Lançado em janeiro de 2007, no segundo governo Lula, PAC retomou grandes projetos, alguns dos anos 1980. E também trouxe novos, como refinarias da Petrobras

Lançado em janeiro de 2007, logo no início do segundo governo Lula, a primeira versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) marcou a retomada dos grandiosos projetos de infraestrutura, remontando ao imaginário do governo Juscelino Kubitschek, nos anos 1950, e do período do “milagre econômico”, nos governos militares, entre as décadas de 1960 e 1970.

Quais são as obras do PAC?

Alguns dos projetos retomados pelo PAC datavam da passagem da ditadura militar para o governo José Sarney, como a Ferrovia Norte-Sul. A segunda fase do PAC veio em março de 2010, dando continuidade ao estilo do governo de Lula. Vários projetos acabaram envolvidos em polêmicas, alguns deles sendo alvo de investigação da Lava-Jato.

Quando será lançado o novo PAC do governo federal?

Lula lança na manhã desta sexta-feira o Novo PAC, terceira etapa do programa, com expectativa de investimento de R$ 1 trilhão. Veja abaixo que fim levaram obras emblemáticas dos PACs 1 e 2.

Belo Monte

Usina de Belo Monte é a segunda maior do Brasil, com capacidade para 11.233 megawatts — Foto: Agência O Globo

Maior usina hidrelétrica construída no país desde Itaipu, Belo Monte consumiu R$ 43,3 bilhões em investimentos até o fim de 2019, conforme relatório anual da Norte Energia, operadora do empreendimento. O empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), de R$ 23,4 bilhões, é o maior já concedido pelo banco de fomento para um único projeto.

Apesar do investimento bilionário, a usina é criticada por seus impactos sociais, como na segurança pública, e ambientais. Sem reservatório, Belo Monte tem capacidade de 11,2 gigawatts (GW), mas a quantidade média de geração é de 4,6 GW.

Transposição do São Francisco

Ex-presidente Jair Bolsonaro participa de inauguração de trecho do canal de transposição do Rio São Francisco, em 2020 — Foto: Alan Santos/PR

Projeto idealizado desde a época do Império para levar, via canais, a água do principal rio do Nordeste para as áreas mais áridas da região, foi destaque na primeira edição do PAC, lançada em 2007. As obras foram iniciadas em 2008, com um orçamento de R$ 4,5 bilhões, mas passaram por atrasos e modificações ao longo dos anos.

Inicialmente com mais de 720 quilômetros de canais, o projeto foi reduzido para 477 quilômetros, após uma renegociação de contratos no governo Dilma Rousseff.

As obras se estenderam até o governo Jair Bolsonaro que, de olho em dividendos eleitorais, passou a disputar a paternalidade do projeto – alegando que apenas em seu governo foi investido o necessário para a conclusão. O assunto entrou na campanha presidencial de 2022.

Ferrovia Norte-Sul

Trecho da Ferrovia Norte-Sul — Foto: Tina Coêlho/Terra Imagem

A ligação por trilhos entre os portos de Santos (SP) e Itaqui (MA), considerado um importante corredor logístico para o escoamento de produção nacional de grãos e minério, é outro projeto dos anos 1980 que foi retomado por causa do PAC. E também envolto em polêmicas, com suspeitas de corrupção.

A Ferrovia Norte-Sul foi finalmente concluída este ano, após a operadora Rumo terminar um último trecho. A inauguração foi em junho. A Rumo conquistou a concessão desse trecho em 2019, no governo Bolsonaro. O trajeto completo é formado por quatro concessões, operadas pela Rumo, do grupo Cosan, e pela mineradora Vale.

Comperj

Obra inacabada do antigo Comperj em Itaboraí, Região Metropolitana do Rio de Janeiro — Foto: Divulgação

Quando o primeiro PAC foi lançado, no início do segundo mandato do presidente Lula, em janeiro de 2007, o ambicioso plano de investimentos da Petrobras previa a retomada da construção de refinarias, algo que não era feito desde a década de 1980. Esses projetos foram incluídos no PAC.

Mas essas unidades acabaram se tornando o centro das investigações da Operação Lava Jato – o ex-diretor Paulo Roberto Costa, um dos primeiros alvos e delator da investigação, cuidava justamente da construção das refinarias. As obras começaram, mas ainda não terminaram.

Uma das refinarias previstas era o Comperj, em Itaboraí (RJ). Em 2015, um documento interno da Petrobras estimou um prejuízo de US$ 14,3 bilhões só com essa refinaria, incluindo investimentos feitos.

Com a mudança na gestão da estatal, a partir de 2016, o projeto foi deixado de lado e, depois, convertido em algo menos ambicioso: uma unidade de processamento do gás natural extraído de campos do pré-sal, rebatizada como Gaslub.

Mesmo as obras dessa unidade foram atrasadas. Em abril, a nova gestão da Petrobras, já sob o atual governo Lula, anunciou que estuda mudar novamente o escopo do projeto.

Refinaria Abreu e Lima

A Refinaria de Abreu e Lima (Rnest), da Petrobras, fica em Pernambuco — Foto: Agência O Globo

Outro projeto de construção de refinaria do ambicioso plano de investimentos da Petrobras que entrou nas edições anteriores do PAC foi a Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco.

Essa refinaria chamava a atenção pelo caráter geopolítico do projeto – inicialmente, a unidade seria construída em parceria com a PDVSA, a petrolífera venezuelana. O aporte do país vizinho nunca chegou, e a refinaria custou bilhões de dólares a Petrobras.

Assim como o Comperj, as obras foram incluídas nas investigações da Operação Lava Jato. Tanto que apenas uma das linhas de produção previstas ficou pronta, no fim de 2014. Este ano, já na nova gestão da Petrobras sob o novo governo Lula, foi anunciada a intenção de construir a segunda linha de produção.


Fonte: O GLOBO