Pontífice também declarou que governos 'não têm nada a temer' diante da Igreja, em fala interpretada como recado a Pequim
O Papa Francisco fez um alerta, neste sábado, sobre os riscos provocados pela destruição do meio ambiente e pela corrupção durante a visita à Mongólia. Em sua primeira viagem ao país asiático, Francisco também declarou que governos “não têm nada a temer” em relação à evangelização da Igreja que "não tem uma agenda política" — uma fala interpretada pela imprensa internacional como um recado à vizinha China.
No primeiro ato público desde a chegada à capital Ulaanbaatar na sexta-feira, o Papa argentino de 86 anos foi recebido em uma cerimônia oficial pela guarda de honra na Praça Sukhbaatar, nomeada em homenagem a um herói revolucionário mongol. O presidente Ukhnaa Khurelsukh, vestido com uma túnica tradicional, recebeu o Pontífice diante de uma enorme estátua de bronze de Gengis Khan, o fundador do império mongol.
Após a cerimônia, Francisco se reuniu no Palácio Estatal com várias autoridades do país, incluindo o presidente. O Papa elogiou os pecuaristas e agricultores do país "que respeitam os delicados equilíbrios do ecossistema" e afirmou que sua tradição de viver em harmonia com a natureza "pode contribuir significativamente para os esforços urgentes e inadiáveis para proteger e preservar o planeta".
O Pontífice também fez um alerta sobre os perigos da corrupção no país, abalado no ano passado por manifestações contra um escândalo de desvio de verbas vinculado à indústria do carvão.O Santo Padre disse que as religiões podem "representar uma salvaguarda diante a insidiosa ameaça da corrupção, que representa um grave perigo para o desenvolvimento de qualquer comunidade humana, fruto de uma mentalidade sem escrúpulos e utilitária que empobreceu países inteiros".
Com a visita ao país localizado entre Rússia, ao norte, e China, ao sul, Francisco procura apoiar a pequena comunidade católica local, com apenas 1.400 fiéis e, principalmente, melhorar as relações da Igreja com as duas potências da região. A Mongólia, outrora parte do vasto império fundado por Genghis Khan no século XIII, depende agora da Rússia para obter energia e da China para matérias-primas.
Durante a tarde, o Papa falou com os fiéis na Catedral de São Pedro e São Paulo. Durante a fala, Francisco disse que os governos “não têm nada a temer” diante do trabalho de evangelização da Igreja, um discurso percebido por muitos como um recado a Pequim.
— Os governos não têm nada a temer do trabalho de evangelização da Igreja porque não tem uma agenda política — disse o Pontífice.
Após o discurso do Papa, um fiel chinês disse à AFP que não gostaria de falar sobre as declarações por temer "problemas" ao retornar ao país.Outra peregrina chinesa afirmou que ver o papa "é como ver Jesus".
— Muitos católicos na China gostariam de ter vindo, mas não conseguiram. Nos sentimos abençoados — declarou.
O Papa Francisco se protege do sol após participar de um encontro com bispos, padres, missionários, consagrados e agentes de pastoral na Catedral dos Santos Pedro e Paulo, em Ulaanbaatar, na Mongólia — Foto: edro PARDO / AFP
Visita estratégica
Esta é a segunda visita de Francisco à Ásia Central no período de um ano, depois da viagem ao Cazaquistão em setembro de 2022, o que ressalta a importância geopolítica da região. Durante o voo de nove horas até a Mongólia, Francisco enviou um telegrama com "orações" e "bons desejos" ao presidente chinês, Xi Jinping, informou o Vaticano, seguindo a tradição de mandar agradecimentos aos países sobrevoados pelo avião papal.
"Assegurando as minhas orações pelo bem-estar da nação, invoco sobre você todas as bênçãos divinas de unidade e paz", afirmou na mensagem.
Questionado durante o voo se o trabalho diplomático é complexo, o Papa respondeu que "sim, vocês não sabem até que ponto é difícil. Às vezes é preciso ter senso de humor".
Pequim respondeu à mensagem do Pontífice e afirmou, por meio do porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, que deseja "reforçar a confiança mútua" com o Vaticano e promover "um processo de melhoria das relações bilaterais".
China e Vaticano não mantêm relações diplomáticas. O Partido Comunista da China é oficialmente ateu e exerce controle severo sobre as organizações religiosas, o que inclui a revisão dos sermões e a seleção dos bispos.
Ainda na Mongólia, neste domingo, Francisco fará um discurso durante uma reunião inter-religiosa da qual o chefe da Igreja Ortodoxa Russa em Ulaanbaatar deverá participar. Depois o pontífice celebrará uma missa num campo de hóquei no gelo. A visita termina na segunda-feira.
Fonte: O GLOBO
0 Comentários