Ofício da Prefeitura de Bento Gonçalves serviu como base para alegações falsas sobre barragens, desmetidas por empresa responsável e autoridades; gestor da cidade afirma que apenas busca informações
A fala teve como base um ofício da Prefeitura de Bento Gonçalves (RS), que é comandada por Diogo Segabinazzi Siqueira (PSDB), e passou a ser usado pela oposição ao governo federal para levantar suspeitas sobre o que motivou a alta no volume do rio das Antas.
Por meio do documento, a prefeitura pediu em 7 de setembro à Companhia Energética Rio das Antas (Ceran), concessionária responsável pelo Complexo Energético Rio das Antas, informações sobre o funcionamento das barragens, inclusive sobre a “abertura das comportas”.
Por meio do documento, a prefeitura pediu em 7 de setembro à Companhia Energética Rio das Antas (Ceran), concessionária responsável pelo Complexo Energético Rio das Antas, informações sobre o funcionamento das barragens, inclusive sobre a “abertura das comportas”.
Não há, porém, comportas nas três barragens que compõem o complexo, segundo a empresa e órgãos competentes, nem indícios de que elas tiveram influência na enchente.
A Ceran respondeu que as barragens não têm capacidade de armazenamento e não têm controle sobre a vazão natural do rio Taquari. O excedente de água passa por cima dessas estruturas. A informação foi reforçada ainda pela Secretaria de Meio Ambiente do estado, que aponta em nota o evento climático como causa da enchente e não vê qualquer relação com as barragens.
Uma nota da Ceran com o esclarecimento já havia sido divulgada em seu site quatro dias antes de a prefeitura encaminhar o ofício. No último dia 8, Diogo Segabinazzi Siqueira, prefeito de Bento Gonçalves, publicou um vídeo em suas redes sociais em que anuncia ter cobrado informações à Ceran e ao governo federal, que fez a concessão.
— A gente quer saber se essa água foi liberada de uma hora para outra, se as pessoas que moram na beira do rio foram informadas sobre o que estava acontecendo — disse o prefeito no vídeo.
Mensagens com tom conspiracionista publicadas no WhatsApp foram localizadas pelo GLOBO na base de dados da Palver, empresa que monitora mais de 25 mil grupos no aplicativo. Um mesmo texto, compartilhado como “corrente” ao menos desde 7 de setembro por telefones com DDDs do Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraíba, enfatiza que as barragens foram construídas na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), citada de forma pejorativa, associa as obras a corrupção e questiona a existência do aquecimento global.
A mensagem é apresentada como sendo de “uma colega e amiga de Bento Gonçalves” e fala em tragédia anunciada. “As águas chegaram em cascatas acumuladas e muito rápido”, diz um trecho.
Prefeito diz que apenas fez questionamentos
Ao GLOBO, Diogo Siqueira afirma que a prefeitura enviou ofício à empresa porque a “enchente não foi normal", mas uma tragédia que deixou mais de 40 mortos e varreu 115 casas na cidade. Ele nega que tenha alimentado desinformação.
A Ceran respondeu que as barragens não têm capacidade de armazenamento e não têm controle sobre a vazão natural do rio Taquari. O excedente de água passa por cima dessas estruturas. A informação foi reforçada ainda pela Secretaria de Meio Ambiente do estado, que aponta em nota o evento climático como causa da enchente e não vê qualquer relação com as barragens.
Uma nota da Ceran com o esclarecimento já havia sido divulgada em seu site quatro dias antes de a prefeitura encaminhar o ofício. No último dia 8, Diogo Segabinazzi Siqueira, prefeito de Bento Gonçalves, publicou um vídeo em suas redes sociais em que anuncia ter cobrado informações à Ceran e ao governo federal, que fez a concessão.
— A gente quer saber se essa água foi liberada de uma hora para outra, se as pessoas que moram na beira do rio foram informadas sobre o que estava acontecendo — disse o prefeito no vídeo.
Mensagens com tom conspiracionista publicadas no WhatsApp foram localizadas pelo GLOBO na base de dados da Palver, empresa que monitora mais de 25 mil grupos no aplicativo. Um mesmo texto, compartilhado como “corrente” ao menos desde 7 de setembro por telefones com DDDs do Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraíba, enfatiza que as barragens foram construídas na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), citada de forma pejorativa, associa as obras a corrupção e questiona a existência do aquecimento global.
A mensagem é apresentada como sendo de “uma colega e amiga de Bento Gonçalves” e fala em tragédia anunciada. “As águas chegaram em cascatas acumuladas e muito rápido”, diz um trecho.
Prefeito diz que apenas fez questionamentos
Ao GLOBO, Diogo Siqueira afirma que a prefeitura enviou ofício à empresa porque a “enchente não foi normal", mas uma tragédia que deixou mais de 40 mortos e varreu 115 casas na cidade. Ele nega que tenha alimentado desinformação.
