Vestuário e materiais para escritório impulsionam setor. Alta ocorre depois da Black Friday concentrar o consumo em novembro e derrubar as vendas de fim de ano

As vendas no comércio brasileiro surpreenderam analistas e iniciaram o ano com alta de 2,5% em meio à onda de promoções e queimas de estoque de alguns setores. O resultado referente à janeiro sinaliza uma melhora após o setor registrar queda de 1,4% em dezembro, com o consumidor antecipando as compras natalinas na Black Friday, em novembro. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE.
  • Agentes econômicos esperavam alta de 0,1% ante dezembro, segundo projeções compiladas pelo Valor Data
  • Cinco das oito atividades pesquisas tiveram alta em janeiro
  • O setor opera hoje 0,8% abaixo de seu nível recorde, alcançado em outubro de 2020
Onda de promoções em janeiro

Cinco das oito atividades investigadas na pesquisa tiveram alta em janeiro deste ano. Os destaques foram a alta de 8,5% no volume de vendas de vestuário e calçados e de 6,1% no setor de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação.

Segundo Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE, os resultados vieram com muita amplitude de crescimento em setores que tiveram queda grande no Natal, depois de concentrar as vendas na Black Friday.

Esse comportamento foi observado também em 2023, quando houve queda nas vendas no fim de 2022 e uma recuperação em janeiro, e mostra um novo padrão de consumo do brasileiro. Tendência que já se observava antes da pandemia, explica Santos:

— A antecipação de compras de Natal durante a Black Friday em novembro faz com que o volume em dezembro caia. O fato de ter tido um Natal com queda (nas vendas) faz com que muitos setores invistam em promoções e queimas de estoque nessa passagem de dezembro pra janeiro — destaca o pesquisador.

Vendas nos supermercados sobem 0,9%

Outro setor que puxou o resultado em janeiro foi de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo. O segmento, cujas vendas subiram 0,9% e estão no terceiro mês seguido no campo positivo, tem peso de 55% na pesquisa.

— Há uma influência do componente inflacionário e também do maior consumo das famílias, especialmente de alimentos e bebidas — ressalta Santos.

O que esperar do setor em 2024?

A melhora do mercado de trabalho, assim como a queda da inflação e dos juros, trazem um cenário mais favorável ao consumo das famílias. Ainda assim, economistas avaliam que o comprometimento da renda segue elevado e os juros ainda se encontram em patamar alto. Por isso, segmentos mais dependentes de crédito ainda não dão sinais claros de recuperação.

O Índice de Confiança do Comércio do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) recuou 1 ponto em fevereiro, para 89,5 pontos, após três altas consecutivas.


Fonte: O GLOBO