Endereço, ligado à rede privada, será capaz de realizar biópsias no sangue e novo estudo visual de células tumorais

Um novo laboratório de biologia molecular — focado principalmente nos pacientes com câncer — será inaugurado em São Paulo neste mês. O empreendimento, cuja instalação custou R$ 80 milhões, é comandado pela Rede D’Or (de hospitais particulares) e mais o Instituto de Pesquisa e Ensino D’Or, do mesmo grupo. 

Em resumo, o local centralizará todas as análises celulares e genéticas ligadas a quadros de pacientes oncológicos atendidos pela rede nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia e no Distrito Federal.

O lugar fará, por exemplo, a chamada biópsia líquida, capaz de identificar traços mínimos de células cancerosas no sangue e um trunfo para identificar o retorno ou a persistência da doença em pacientes já tratados. 

Esse tipo de estudo, em geral, é feito por laboratórios internacionais, o que pode prolongar o prazo de chegada do resultado às mãos do especialista brasileiro em até um mês. Com a possibilidade de realizar a análise no Brasil, esse tempo cai por pelo menos a metade. O custo de realização também deve cair entre 20% e 25%.

— Considerando o câncer de cólon, por exemplo, sabemos que no estágio três é preciso fazer cirurgia (de retirada do tumor) e mais a quimioterapia para tratar. Já no estágio um basta a operação. No estágio dois havia dúvida de quais pacientes precisavam do tratamento com químio ou não. Hoje sabemos que se fizermos esse exame e não houver doença residual mínima identificada, a químio não é necessaria — explica Paulo Hoff, presidente da Oncologia D’Or e pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino.

O novo laboratório, dizem os especialistas envolvidos, pode trazer respostas para tumores que ainda desafiam amplamente os especialistas e pacientes, caso do câncer de pâncreas, conhecido por sua severidade e resistência.

— O câncer de pulmão era tão difícil de tratar quanto o de pâncreas, mas fomos dividindo (pelas características de cada tumor) e conseguindo tratar. No pâncreas, conhecemos dois grupos de alteração molecular específica e eles correspondem a 10% dos pacientes — afirma Hoff. — Há alguns pacientes, porém, que são exceção, que tinham casos de metástase e curaram. 

Talvez seja possível fazer o caminho reverso e olhar o que esses pacientes têm em comum (para reagir tão bem ao tratamento). Por meio de um protocolo, poderemos estudar o paciente. Será possível olhar a doença por muitos ângulos.

Biologia espacial

Muitos dos exames de ponta presentes no laboratório também são realizados por outras instituições no Brasil. Cabe, portanto, como grande novidade o laboratório de biologia espacial que permitirá um estudo visual do agrupamento de células em um tecido com tumor. Por meio dessa pesquisa, será viável criar um mapa colorido para identificar características da composição daquele tecido e indicar novos tratamentos.

— É uma ferramenta de medicina de precisão. Conseguiremos identificar quais células estão presentes naquele tumor e qual sua distância uma das outras — diz Fernando Soares, diretor médico da Anatomia Patológica da Rede D’Or e membro do comitê de classificação de tumores da Organização Mundial de Saúde.— Será possível enxergar, por meio de cores diferentes, como células distintas se relacionam.


Fonte: O GLOBO