Associação de correspondentes se instalará no primeiro andar do edifício do século XVI
Durante mais de um século, os correspondentes estrangeiros lotados em Roma puderam trabalhar em diferentes prédios cedidos pelo Estado italiano. Formada em 1912, a associação se instalou primeiro num café de rua e depois, em 1936, se mudou para um edifício cedido pela ditadura de Benito Mussolini (num gesto interpretado como uma forma de as autoridades fascistas vigiarem a mídia estrangeira). Em 2001, instalaram-se num local próximo à Fontana de Trevi que hoje está em obras para se tornar um hotel cinco estrelas.
A partir de 25 de março, os cerca de 300 membros da entidade atuarão da nova sede. O correspondente da rede TV Arte e integrante do conselho de administração da associação contou ao jornal britânico The Guardian que o grupo viu cerca de 15 lugares antes de definir a nova "casa".
— Brinquei com o corretor de imóveis: 'Que tal a ex-casa de Berlusconi?'. Ele levou a sério e disse: 'Deixe-me dar uma olhada' — contou Hofer, para quem o palácio ainda contém "o espírito de Berlusconi".
O Palazzo Grazioli esteve ligado a Berlusconi até 2021, quando o empresário deixou de alugá-la da família Grazioli para se mudar para a região de Via Ápia.
De acordo com o The Guardian, Berlusconi concedeu entrevista coletiva na associação uma única vez, em 1993, e, na ocasião, negou que tivesse qualquer ambição política. Três anos mais tarde, ele assumiu o posto de premier, o qual ocuparia outras duas vezes. Ao longo da trajetória, Berlusconi recusou vários convites e pedidos de declarações, sob o argumento de que os jornalistas estrangeiros eram "ofensivos".
No Palazzo Grazioli, os jornalistas estrangeiros vão poder passar pelo corredor em que o presidente russo, Vladimir Putin, brincava com o poodle do premier italiano, segundo o Guardian. Parte dos profissionais vão trabalhar do quarto que chegou a abrigar uma cama de Joseph Stalin que Putin dera de presente ao amigo magnata. O banheiro do edifício é o mesmo em que mulheres convidadas para festas costumavam tirar selfies, ainda de acordo com o jornal britânico.
Enquanto morou no palácio, Berlusconi fez questão de reforçar a segurança. Os quartos são equipados com janelas "à prova de balas". Num deles, um guarda-roupas embutido guarda uma "porta secreta" que daria ao magnata uma rota de fuga, em caso de emergência. Quando entraram pela primeira vez no local, integrantes da associação encontraram um pedaço de papel com os pedidos e as medidas do premier para um alfaiate. Móveis antigos e pesados foram retirados para a montagem do escritório.
Além do Palazzo Grazioli, as polêmicas festas de Berlusconi também ocorreram em outras propriedades do ex-primeiro-ministro e se tornaram alvos de investigações no passado. A brasileira Iris Berardi, na época menor de idade, esteve na Villa Certosa, uma mansão e imensa propriedade na Sardenha, bem como em outras 29 festas organizadas pelo político italiano, segundo documentos do processo movido contra o magnata. O principal palco das festas sexuais era a Villa San Martino, principal residência do italiano por 50 anos.
Fonte: O GLOBO
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