Além do vereador carioca, os outros dois filhos do ex-presidente também se viram envolvidos em escândalos com a agência de inteligência

O vereador Carlos Bolsonaro é alvo, nesta segunda-feira, de uma operação da Polícia Federal que apura indícios de um esquema de espionagem ilegal na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro. Outros dois filhos do ex-presidente, Jair Renan e Flávio Bolsonaro, já se viram envolvidos em escândalos por conta de suspeitas relacionadas à atuação da Abin.

Nesta segunda-feira, a Polícia Federal realiza uma operação contra o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, o vereador Carlos Bolsonaro, para investigar o esquema ilegal. Ele é suspeito de ter sido um dos destinatários das informações levantadas de forma clandestina através do programa espião FirstMile.

A PF apura se a Abin montou uma operação paralela para tentar tirar Jair Renan Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), da mira de uma investigação envolvendo suspeitas de tráfico de influência no governo, segundo informou O GLOBO na última quinta-feira . Posteriormente, a apuração foi arquivada.

Na ocasião, a PF já havia apontado que uma ação da Abin havia atrapalhado as investigações envolvendo o filho 04 de Bolsonaro. Mas agora os policiais encontraram elementos que indicam como motivação uma tentativa de livrar o filho do presidente das suspeitas que recaíam sobre ele — e de incriminar o ex-parceiro comercial de Jair Renan.

À época, o filho de Bolsonaro abriu um escritório no estádio Mané Garrincha, em Brasília, e passou a atuar em parceria com o seu ex-personal trainer, Allan Lucena, para angariar patrocinadores dispostos a investir no novo negócio do filho do presidente.

A PF passou a investigar o caso após a revista VEJA revelar que Jair Renan e Lucena intermediaram uma reunião de empresários com integrantes do governo Bolsonaro. O inquérito foi arquivado em agosto de 2022.

Durante a investigação da PF naquela época, a Abin passou a seguir os passos do ex-personal de Jair Renan. A ação de espionagem foi flagrada pela Polícia Militar do Distrito Federal, que abordou um integrante da Abin dentro do estacionamento do ex-sócio do filho do presidente.

Ao prestar esclarecimentos na PF, o agente da Abin informou que recebeu a missão de um auxiliar de Ramagem de levantar informações sobre um carro elétrico, avaliado em R$ 90 mil, que teria sido doado ao filho do ex-presidente e ao seu personal trainer. O veículo foi dado por um empresário do Espírito Santo que estava interessado em ter acesso ao governo.

Segundo o relatório da Polícia Federal, existia a determinação de que as ações realizadas pelos oficiais da Abin não deixassem rastros.

"As ações de "inteligência" realizadas não deveriam deixar rastros razão pela qual a então alta gestão decidiu que não haveria difusão do relatório, ao tempo diligência solicitada pelo GSI/PLANALTO diretamente para Direção Geral da ABIN. Noutros termos, o presente evento corrobora a instrumentalização da ABIN para proveito pessoal. Neste caso o intento era fazer prova em beneficio ao investigado Renan Bolsonaro", afirmaram os investigadores no documento entregue ao ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Ramagem, nome do PL para a disputa da Prefeitura do Rio de Janeiro, é figura próxima de Bolsonaro e era um dos homens de confiança do então presidente. Em agosto de 2022, o GLOBO revelou que a PF informou em um relatório que o órgão de inteligência sob a gestão Ramagem atrapalhou o andamento da investigação envolvendo Jair Renan.

Flávio Bolsonaro

O caso de Jair Renan não foi a primeira vez em que a agência foi relacionada com investigações do interesse dos filhos do presidente. Também durante a gestão de Ramagem, em 2020, a Abin participou de uma reunião no Palácio do Planalto sobre o caso das "rachadinhas" com a defesa do senador Flávio Bolsonaro.

Em dezembro daquele ano, a advogada de Flávio disse à revista ÉPOCA que tinha recebido relatórios de inteligência diretamente de Ramagem sobre o caso. A Abin negou, na ocasião, que os documentos eram oficiais, mas admitiu que houve a reunião com a defesa do filho do presidente. Em entrevista ao GLOBO em 2022, o sucessor de Ramagem na chefia da Abin, Victor Felismino Carneiro, disse que o encontro "foi uma consulta".

Em nota, o senador disse ser "mentira" que a Abin tenho o favorecido e classificou o caso como " tentativa de criar falsas narrativas para atacar o sobrenome Bolsonaro".

"É mentira que a Abin tenha me favorecido de alguma forma, em qualquer situação, durante meus 42 anos de vida. Isso é um completo absurdo e mais uma tentativa de criar falsas narrativas para atacar o sobrenome Bolsonaro. Minha vida foi virada do avesso por quase cinco anos e nada foi encontrado, sendo a investigação arquivada pelos tribunais superiores com teses tão somente jurídicas, conforme amplamente divulgado pela grande mídia", diz nota enviada por meio da assessoria de Flávio.


Fonte: O GLOBO