Varejista suspende processo de alienação da Uni.co, dona da da marca, afirmando que ofertas não refletiam valor real. Segundo fontes, falta de dados financeiros leva interessados a pedirem reduções de até 40%

A Americanas, que na noite de terça-feira suspendeu o processo de venda da Uni.co, dona das marcas Puket, Imaginarium e Lovebrand, vem enfrentando dificuldade também para avançar nas negociações da Hortifruti Natural da Terra. A rede, de venda de legumes e verduras frescos, conta com mais de 70 lojas em São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Embora fontes do mercado afirmem que a negociação do Hortifruti segue em um ritmo considerado normal, executivos a par do processo lembram que a venda vem esbarrando em uma série de dificuldades, já que alguns dos interessados têm exigido menor preço e mais garantias contra os credores da varejista.

Por outro lado, a Americanas deve retomar e acelerar as negociações da venda dos ativos entre o fim deste ano e início do ano que vem. A ideia é publicar o balanço financeiro do ano passado até o fim deste mês e, em seguida, marcar a assembleia de credores, ainda sem data.

Uma fonte lembra que, como a companhia ainda não publicou seu balanço financeiro auditado com o real rombo por conta das supostas fraudes contábeis, os investidores estão aplicando descontos no valor financeiro do ativo. Um deles chegou a ressaltar que o nível de incerteza tem gerado descontos superiores a 40%.

De acordo com uma fonte, que aponta um cenário complexo, “sem os números financeiros fechados, a venda fica prejudicada, e os credores podem questionar o negócio.”

Necessidade de recursos

Ao comunicar a suspensão do processo de venda, a Americanas afirmou que “as condições comerciais propostas não refletem o real valor” da Uni.co. A varejista informou ainda que vai avaliar a retomada das conversações no futuro. “A companhia se reserva o direito de responder a potenciais interessados e engajar em conversas que busquem condições mais atrativas que as indicadas e irá avaliar a possibilidade de retomar o processo.”

Por enquanto, segundo fontes, o processo de venda do Hortifruti segue normal. Uma fonte lembrou que a companhia precisa de parte da venda de ativos para conseguir recursos para a aprovação do plano de recuperação judicial. A Americanas estima receber de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões por Hortifruti, Uni.Co e um jato executivo 2014 da Embraer, modelo BEM-505, dizem as fontes.

O valor da venda desses ativos, embora pequeno em relação à dívida da companhia — que supera os R$ 40 bilhões —, faz parte do plano de recuperação judicial, que prevê ainda aporte dos acionistas de referência.

Em agosto, a varejista chegou a um acordo com a Vibra (antiga BR) para desfazer a joint venture nas lojas de conveniência. Com isso, a rede de lojas Local voltou para a Americanas, e a BR Mania, para a Vibra. Uma fonte ressaltou que isso retira também parte de um futuro possível ganho com a venda do ativo, já que a Vibra já desfez a parceria.

Nos últimos meses, a Americanas, seus acionistas de referência, ex-diretores da varejista e o Bradesco tiveram um embate judicial em torno de quem seria o responsável pelo rombo que detonou a crise da empresa. Na Justiça, houve troca de farpas e divulgação de documentos que revelam trocas de mensagens de antigos executivos da Americanas.

A CPI criada para discutir o caso foi encerrada na semana passada, com a aprovação do relatório do deputado Carlos Chiodini (MDB-SC) que isentou de culpa ex-diretores e acionistas de referência. Foram 18 votos a favor e oito contra.


Fonte: O GLOBO