Bancada do partido na Câmara aumenta pressão e defende a saída imediata de Luciano Bivar do comando da sigla

Um incêndio que atingiu as casas de praia do presidente eleito do União Brasil, Antônio Rueda, e de sua irmã, Maria Emília Rueda, tesoureira da legenda, elevou ao nível mais alto a crise já instalada na sigla. Aliados e o advogado do dirigente levantaram a hipótese de uma ação “criminosa” a mando do deputado Luciano Bivar (PE), atual chefe da legenda e derrotado na disputa que definiu quem estará no comando a partir de junho. O parlamentar trata as acusações como “ilação”, e a Polícia Civil de Pernambuco investiga o caso. A bancada do União na Câmara aumentou a pressão e defende a saída imediata do congressista da presidência. A questão deve chegar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O incêndio ocorreu 12 dias após Rueda conquistar o apoio da maioria da cúpula do partido, em uma escolha contestada por Bivar. Os imóveis, no litoral pernambucano, estavam vazios e não há feridos.

— O incêndio é criminoso. Não sei quem fez. A casa tem indício de arrombamento e colocaram algum líquido inflamável nos móveis — afirmou Rueda.

A defesa do dirigente partidário vai acionar o Supremo Tribunal Federal (STF). O advogado Paulo Catta Preta afirmou que uma representação será acrescentada ao processo, na qual Rueda afirma que Bivar o ameaçou de morte. Segundo ele, esta acusação e o fato de o deputado ter casa no mesmo condomínio são elementos que reforçam a “suspeita” de participação dele.

'Indício' de crime

Na terça-feira, o atual presidente negou qualquer envolvimento e disse que encaminhou à cúpula da legenda três denúncias contra o adversário por supostas irregularidades no uso do fundo partidário e eleitoral. Procurado, Rueda não respondeu.

— Não (foi crime político). Isso é ilação. Tudo você tem que comprovar — disse Bivar.

Sem citar nomes, o secretário de Defesa Social de Pernambuco, Alessandro Carvalho, afirmou que há “indício” de crime. A Polícia Civil está sob o guarda-chuva da pasta.

— Se o incêndio fosse por um curto circuito, sobre aquecimento, algo que não fosse criminoso, nós teríamos o incêndio em apenas uma casa. O fato de ter sido nas duas casas, dos dois irmãos, é um indício de que deve ter sido criminoso. É um indício, quem vai dizer se é criminoso ou não é a conclusão da investigação — disse.

A disputa pelo comando do União Brasil ganhou novos contornos há duas semanas e escancarou o racha na legenda fundada no fim de 2021, fruto da fusão entre DEM e PSL. Bivar não aceitou a derrota para Rueda e alega que a eleição não teve validade jurídica.

A despeito da negativa, a bancada do União Brasil na Câmara se reuniu e aumentou a pressão pela saída de Bivar da presidência do partido. O deputado Elmar Nascimento (União-BA), líder na Casa, disse que a situação de Bivar na presidência ficou “insustentável”. Após deliberação com deputados, ficou decidido que parlamentares das duas Casas do Congresso, governadores e prefeitos de capitais serão convidados para participar de reunião na sede do partido na tarde de hoje. A ideia é convocar a Executiva para afastá-lo da presidência da sigla.

— Houve a concordância de todos que se pronunciaram no sentido de que é insustentável. Se ele (Bivar) tomar qualquer iniciativa (para renunciar), seria o ideal. Mas como não o fez até agora, não acredito. Estamos sentindo constrangimento pelas palavras que estão sendo colocadas (por Bivar) — afirmou Elmar.

O estatuto do partido permite que a medida seja tomada de forma cautelar. A previsão é que a sigla abra um prazo para Bivar apresentar sua defesa. Segundo o ex-prefeito ACM Neto, atual secretário-geral e vice-presidente eleito, o afastamento deve ser selado na semana que vem.

— São 17 que votam. É preciso ter 11 votos. Neste cenário, sendo ele (Bivar) afastado, suspenso, expulso, o que aconteça, nós temos os votos. Como primeiro vice-presidente, ele (Rueda) assume como interino até 31 de maio, quando a nova direção nacional assume as funções — disse.

Em publicação nas redes sociais, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, disse que o incêndio foi um “atentado contra o partido, um crime político”. Caiado, que chamou Bivar de “desqualificado”, disse que a legenda vai acionar o TSE “para que esse crime seja investigado” e também para “pedir a cassação do mandato” de Bivar. Em resposta, o deputado chamou o governador de “pigmeu moral”.

Ex-aliados

Antonio Rueda e Bivar eram aliados, e já ocuparam ao mesmo tempo cargos na direção do Sport Recife. O deputado também foi responsável por levar o dirigente ao mercado de seguros, área em que ambos atuam na vida privada, e para a política. O afastamento começou no curso do processo de sucessão do União Brasil. A onda de insatisfação em pelo menos seis estados contra a condução do partido por Bivar animou Rueda, o vice, a articular assumir o controle da sigla.

O momento determinante para o afastamento dos dois foi uma reunião do partido, em agosto de 2023, em que Bivar xingou ACM Neto, aos gritos. Rueda conseguiu amplo apoio para substituir o antigo aliado no comando da sigla, o que serviu de estopim para que o deputado se voltasse contra ele. Apesar de ambos serem egressos do PSL, Rueda conquistou mais trânsito na ala oriunda do DEM. Integrantes deste grupo avaliam que o presidente eleito tem um estilo diferente do adversário, que costuma centralizar as decisões, e veem em Rueda um perfil mais negociador.

No dia da eleição para a presidência, Bivar convocou a imprensa com um envelope escrito “denúncias”. O conteúdo, contudo, não foi apresentado.

Após o resultado da eleição confirmar a vitória de Rueda, Bivar não aceitou o desfecho. Entre as tentativas de retaliação, trancou a sala de reuniões do partido para tentar impedir que os novos dirigentes eleitos usassem o espaço.


Fonte: O GLOBO