpistas de Bolsonaro se tornaram ainda mais dependentes das redes de mensagens no WhatsApp e Telegram, por exemplo.
Mas há também outros indícios que ainda não vieram à público e que devem ser explorados até a conclusão do inquérito da trama golpista.
Vários deles estão no computador de Braga Netto apreendido na sede do PL. É nesse aparelho que a PF está vasculhando que os investigadores esperam encontrar provas de que o general que já foi ministro da Defesa e da Casa Civil e depois virou vice na chapa pela reeleição em 2022 também coordenava a captação de recursos para o golpe.
Fonte: O GLOBO
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