Autoridades palestinas acusaram Israel de disparar e matar dezenas de pessoas em meio a uma entrega de ajuda humanitária na Faixa de Gaza

O Itamaraty afirmou nesta sexta-feira que a "ação militar [de Israel] em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal", um dia depois de autoridades palestinas acusarem Israel de disparar e matar mais de 100 pessoas em meio a uma entrega caótica de ajuda humanitária na Faixa de Gaza na madrugada de quinta-feira. Segundo o Ministério da Saúde do enclave, controlado pelo grupo terrorista Hamas, o incidente deixou ao menos 112 mortos e 760 feridos.

As Forças Armadas de Israel negaram a acusação, afirmando que as mortes decorreram de uma confusão durante a entrega da ajuda, com os soldados somente tendo disparado para o ar e contra as pernas de um grupo de residentes que se afastou do comboio humanitário e se aproximou de uma unidade militar israelense.

Em sua nota, o Itamaraty afirmou que tomou conhecimento do episódio com "profunda consternação" e que, para além da "necessária apuração de responsabilidades" sobre o incidente, as aglomerações em torno dos caminhões mostram a "situação intolerável" e "desesperadora" vivida pelos palestinos no território, onde há "dificuldades para obtenção de alimentos".

Segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), quase 2,3 mil caminhões de ajuda entraram na Faixa de Gaza em fevereiro, com uma média de 82 veículos por dia. O número é 50% menor que em janeiro — antes do conflito atual, quando as necessidades da população eram menos urgentes, cerca de 500 caminhões entravam no enclave todos os dias.

O Itamaraty ressaltou ainda que autoridades da ONU e especialistas em ajuda humanitária e assistência de saúde denunciam há meses a "sistemática retenção de caminhões nas fronteiras com Gaza e a situação crescente de fome, sede e desespero da população civil".

O governo brasileiro afirmou que, apesar desses relatos, segue havendo uma "inação da comunidade internacional diante dessa tragédia humanitária" e que isso serve como "velado incentivo para que o governo [de Benjamin] Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras básicas do direito humanitário internacional".

Em aparente referência a declarações de Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional de Israel, e um dos mais radicais integrantes do Gabinete de Netanyahu, o Itamaraty disse que "declarações cínicas e ofensivas às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo Netanyahu, devem ser a gota d’água para qualquer um que realmente acredite no valor da vida humana".

Na quinta, Ben-Gvir louvou a atitude dos militares, afirmando que agiram de forma excelente contra uma multidão que "tentou prejudicá-los", e chamou de “loucura” a manutenção dos envios de itens básicos ao território.

"O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes morrerão", diz a nota, acrescentando: "A Humanidade está falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres."

Em seu comunicado, o Itamaraty também recorda a obrigatoriedade da implementação das medidas cautelares emitidas pela Corte Internacional de Justiça, em 26 de janeiro, que demandam que Israel tome todas as medidas ao seu alcance para impedir a prática de todos os atos considerados como genocídio, de acordo com o Artigo II da Convenção para a Prevenção e a Repressão e Punição do Crime de Genocídio.


Fonte: O GLOBO