Assim como em outros lugares do mundo, país celebra o Valentine's Day, comemorado no dia 14 de fevereiro; governo vê data como ameaça as tradições budistas no país

Rosas e chocolates em formato de coração têm invadido as lojas de muitos países no Sudeste Asiático à medida que o Dia Dos Namorados se torna cada vez mais popular entre os jovens na região — o chamado Valentine's Day, comemorado nesta quarta-feira, dia 14 de fevereiro. Embora alguns possam ver a celebração anual do amor como uma diversão inofensiva, as autoridades do Camboja fizeram um apelo aos jovens para que evitem "atividades inapropriadas" e o perigo de "perder a dignidade" na data.

O Ministério da Educação cambojano, através de uma diretriz divulgada nas escolas públicas e privadas na noite de terça-feira, emitiu uma ordem para que os estudantes "tomassem medidas para prevenir atividades inadequadas no Dia dos Namorados". O feriado leva "um pequeno número de jovens a (...) esquecer de estudar e perder sua dignidade", acrescentou o texto.

Já o Ministério da Cultura pediu aos pais que "lembrem seus filhos de usar o dia de acordo com a bela tradição Khmer [ditadura que chegou ao poder em 1975, mas foi deposta poucos anos depois] para sua honra e dignidade". O Ministério dos Assuntos da Mulher, por sua vez, disse que algumas pessoas “compreendem mal o significado do dia 14 de fevereiro”.

Mais explícita foi a Autoridade Nacional de Combate à Aids, que alertou que alguns aproveitam o dia para "expressar um amor que leva ao sexo eventual" e lembrou que o HIV continua a se espalhar no país. Segundo a agência, no ano passado havia 7.600 pessoas que viviam com a doença no país, incluindo 1.400 novos casos — cerca de 42% são jovens com idades entre 15 e 24 anos.

Para a sociedade conservadora cambojana, a data é um feriado importado que ameaça as crenças budistas tradicionais do país, onde há uma forte pressão sobre as mulheres para que evitem o sexo antes do casamento.

O Khmer Vermelho

O Khmer Vermelho chegou ao poder no Camboja em 1975. Na época, a organização comunista se aproveitou da derrubada do rei Sihanouk — deposto em um golpe chefiado por seu antigo primeiro-ministro — para formar uma frente nacional no exílio.

Logo um regime de terror é instaurado no país. Milhares de pessoas foram presas, a população urbana foi deslocada para fazendas coletivas de trabalhos forçados e a indústria nacional foi praticamente eliminada. Estima-se que, entre 1975 a 1979, o Khmer Vermelho tenha matado cerca de 2 milhões de pessoas — 20% da população do país.

Em 1975, com a chegada ao poder do Khmer, o governo encarregou Kaing Guek Eav, conhecido como Duch, de estabelecer um centro de interrogatório da polícia política do regime. Pouco depois, ele assumiu a prisão de Tuol Sleng (S-21), onde entre 14 mil e 16 mil pessoas, incluindo ministros, diplomatas, estrangeiros e milhares de crianças, foram torturadas e mortas.

A aproximação com a China e a adoção de uma política agressiva em relação ao Vietnã levam o Camboja a ser invadido. Em 1978, as tropas vietnamitas, apoiadas pela União Soviética, instalam no poder dissidentes cambojanos.

Com a prisão, em 1999, do líder das forças remanescentes do Khmer Vermelho, a pressão aumenta para que os crimes do regime dos anos 1970 sejam julgados. Quando o ditador Pol Pot reapareceu em 1997, o próprio Khmer Vermelho, na época um pequeno grupo guerrilheiro com poucos milhares de integrantes, o capturou e o condenou à prisão perpétua. O maior responsável pela organização comunista e líder do regime nos anos 1970 morreu em 1998, em prisão domiciliar, supostamente de um ataque cardíaco.

Ex-integrante do Khmer Vermelho, Son Sen governou o país por quase quatro décadas, após eliminar toda a oposição, com partidos rivais banidos, adversários forçados a fugir e a liberdade de expressão sufocada. Ele renunciou ao cargo em agosto do ano passado e entregou o poder ao seu filho mais velho, Hun Manet.


Fonte: O GLOBO