Empresário morreu neste domingo em São Paulo, onde estava internado com um quadro de insuficiência respiratória em função de uma pneumonite

Mesmo fora do Pão de Açúcar, quando os franceses do Casino assumiram o controle em 2012, o empresário Abilio Diniz, próximo dos 80 anos, não deixou o mundo dos negócios. Ele foi convidado por um dos acionistas a comandar a BRF, gigante de proteína animal.

Através da Península, gestora criada por Diniz em 2006 e da qual ele é presidente do Conselho de Administração, o empresário também passou a comprar ações da BRF. Mas depois de prejuízos seguidos, além da Operação Carne Fraca, investigação da Polícia Federal sobre a venda ilegal de carnes por alguns frigoríficos brasileiros, incluindo a BRF, ele deixou a empresa em 2018.

Se a fusão com o Pão de Açúcar não vingou, mesmo assim o Carrefour entrou na vida do empresário. Em 2014, a Península passou a comprar ações da varejista francesa. Hoje, a gestora de Abílio possui participação relevante — e ele era um dos maiores acionistas globais — com direito a assentos no conselho de administração no Brasil e também na matriz francesa.

Há uma curiosidade do passado entre Diniz e o Carrefour: em 1967, o empresário conheceu Marcel Fournier, cofundador do Carrefour, durante uma viagem a Paris. Fournier levou o brasileiro para conhecer suas lojas, e descreveu como era a operação. Abilio usou o Carrefour como 'modelo' para a expansão do Pão de Açúcar no país.

O empresário morreu neste domingo em São Paulo, aos 87 anos de idade. Conhecido por ter transformado o Grupo Pão de Açúcar na maior rede varejista do país, Diniz estava internado no hospital Albert Einstein, vítima de insuficiência respiratória em função de uma pneumonite.

Nas últimas décadas, o varejo brasileiro viveu uma onda de consolidação liderada pelo Pão de Açúcar, que adquiriu muitos concorrentes e se expandiu. Num dos negócios mais recentes — e considerado um dos mais arrojados — o Pão de Açúcar adquiriu a rede Pontofrio, em 2009.

Meses depois, anunciou uma joint venture com a varejista Casas Bahia que resultou na criação da Via Varejo, em 2010, o maior grupo de distribuição da América Latina. Com a união com a Casas Bahia, além da compra do Ponto Frio, o grupo passou a ter 140.000 funcionários e mais de 1.800 lojas espalhadas pelo país.

O negócio, porém, passou por uma reavaliação pela família Klein, dona das Casas Bahia. Os Klein argumentaram que os valores estabelecidos para a transação estavam baixos, dada a força das Casas Bahia. Mesmo com a saída de Diniz do GPA, o grupo manteve sua participação de 36% na Via Varejo até 2019, quando suas ações foram vendidas em um leilão realizado pela B3. A própria família Klein recomprou as ações.

Desde a abertura da primeira loja no bairro do Jardim Paulista, em 1959, o Pão de Açúcar trouxe muitas inovações. Em 1965, por exemplo, a rede foi a primeira a inaugurar um supermercado dentro de um shopping, o Iguatemi, em São Paulo. A loja está aberta até hoje.

Em 1969, a companhia criou o primeiro supermercado 24 horas no país. Em 1971, criou o Jumbo, primeiro hipermercado do Brasil e precursor do Extra. A empresa foi pioneira em introduzir o serviço de delivery, em 1995, em que os clientes faziam pedido por telefone ou fax, através de um catálogo de produtos, e recebiam as compras em casa em até 24 horas.

Com o Plano Collor, em 1990, e o confisco da poupança e congelamento de preços, o faturamento do Pão de Açúcar foi brutalmente atingido. A empresa ficou à beira do colapso. Abilio Diniz criou o lema “Corte, Concentre e Simplifique”. Vendeu imóveis e carros, demitiu, e fechou mais de 400 lojas. Vendeu empresas coligadas e se focou no ramo alimentar. E a rede conseguiu se recuperar.

Por ironia do destino, atualmente é o Casino que atravessa problemas financeiros e vem se desfazendo de ativos pelo mundo. A rede francesa, controladora do GPA e atualmente com 40,9% de participação, divulgou que quer se desfazer de sua posição. O mercado logo especulou uma possível volta de Abílio à empresa de sua família. Mas esse retorno acabou não se concretizando.


Fonte: O GLOBO