Presidente da Argentina recebeu cinco animais gerados a partir do DNA de seu cão, morto em 2017 e com quem se comunica através de uma médium

O atraso na mudança de Javier Milei, do Hotel Libertador — onde viveu durante toda a campanha eleitoral — para a Quinta de Olivos, residência oficial do presidente argentino, teve um motivo principal: a adequada acomodação dos seus quatro cães clonados. O mandatário já se mudou para o novo lar, mas ainda espera a chegada dos seus animais de estimação. Milei mostrou, neste sábado, pelas redes sociais, como vão as obras do megacanil onde vão viver os seus "filhinhos" de quatro patas.

Nas fotos publicadas por Milei, dois homens são vistos trabalhando na montagem de gaiolas metálicas separadas uma da outra. Os cães não podem ficar juntos devido a problemas de interação e convivência que surgiram durante a pandemia. Eles também terão pelo menos um ar condicionado.

"Felizmente estamos avançando na construção dos canis. Em breve os meus filhinhos virão viver comigo na Quinta de Olivos", escreveu Milei, que acrescentou, à postagem, a sua tradicional frase de exaltação à liberdade.

Na segunda-feira, Milei chegou a Olivos e lá passou a primeira noite acompanhado de sua namorada, Fátima Florez. Ele concedeu uma entrevista sobre o primeiro mês de governo e revelou que ainda não foi capaz de alocar os quatro cães, da raça Mastim.

— Ainda não consegui transportar as crianças — disse ele naquele dia à Rádio La Red. — Estou com um problema porque há alguns materiais para reforçar as paredes que são importados e estou à espera que nos deixem importar os materiais. Não tivemos nenhum tipo de privilégio. Então, estamos na fila [da importação] como qualquer bom argentino.

Milei confirmou que pagou com o seu próprio dinheiro as modificações em Olivos para os seus cães.

— No dia em que temos que sair, eu desmonto e não causo nenhum dano — prometeu Milei, em referência aos canis.

Laboratório detalha clonagem dos cães

Uma empresa americana especializada na clonagem de animais de estimação soma clientes em todo o mundo — mas, até hoje, apenas um na Argentina. Embora os dados sobre os processos sejam confidenciais, a campanha presidencial argentina não deixou dúvidas de que se tratava de Javier Milei, presidente eleito e tutor do cachorro Conan, morto em 2017 em decorrência de um câncer.

A relação do político com o animal era tão forte que ele decidiu clonar o bicho e diz conversar com ele por intermédio de uma médium. Após a morte, do DNA de Conan, nasceram Conan II, Murray, Milton, Robert e Lucas, num caso considerado raro, "único", pelas companhias envolvidas na empreitada.

De acordo com o jornal argentino Clarín, a PerPETuate ficou responsável por cultivar as células do cão original e preservar o material sob baixas temperaturas. Mas coube à ViaGen Pets usar esses componentes genéticos para clonar Conan. Em quase 100% dos procedimentos, nasce um clone. Às vezes, de bônus, gera-se um segundo. Independentemente disso, o custo é de US$ 50 mil (cerca de R$ 240 mil).

— As células cultivadas podem permanecer criopreservadas indefinidamente. Você não precisa clonar o cão imediatamente (após a morte ou extração de DNA). E, se Milei quiser fazer isso de novo no futuro, ele pode. Podemos clonar Conan ilimitadamente. Salvamos células do original, e o PerPETuate também — disse ao Clarín Melain Rodriguez, gerente de atendimento ao cliente da ViaGen Pets.

Os especialistas entrevistados pelo jornal apontam que os clones não são fisicamente idênticos ao animal de origem. Nem é possível garantir que o clone terá a mesma personalidade. No entanto, como a inteligência e o temperamento têm a ver com o DNA, caso seja criado da mesma forma, o animal sucessor pode ser muito parecido. A edição genética não é uma realidade — pelo menos, ainda não.

Como é a clonagem

De acordo com o Clarín, todo o valor do investimento é devolvido caso a clonagem não dê certo. O processo entre a coleta da amostra e o recebimento do clone em casa demora, em geral, entre três e seis meses. Os animais gerados a partir do procedimento deixam a empresa com 8 semanas de vida.

Os especialistas envolvidos explicaram ao jornal argentino que o procedimento é o mesmo que gerou o clone da ovelha Dolly, o primeiro mamífero clonado, em 1997. O procedimento inclui a extração do núcleo de cada óvulo doado, que é esvaziado do próprio DNA. Nesse espaço, são inseridas células com o DNA do animal a ser clonado.

— Com um choque elétrico, estimula-se a formação do embrião a partir de uma única célula que começa a se multiplicar imediatamente — disse ao Clarín Raymond Page, diretor do laboratório PerPETuate, em Massachusetts. — Sim, Conan é milagroso. Em média, você obtém um ou dois clones. Não cinco. E muitas pessoas com quem conversei que clonaram me disseram que seus cães têm uma personalidade muito parecida com os originais.


Fonte: O GLOBO