Correligionários apontam como ponto negativo a atuação da ministra mais voltada para temas identitários; ministra conta com o apoio de Janja e vai se filiar ao partido no mês que vem

Com o desejo expresso do PT em fazer parte da chapa à reeleição do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu consulta a seus correligionários sobre a viabilidade do nome da ministra Anielle Franco (Igualdade Racial). Ela se filiará à sigla no início do próximo mês.

Quando esteve no Rio há duas semanas, Lula também conversou sobre o assunto com o próprio Paes. Em um jantar na Gávea Pequena, residência oficial da prefeitura, o presidente formalizou pela primeira vez que gostaria que o posto fosse ocupada por um petista . A expectativa é de que os dois retomem as tratativas no final da semana, quando Lula volta ao Rio.

Desde a última passagem pela cidade, Lula começou a sondar seus correligionários sobre o tema. A indicação de Anielle para concorrer a vice-prefeita do Rio é um desejo da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja.

A articulação, no entanto, não agrada os petistas fluminenses. Eles apontam como ponto negativo a atuação da ministra mais voltada para temas identitários e ideológicos. Outro fator que pesa contra a irmã da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, é sua projeção nacional. A avaliação é que isso poderia acentuar a polarização com o nome apoiado por Jair Bolsonaro, no caso o deputado federal Alexandre Ramagem (PL).

De olho em 2026

A vice ganhou mais importância devido à pretensão de Paes em disputar o governo do estado em 2026, o que o levaria a renunciar ao mandato casso fosse eleito. Assim, seu companheiro de chapa herdaria os dois anos finais à frente da prefeitura. Por este motivo, Paes vem indicando que deseja dar a função a uma pessoa de total confiança e manifestado resistência a uma composição com o PT.

Neste cenário, a avaliação de correligionários de Lula é de que petistas que compõem o secretariado de Paes seriam mais facilmente aceitos. É o caso de Adilson Pires (Assistência Social) e Tainá de Paula (Meio Ambiente). Outra possibilidade no horizonte seria filiar Felipe Santa Cruz (Governo), hoje no PSD.

Adilson Pires tem a simpatia do presidente da Embratur, Marcelo Freixo, e do presidente estadual do PT, João Maurício, justamente por ter sido vice de Paes no segundo mandato do prefeito, entre 2012 e 2016.

O secretário de Assistência Social diz ter interesse em ocupar a posição:

— Qualquer pessoa que tem a possibilidade de ser vice, principalmente de um cara como Eduardo Paes, vai querer ser. Não basta eu querer, mas, se por ventura, for indicado, seria uma honra — afirma Adilson Pires.

Há ainda um quinto nome no PT, o do secretário de Assuntos Federativos do governo Lula, André Ceciliano.

— Estou sendo cogitado, mas este assunto nunca foi discutido diretamente comigo. No desfile das Campeãs, fui chamado pelo prefeito para ir ao camarote, fiquei conversando com ele e (o deputado) Pedro Paulo, mas a discussão de vice vai ficar entre Paes e Lula — diz.

Resistência de Paes

O prefeito resiste a um nome do PT, o que já foi reconhecido pelo vice-presidente nacional do partido, Washington Quaquá, em entrevista à “CNN Brasil”:

— A prioridade do PT é a reeleição do Lula em 2026. Paes deve deixar a prefeitura para disputar o governo, portanto vai escolher alguém da sua confiança.

Nos bastidores, o deputado federal Pedro Paulo (PSD) é quem desponta como o “vice dos sonhos” de Paes, por terem uma relação de confiança há anos. No entanto, pesa contra Pedro Paulo uma acusação de agressão feita por sua ex-mulher. O inquérito foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas a avaliação é de que adversários podem trazer o tema à tona novamente durante as eleições.


Fonte: O GLOBO