Porta-vozes do comitê da campanha de Marina Corina Machado denunciam dificuldades no registro da substitua Corina Yoris, e golpes sucessivos contra opositora podem abrir brecha para 'terceira via' mais moderada
Um dia antes de encerrarem as indicações oficiais de candidatos ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), nesta segunda-feira, o governo da Venezuela informou que irá apresentar ao Parlamento um projeto de “lei contra o fascismo” para sancionar os opositores que, alega Nicolás Maduro, promoveram “atos de violência” contra o país. Porta-vozes da campanha de María Corina Machado, principal opositora do presidente, alertaram sobre possíveis "manobras" do chavismo para impedir o registro da candidata substituta Corina Yoris, e atores da oposição estudam possível terceira via moderada frente aos golpes contra a dissidente.Maduro, que busca um terceiro mandato consecutivo de seis anos, refere-se frequentemente aos opositores como “fascistas” e “extremistas de direita”.
“O presidente Nicolás Maduro decidiu criar uma Alta Comissão de Estado contra o Fascismo e o Neofascismo para apresentar prontamente à Assembleia Nacional um projeto de lei contra o fascismo e toda expressão neofascista no exercício da política e da vida nacional”, escreveu a vice-presidente, Delcy Rodríguez, na rede social X (antigo Twitter) no domingo.
Segundo a vice-presidente, o texto seria “uma resposta aos atos de violência que o país viveu em 2014, 2015, 2017”, em referência às manifestações antigovernamentais que deixaram mais de 125 mortos.
As Forças Armadas Bolivarianas (FANB), consideradas o principal apoio do governo, acompanharão a “tarefa” de manter a “estabilidade política” e a “paz” na Venezuela, informou o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López. “Hoje, quando uma facção subversiva pretende trazer de volta o ódio e a violência, o Estado deve proteger-se moral e institucionalmente contra o fascismo e o neofascismo”, destacou em uma publicação no X.
Segundo a vice-presidente, o texto seria “uma resposta aos atos de violência que o país viveu em 2014, 2015, 2017”, em referência às manifestações antigovernamentais que deixaram mais de 125 mortos.
As Forças Armadas Bolivarianas (FANB), consideradas o principal apoio do governo, acompanharão a “tarefa” de manter a “estabilidade política” e a “paz” na Venezuela, informou o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López. “Hoje, quando uma facção subversiva pretende trazer de volta o ódio e a violência, o Estado deve proteger-se moral e institucionalmente contra o fascismo e o neofascismo”, destacou em uma publicação no X.
Em 2017, Maduro, então rodeado de protestos que deixaram centenas de mortos, propôs a “Lei contra o Ódio, a Coexistência Pacífica e a Tolerância”, um instrumento que a oposição acusa de criminalizar a dissidência. As primeiras detenções após a regulamentação, aprovada por uma Assembleia Constituinte pró-governo que, na prática, deslocou o Parlamento, então com maioria na oposição, ocorreram em 2018 e envolveram duas pessoas que protestavam contra a escassez de alimentos. O texto pune os culpados de “incitamento ao ódio” com até 20 anos de prisão, por exemplo.
“O fascismo é a maior ameaça à paz e à prosperidade universal. Dentro da Venezuela, eles atacaram o povo no seu desejo de destruição, e hoje lhes dizemos mais uma vez: Não passarão! A paz vencerá”, escreveu no X o ministro das Relações Exteriores, Yván Gil.
Oposição fragmentada
Maduro aspira a uma terceira reeleição em 28 de julho, o que somaria 18 anos no poder. Enquanto se prepara para a corrida eleitoral, a oposição corre para se reorganizar após a inabilitação de Machado, que indicou na sexta-feira a filósofa e professora universitária Corina Yoris para substituí-la nas urnas. Mas a coalizão da Plataforma Unitária tem alertado sobre uma “manobra” para impedir a inscrição de Yoris.
Segundo o El País, os porta-vozes do comitê de campanha de Machado denunciaram que os dispositivos eletrônicos do Poder Eleitoral ainda não aceitaram as senhas, nem o acesso ao sistema, dos cartões da oposição admitidos para participar das próximas eleições, que nesse caso são apenas o do partido Un Nuevo Tiempo e o da Plataforma Unitária — signatária do acordo de Barbados — como uma aliança de todos os partidos da oposição.
Alguns técnicos eleitorais responderam de forma genérica, sem alusões diretas, à alegação da opositora, afirmando que determinados setores políticos não estavam cumprindo os procedimentos de registro. As conversas de Machado com Manuel Rosales, líder do Un Nuevo Tiempo, e outros atores relacionados, para chegar a um acordo com a chapa do partido para que honre o mandato popular das eleições primárias de 22 de outubro, na qual venceu com mais de 90% dos votos, foram bem-sucedidas, ao contrário do que muitos — principalmente o chavismo — esperavam.
Como opção presidencial, Machado mantém índices de popularidade próximos a 60%, três vezes mais do que Maduro. Rapidamente, o alto governo, que tem trabalhado para dividir e confrontar as facções da oposição, fez com que alguns políticos soubessem que não estão dispostos a permitir que Yoris continue com os cartões Un Nuevo Tiempo ou Plataforma Unitaria. O prazo para a indicação oficial de candidatos ao CNE termina nesta segunda-feira e, teoricamente, todas as indicações, uma vez aceitas, passarão por um curto período no qual poderão ser feitas contestações.
"Será que a Plataforma Unitária (ao perceber que será impossível participar com uma substituição de Machado) se juntará à estratégia de declarar a eleição ilegítima e acabará no mesmo processo de abstenção de 2018, ou decidirá se dividir antes do prazo e nomear um candidato próprio?" ponderou Luis Vicente León, analista político, economista e diretor da empresa Datanálisis, em suas redes sociais. "A Plataforma decidirá acordar com um dos partidos com um cartão ativo um candidato que possa participar, a fim de se proteger do possível vácuo?"
Machado declarou estar "ciente do desafio do regime" e prometeu ter respostas políticas "a cada uma de suas manobras para nos impedir de participar":
— Ninguém vai nos tirar da rota eleitoral — prometeu.
Terceira via?
Em uma atmosfera excepcionalmente hermética, novas hipóteses estão começando a surgir dentro da oposição. Nos últimos dias, alguns políticos oposicionistas dissidentes da Plataforma, pertencentes a grupos minoritários, puderam apresentar suas candidaturas ao Poder Eleitoral sem maiores complicações, todos eles cultivando uma linha muito moderada contra o chavismo e, em algumas ocasiões, fizeram pactos com Maduro, trabalhando a favor de seus interesses em determinados assuntos legislativos, políticos e institucionais.
São eles Luis Eduardo Martínez, que lidera a facção dissidente da Acción Democrática; Antonio Ecarri, concorrendo pelo seu partido, Alianza Lápiz, e pelas organizações Cambiemos e Avanzada Progresista; José Brito, da Primero Venezuela; e Benjamín Rausseo, um conhecido comediante e empresário chamado El Conde del Guácharo, que concorre em uma chapa independente.
Cada um tem seu próprio discurso, mas eles se esforçaram muito para se apresentar como uma "terceira via" diante dos excessos e desvios dos "dois lados". Maduro, que concorre pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e alguns partidos aliados, deve registrar sua candidatura nesta segunda-feira, provavelmente com total conforto. (Com El País)
Fonte: O GLOBO
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