Embora não haja relação direta com atual onda de calor, El Niño e aquecimento global sinalizam possibilidade de novos marcos históricos de temperatura no verão

Se o inverno está assim, imagina o verão? Com a onda de calor que afeta boa parte do país, é natural que a pergunta surja. Mas não existe uma relação direta entre uma coisa e outra. A atual onda de calor tem influência de vários fatores, alguns comuns ao inverno, como o tempo seco e a ausência de chuvas, além de fatores atípicos, como o El Niño e o aquecimento global. Mas ainda é cedo para prever se o próximo verão, que começa em 22 de dezembro, será ainda mais quente que o anterior.

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A baixa umidade do ar e a falta de chuvas favorecem que boa parte da energia que chega do sol se transforme em calor. Mas o verão, é bom lembrar, é um período chuvoso. Isso significa que, enquanto o clima estiver seco, os termômetros seguirão nessa escalada de temperatura interrompida por uma ou outra frente fria, que têm sido menos frequente por conta do fenômeno do El Niño. Mas, quando a temporada de chuvas de verão chegar, a tendência é que haja uma arrefecida nesse processo.

— O fluido, que é a atmosfera, se movimenta sempre no sentido de buscar redistribuir a energia e o calor. Então, onde começa a ficar muito quente, um dos processos da atmosfera é gerar pancadas de chuvas, para resfriar. É como jogar água na chapa quente — explica Giovanni Dolif, coordenador de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

Não é raro, afirma ele, haver a partir de outubro uma sequência de dias mais amenos, justamente pela chegada das chuvas. O tempo esquenta, vem a temporada de chuvas, e assim segue o verão. Embora temperaturas elevadas sejam sempre esperadas para essa estação, não há ainda informações que indiquem novos recordes de calor. Por outro lado, os mesmos fatores atípicos que influenciam no disparo dos termômetros podem, sim, seguir pesando até o verão:

— O El Niño deve continuar contribuindo para que fique quente, assim como o aquecimento global. O que não conseguimos, ainda, é prever com precisão quão quente ficará no verão. Mas, olhando um planeta mais aquecido e o El Niño em andamento, com pico no fim do ano, há mais argumentos a favor de ser um verão mais quente do que ameno.

A previsão, acrescenta Dolif, indica uma variabildade intra-sazonal, com dias com menos chuvas, em que a temperatura sobe, e de mais chuva, com temperaturas mais amenas no verão.

— Geralmente, há picos de calor entre o fim de janeiro e o começo de fevereiro, e aí poderia haver marcos históricos. O cenário do El Niño nos sinaliza uma possibilidade de anomalias de temperaturas positivas acima da média — conclui o especialista.


Fonte: O GLOBO