Ao ser questionado sobre a informação de que as barragens não possuem comportas, ele argumenta que, como prefeito, tem direito de questionar a concessionária e o governo federal e de pedir informações sobre o funcionamento do complexo. Seu objetivo, enfatiza, é evitar uma tragédia semelhante. Ele rechaça politização no caso.
— Houve uma enchente, um nível recorde de água, mas mesmo assim preciso fazer todos os questionamentos. Se acontecer uma enchente de novo, fui buscar uma informação a mais? É proibido questionar no Brasil? Preciso ter toda informação possível. — defendeu. — Não estou afirmando nada, estou fazendo perguntas, estou procurando ferramentas para evitar que aconteça de novo. Se alguém utilizar essa informação de uma maneira diferente, não sou eu que estou fazendo.
Já Waldemar de Carli (MDB), prefeito de Veranópolis (RS), também na região, tem a opinião de que não houve influência das barragens.
— A princípio, nós aqui da prefeitura de Veranópolis, acreditamos que elas não exerceram nenhuma atividade maléfica em cima desse desastre hídrico, nesse episódio isolado. O problema foi o grande volume de água, 20 vezes superior ao máximo já medido.
— Houve uma enchente, um nível recorde de água, mas mesmo assim preciso fazer todos os questionamentos. Se acontecer uma enchente de novo, fui buscar uma informação a mais? É proibido questionar no Brasil? Preciso ter toda informação possível. — defendeu. — Não estou afirmando nada, estou fazendo perguntas, estou procurando ferramentas para evitar que aconteça de novo. Se alguém utilizar essa informação de uma maneira diferente, não sou eu que estou fazendo.
Já Waldemar de Carli (MDB), prefeito de Veranópolis (RS), também na região, tem a opinião de que não houve influência das barragens.
— A princípio, nós aqui da prefeitura de Veranópolis, acreditamos que elas não exerceram nenhuma atividade maléfica em cima desse desastre hídrico, nesse episódio isolado. O problema foi o grande volume de água, 20 vezes superior ao máximo já medido.
Jornalista Alexandre Garcia em novo vídeo sobre o tema — Foto: Reprodução
No último dia 8, um dia após o ofício ser enviado pela prefeitura da cidade gaúcha, o jornalista Alexandre Garcia mencionou a tragédia na região durante o programa Oeste Sem Filtro e enfatizou que as obras das barragens foram feitas durante a gestão petista no governo federal. Um vídeo com a fala de Alexandre Garcia também foi compartilhado pelo deputado Giovani Cherini (PL-RS).
— É preciso investigar, que não foi só a chuva, a chuva foi a causa original, mas em governo petista (...) foram construídas três represas pequenas que aparentemente abriram as comportas ao mesmo tempo — afirmou.
No último domingo, o advogado-geral da União, Jorge Messias, anunciou que pediria a instauração de investigação contra o jornalista por promover uma "campanha de desinformação". Após o episódio, Alexandre Garcia divulgou um novo vídeo na segunda-feira em que afirma que, naquele momento, apenas dispunha de notícias com o pedido de informações da prefeitura de Bento Gonçalves e que sua fala somente faz referência à necessidade de uma investigação.
No último dia 10, o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) também associou em uma postagem as barragens a riscos de enchentes na região do Vale Taquari. O parlamentar, porém, não fez qualquer menção ao governo federal ou ao PT.
Nota da Secretaria de Meio Ambiente:
"A fiscalização e relatório de barragens para geração de energia são exclusivos da Aneel. Todavia, em caso de emergência de rompimento ou avarias, a Fepam e a Defesa Civil são acionadas, conforme previsto no Plano de Ação de Emergência, sendo esses atos exclusivo para riscos apresentados na estrutura da barragem, não tendo relação direta com a vazão. No caso da barragem UHE Castro Alves da CERAN, atingida pelo evento climático, não há evidências de que a barragens tenha influenciado no agravamento da enxurrada."
Nota da Ceran:
"Na última segunda-feira, 04 de setembro, o Rio das Antas atingiu a vazão mais alta desde a construção das usinas e uma das maiores vazões que se tem registro, tratando-se de um desastre natural de grandes proporções. Infelizmente, as barragens não conseguem reduzir altas afluências e mitigar os impactos no entorno do rio, pois as barragens da Ceran possuem vertedouro do tipo soleira livre e tem a característica “a fio d’água”, ou seja, não tem capacidade de armazenamento e nem de regular o fluxo do rio, pois todo o excedente de água passa por cima da barragem.
Durante as cheias monitoramos em tempo real todas as estruturas, que em nenhum momento, apresentaram anomalias que indicassem risco de rompimento, o que não levou ao acionamento das sirenes de emergência. Reforçamos que todos os protocolos de segurança de barragem foram cumpridos durante o evento, incluindo as comunicações com as Defesas Civis dos municípios, que atuaram junto à população.
A Ceran segue trabalhando para fornecer todas os esclarecimentos ao poder público, de forma a dar a transparência e tranquilidade de que todas as obrigações e responsabilidades foram cumpridas."
Fonte: O GLOBO
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