Vitória não escondeu desempenho ruim do rubro-negro; no alvinegro, embora primeiro tempo seja alento, o time precisa evoluir bem até a estreia na pré-Libertadores

Botafogo e Flamengo fizeram um clássico mais brigado do que bem jogado no Maracanã. Nenhum time acumulou oportunidades de gol, mas cada um teve chance de marcar. Pelo Botafogo, o artilheiro Tiquinho Soares, ainda no primeiro tempo, não aproveitou. Já o Flamengo foi ter sua grande bola no apagar das luzes, com o zagueiro Léo Pereira aproveitando falha de Gatito Fernández para decretar o 1 a 0.

Com a vitória, o Flamengo ultrapassou o rival e chegou à segunda colocação do Campeonato Carioca. Além disso, o triunfo no clássico faz com que Tite e seus comandados ganhem um pouco de paz depois da pressão da torcida, que chegou a vaiar a equipe na saída para o intervalo. Já o Botafogo, que teve atuação positiva no primeiro tempo, saiu de campo com mais um baque psicológico: assim como aconteceu contra o Nova Iguaçu, o time voltou a sofrer gol nos minutos finais. O alvinegro saiu de campo vaiado.

Sob os olhares de Dorival Júnior, técnico da seleção brasileira, que afirmou ao GLOBO antes da partida que acompanharia “todo mundo”, a noite marcou a estreia de Luiz Henrique no Botafogo. O atacante foi acionado em várias oportunidades, mas não conseguiu protagonizar grandes momentos.

Primeiro tempo é alento para o Botafogo

Apesar da partida ter terminado com o clima totalmente favorável para o Flamengo, essa não foi a essência dos primeiros 45 minutos, como bem indicado pelo som ambiente no Maracanã. Enquanto os botafoguenses aplaudiram o bom desempenho da equipe, os rubro-negros cantaram “não é mole não, para jogar no Mengo tem que ter disposição”.

Com novidades, Tiago Nunes voltou a escalar o Botafogo no 4-3-3. Na lateral direita, em vez de Tchê Tchê, escalado mais à frente no meio, estava o uruguaio Ponte, titular pela primeira vez desde que chegou ao clube. Ele teve desempenho seguro e deixou bom recado.

Mesmo com o “reforço” na direita, o lado em que o Botafogo teve mais volume foi o esquerdo. Com boa parceria entre Hugo e Júnior Santos, o alvinegro criou duas ótimas chances de perigo por ali. Primeiro em cruzamento do lateral que Tiquinho escorou na segunda trave para boa defesa de Rossi, e depois em passe de Tchê Tchê que Marlon Freitas acabou furando.

Além da qualidade da dupla, outra explicação para o bom volume do alvinegro pela esquerda pode ser a falta de entrosamento de De La Cruz com Varela na fase defensiva e com a trinca de meias quando o Flamengo tem a bola. Escalado na direita como um ponta, o uruguaio teve pouca influência no jogo. O posicionamento do camisa 18 tem motivado críticas ao técnico Tite.

Na volta do intervalo, o Flamengo conseguiu abafar o Botafogo com a conexão direta entre os zagueiros, ambos com boas saídas de bola, e os pontas. Com Wesley no lugar de Varela, Tite deu mais velocidade e poder ofensivo ao time.

Já o Botafogo deu a impressão de que cansou após se portar muito bem taticamente nos primeiros 45 minutos e não conseguiu contra-atacar. Com o empate no placar, Tite e Tiago Nunes travaram um jogo de xadrez com as substituições. Percebendo o bom momento pelas pontas, o técnico do Flamengo sacou De La Cruz e Cebolinha para ter ainda mais velocidade com Luiz Araújo e Bruno Henrique. O comandante alvinegro, por sua vez, colocou Eduardo e Savarino nas vagas de Danilo Barbosa e Tiquinho Soares. Depois, Tite tirou Pedro, bastante vaiado, e colocou Gabigol, para delírio da torcida rubro-negra.

Com o embalo dos torcedores e na base do abafa pelos lados, o Flamengo seguiu empurrando o Botafogo para trás. Acumulando escanteios, o rubro-negro conseguiu chegar ao gol no último lance da partida.

Após cobrança ensaiada, Ayrton Lucas cruzou, Gatito Fernández saiu mal e Léo Pereira cabeceou para marcar já no apagar das luzes. Dos últimos cinco gols sofridos pelo alvinegro, quatro nasceram de bolas aéreas.

Flamengo deixa a desejar

Apesar da vitória, o Flamengo deixou a desejar durante toda a partida. Autor do gol, Léo Pereira é o único nome de destaque do rubro-negro nesse momento da temporada. Soberano na defesa, o zagueiro tem ido muito bem também na construção ofensiva. Foi a segunda vez que ele balançou as redes na temporada.

É grande a expectativa para que Tite consiga encaixar Pulgar, Gerson, De La Cruz e Arrascaeta no time titular, mas isso ainda não aconteceu. O nível físico ainda longe do ideal e a falta de entrosamento afeta a equipe, mas com tantos jogadores de qualidade, o Flamengo poderia estar entregando mais ofensivamente.

Botafogo tem tímida evolução

O primeiro tempo feito pelo Botafogo foi o alento deixado para o torcedor em meio à enorme melancolia por mais uma derrota com mais um gol no fim, como aconteceu ao longo de toda derrocada do ano passado. Além disso, bastante elogiado por Tiago Nunes, o jovem Mateo Ponte foi uma grata surpresa.

Único grande a utilizar os titulares desde o início do estadual, o alvinegro apresentou tímida evolução em relação ao padrão tático. Ainda assim, os pontas seguem isolados do jogo do restante da equipe, assim como Tiquinho Soares. Frequentemente acionados na primeira etapa, Júnior Santos e principalmente Luiz Henrique não tiveram apoio dos companheiros do meio, o que facilitou a marcação rubro-negra. Eduardo, peça fundamental em 2023, também tem péssimo início de temporada.

Numa temporada onde os acertos precisam ser maximizados, já que a pré-Libertadores já bate na porta do clube — a estreia será no dia 21 —, resta saber se essa tímida evolução apresentada pelo Botafogo será potencializada até deixar o time pronto para disputar a competição mais importante do ano de forma tão precoce. Ainda não é o que acontece.


Fonte: O GLOBO