Cidade na fronteira com o Egito, no sul do enclave, abriga 1,4 milhão de pessoas, segundo a ONU, a maioria deles deslocados pela guerra

O ministro da Defesa de Israel sinalizou nesta quinta-feira que as forças terrestres israelenses podem avançar para Rafah — cidade mais ao sul da Faixa de Gaza ainda não afetada pela campaha militar do Estado judeu —, levantando preocupações sobre o destino de quase metade da população do enclave deslocada pelo conflito.

— Estamos completando nossas missões em Khan Younis e também vamos alcançar Rafah e eliminar elementos terroristas que nos ameaçam — disse o ministro Yoav Gallant enquanto visitava soldados em Khan Younis, de acordo com gravação distribuída por seu Gabinete. — Essa guerra requer resiliência e determinação nacionais, e precisamos perseverar até completar nossas missões.

De acordo com a ONU, Rafah abriga atualmente 1,4 milhão de palestinos (mais da metade da população de 2,2 milhões de habitantes, estimada antes da guerra). A grande maioria deles não vivia no local antes da invasão por terra de Israel, mas foi deslocada para o sul à medida que os confrontos se tornavam mais intensos no norte.

Parte do deslocamento foi incentivado por Israel. No começo da campanha militar, quando o foco das tropas era a área ao norte da cidade de Gaza, autoridades israelenses recomendaram que os civis migrassem para o sul. Mesmo Khan Younis, cidade que concentrou as operações na última semana, recebeu milhares de pessoas, mas Rafah ganhou um peso simbólico pela proximidade com a passagem para o Egito, sendo o destino de vários estrangeiros, incluindo brasileiros, que tentaram deixar o enclave.

Nesta sexta-feira, os ataques prosseguiam no centro e sul de Gaza, em particular em Khan Yunis. O Ministério da Saúde do Hamas informou que 105 civis morreram nas últimas horas em Gaza. Israel confirma a eliminação de 10 mil terroristas.

Os embates acontecem enquanto se tentam avanços na frente diplomática. Após uma reunião em Paris entre o diretor da CIA, William Burns, e representantes do Egito, Israel e Catar, uma proposta de trégua foi apresentada ao Hamas.

O líder do grupo palestino, Ismail Haniyeh, exilado no Catar, deve viajar ao Egito para conversar sobre a proposta. Segundo uma fonte do Hamas, a proposta está dividida em três fases. A primeira incluiria uma trégua de seis semanas, período em que Israel libertaria de 200 a 300 presos palestinos em troca de 35 a 40 reféns. Além disso, entre 200 e 300 caminhões de ajuda humanitária poderiam entrar a cada dia em Gaza.

— Esta proposta foi aprovada pela parte israelense e agora temos uma confirmação preliminar positiva do Hamas — disse o porta-voz do governo do Catar, Majed al Ansari. — [Espero] poder dar uma boa notícia nas próximas duas semanas.


Israel bombardeia o sul de Gaza

Uma fonte do Hamas, no entanto, declarou à AFP que "ainda não há acordo sobre a implementação" da proposta e que "a declaração do Catar foi apressada e não é correta".

Em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é pressionado tanto pelas famílias dos reféns para alcançar um acordo, assim como por alguns de seus ministros, que ameaçam renunciar no caso do anúncio de um pacto "muito generoso" com os palestinos.

Manifestantes protestaram nas ruas de Tel Aviv na quinta-feira à noite para exigir um acordo que permita a libertação dos reféns.

— A única maneira é chegar a um acordo — declarou Moran Zer Katzenstein, de 41 anos. — Depois disso, teremos tempo para lidar com o Hamas e retirar a gestão e a liderança de Gaza (...) mas primeiro temos que tratar dos reféns.

Quase 250 pessoas foram sequestradas e levadas para Gaza em 7 de outubro, quando combatentes do Hamas invadiram o sul de Israel e executaram o pior ataque contra o país em décadas.. Mais de 100 reféns foram trocados por presos palestinos em uma trégua em novembro. (Com AFP)


Fonte: O GLOBO